15 outubro, 2010

Crónicas do Grande Porto

O regime que não quer mudar

Autor : Rogério Gomes - Director Interino
E-mail : rogerio.gomes@grandeportoonline.com
Data : 15-10-2010

Foi o Ultimato inglês que incendiou o nacionalismo português e abriu o caminho à queda da Monarquia há um século. O País, face à grande potência imperial da época, não tinha hipótese. Era necessário obedecer. Foi o agonizar do regime. Com o mesmo registo de cedência da nossa soberania, o regime garante-nos que agências de rating e analistas estrangeiros e a grande finança especuladora internacional obrigam-nos a ter um orçamento, por muito mau que ele seja. Mesmo que seja péssimo.

A Função Pública tem que aguentar uma generalizada e brutal descida de salários, o imposto cego que é o IVA aumentado para 23 por cento – no início do ano era de 19 por cento, lembram-se? -, isenções, comparticipações em medicamentos e vários benefícios sociais são drasticamente cortados… Tudo isto deve ser aceite “sem tugir nem mugir” porque, dizem-nos, há uns senhores sem rosto que se não houver orçamento vão atacar lá de fora as nossa Finanças…

Banqueiros, políticos respeitáveis, “pais” da Democracia, analistas, figuras e figurões afadigam-se em textos, conselhos e ditames no sentido da “responsabilidade”, do “interesse nacional” e da antecipação do “colapso” de Portugal se o OE do Governo para 2010 não for aprovado na Assembleia da República.

O que já ninguém discute é o que acontece se ele for aprovado. A anunciada recessão não interessa? O desemprego não vai continuar a subir? E o crescimento da economia para gerar riqueza e trabalho? Onde está? Será mesmo que os especuladores internacionais vão abrandar o seu apetite ganancioso sobre um País que mostra tal fragilidade? E se vier o FMI? Não era a primeira vez…

O regime em peso está unido na defesa do actual estado de coisas. Esta é que é a verdade.

O que ninguém questiona seriamente é o funcionamento dos 14 mil organismos públicos que comem à mesa do orçamento; o que ninguém questiona é a miríade de administrações e de assessores públicos que passam a vida a justificar a sua própria existência e nada ou pouco produzem; o que ninguém questiona é as duplas, triplas e mais reformas que muitas destas figuras que nos pregam a austeridade auferem impune e desavergonhadamente; o que ninguém questiona são os milhões e milhões gastos em pareceres e “serviços” mais ou menos ocultos; o que ninguém questiona são os milhares de milhões de euros de prejuízos que RTP, EDP, CP, Refer, TAP, Estradas de Portugal e outras empresas que são alfobres de empregos para os “boys” apresentam ano após ano sem qualquer pudor e perante o ar impassível das figuras que hoje nos querem impingir este orçamento de desgraça… Pode ser que este escrito seja de desespero ou “irresponsável”…. Do que tenho a certeza é de que, antes de decidir lançar o sacrifício para cima dos portugueses, o que um Governo preocupado com o País e com os seus cidadãos devia fazer era atalhar nestes desvarios, enxutar o Estado, adiar as loucuras dos mega projectos, exigir nas empresas públicas gestões equilibradas e, só então, ir humildemente ao Parlamento propor os aumentos de receitas fiscais que fossem indispensáveis.

Talvez houvesse uma surpresa agradável para os contribuintes.

PS: Entretanto, como pode ver-se no estudo publicado nas páginas 14/15, a pobreza aumentou em 25% no nosso País em apenas um ano. E metade dos pobres (1,25 milhões) estão na Região Norte. Mais impostos? Sobre quem?

1 comentário:

Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...