06 junho, 2010

Regionalização da culpa

Chegou a mim uma imagem com uma temática que já tenho vindo a pensar em escrevinhar por aqui há bastante tempo mas que, por falta de oportunidade, nunca me cheguei à frente. Hoje não escapa. Os dados referem-se a 2005:


Comecemos pelo início.

Quando se diz que o Norte trabalha para que o Sul descanse à sombra da bananeira, apreciando e abusando da riqueza produzida pelos primeiros, essas acepções resultam normalmente em riso ou incredulidades de variada índole. Afinal de contas, como pode o Norte ser o motor da riqueza e, ao mesmo tempo, as estatísticas oficiais mostrarem o oposto? Seria curioso entrar por aí - e certamente o farei a breve trecho - mas fiquemo-nos para já pelo tema quente da actualidade: a dívida nacional. Analisarei a questão do PIB e afins num outro dia.

Já expliquei variadas vezes que o nosso problema não é a dívida pública, mas a dívida privada. Ao lado dos 120milM que o Sector Público deve, há ainda 260milM oriundos das famílias e empresas por aí espalhadas. A questão central é: onde andam elas espalhadas? Será que veremos, mais uma vez, centralismo? Será que até na dívida há centralismo?

Segundo o Boletim de Abril do Banco de Portugal (Maio só sairá daqui a uns dias, mas não constituirá surpresa), a resposta é positiva: o distrito de Lisboa tem uma dívida privada (109 mil milhões) que representa 42,7% dos 255 mil milhões que os privados devem ao exterior. Em segundo, vem o Porto com apenas 15%, seguido de Setúbal e Braga com 5% cada. Atente-se: mesmo com as populações mal distribuídas (facto bem sabido), a desproporção na responsabilidade da dívida é absolutamente pornográfica, sendo ainda mais desigual e injusta do que as injustiças que já todos conhecemos.

Repare-se que aqui não falamos de dívida pública. É que, muito embora os investimentos públicos sejam quase todos sulistas, ainda nem toquei nesta análise que faria descambar ainda mais a lógica desnivelada do crédito.

Falemos agora do défice comercial - isto é, a diferença negativa existente entre aquilo que anualmente importamos face ao que anualmente exportamos. Lisboa representa 80% deste défice. 80%. 4 em cada 5 euros de défice comercial é provocado por Lisboa. Imagine-se o que seria se Lisboa deixasse de adquirir uma pequena parte do que importa: era imediatamente visível um aumento de um par de pontos percentuais no crescimento económico nacional.

O Norte virou-se para o exterior porque Lisboa o rejeitou e o abandonou desde cedo. Virou-se por necessidade, porque tinha de se desenmerdar e porque é composto por gente com garra, empenho e capacidade de trabalho. O Norte representa hoje 50% das exportações nacionais (já foram 2/3 há poucos anos) e ainda assim tem de trabalhar duplamente para compensar os desvairios e vícios da capital do império da treta. Ou seja, anda o Norte a trabalhar, a suar e a esforçar-se para que os seus impostos e os seus rendimentos gerados pela exportação sirvam para financiar luxos desproporcionais da capital, ano após ano. Lisboa vira as costas para o Norte na altura de o apoiar e desenvolver, mas vem sempre com a mão firme para apanhar os rendimentos que lhe suportam a boa vida. É um país a dois pesos e a duas velocidades. Não admira que já se fale em guerra civil.

A minha ideia (e proposta) era autonomizar as regiões portuguesas. Só era preciso um ano (e não mais) para que Lisboa se afundasse repentinamente e se tornasse um protectorado do FMI, tendo de desvalorizar salários para metade para readquirir a competitividade que não tem e reformular completamente o seu estilo de vida. Não é que eu odeie os lisboetas; só acho é que as pessoas precisam de aprender.
 
[de Luís Oliveira, blogue: Tragédias Comuns]

5 comentários:

  1. Portuense em Lisboa (20 anos cá)07/06/10, 15:14

    Se o amigo Valente quer ser sério e coerente saiba que Lisboa e Vale do Tejo representam 55% de receita apurada do IRC nacional contra 13% do Grande Porto e que o IRS representa 38,5% contra 15,8% respectivamente. Saiba ainda que os encargos sociais do Estado representam 65% a norte do Mondego (dados do INT). Se queremos continuar na demagogia, tudo bem, então recuso-me a comparticipar mais os gastos do Estado com o Porto e Norte. Acha justo?

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  2. Se começa por falar da minha seriedade e da minha coerência,sem me conhecer de lado nenhum, eu começo também por duvidar de TUDO que aqui diz, e termino mandando-o pregar para outra freguesia.

    Gostou? Espero que sim

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  3. Esse Lisboeta que se diz Portuense (talvez para nos envergonhar) deve um pouco à inteligência ou então tem um enorme crédito na demagogia.
    Como é que alguém pode falar em PIB de Lisboa quando as sedes da grandes empresas de origem pública, como é o caso da PT, EDP e caixa geral de depósitos declaram na capital os seus rendimentos? Caro pseudo-portuense lisboeta, se não quer fazer figura de idiota informe-se ou dialogue com gente desinformada

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  4. Alberto Moreira08/06/10, 00:25

    Esse lisbonário aí em cima esquece ou omite propositadamente que todos os monopolio e semi-monopolios do pais têm sede em Lisboa, era pôr todas essas empresas (edp, galp, cgd, pt, etc) a contribuir para uma região virtual e aí iamos ter a noção da verdadeira produção de riqueza da sua cidade de adopção e pelos vistos de doutrinação.

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  5. Se os números estão correctos, Lisboa assemelha-se a uma mãe egoísta que vai sugando tudo o que os filhos produzem...

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Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...