Sobre o amor ao FCPorto
Ao contrário de outros bloggers portuenses, mais elitistas, aceitei propositadamente a cooperação com blogues ligados ao futebol [portista] para poder testar a relação dos adeptos, quer com o seu maior clube [o FCPorto], quer com a cidade do Porto, quer com a política, quer com a própria sociedade. A conclusão, não sendo ainda definitiva, está a ser decepcionante. O mais recente teste, que de certo modo revela com clara evidência a apatia dos tripeiros perante ocorrências que lhes dizem directamente respeito prende-se com a Petição que em boa hora, e por inicitiva própria, decidi colocar na Internet. O motivo pareceu-me pertinente e consensual, a Petição procurava [e procura] protestar contra a discriminação negativa, mesmo vexatória, que a RTP [e grande parte dos media] tem vindo a exercer com o FCPorto, ao mesmo tempo que punha à prova a capacidade de indignação dos adeptos confrontando-os com a paixão clubísta que noutros contextos fazem questão de patentear. Resultado: em 3 semanas o máximo que a paixão portista conseguiu foi, até à hora em que escrevo este post 575 assinaturas! Para um universo de alguns milhões de adeptos, um Estádio para 52.000 lugares, 575 assinaturas? Só? Com a blogosfera portista informada, o facebook, os e-mails, as conversas de café, e se calhar o próprio clube? O que é que se passa com toda esta gente? Terá sido contaminada por uma praga estranha de sado-masoquismo?
Seguramente que daqui a algumas semanas o número de assinaturas irá aumentar e não será muito difícil reunir a quantia suficiente para justificar a entrega da Petição na Assembleia da República, mas isso não invalida a baixa adesão de subscritores. A conclusão que me ocorre imediatamente retirar é a mesma de sempre: os portugueses ainda transportam consigo as mazelas da ditadura, isto é, medos antigos e um baixo índice de civismo. Os outros que resolvam. Quando as coisas começarem a dar para o torto, veremos muitas cabecinhas pensadoras a saírem da toca...
Da corrupção
Só para referir alguns dos processos de corrupção que cirandam pelos tribunais sem prazos de resolução previsíveis, limitar-me-ei aos mais recentes: Face Oculta, Taguspark, Portucale e BPN. Para dizer, que parecendo lixo a mais para um país menor, estes casos não passam da ponta do iceberg da promiscuidade inerente a uma sociedade orfã de valores imateriais.
Foi em rigor o Processo Apito Dourado e o sectarismo mediático que lhe esteve adjacente que me fez crescer a vontade de colocar um ponto de ordem na caça às bruxas que a partir daí foi declarada pelo centralismo à pessoa de Pinto da Costa com exclusiva intenção de atingir a hegemonia do FCPorto no futebol português. Vestidos de roupagens pseudo-moralistas, os órgãos de comunicação deram eco à propaganda anti-Pinto da Costa procurando por todos os meios transformá-lo numa espécie de D. Corleone tripeiro responsável por tudo o que de pior há no futebol caseiro. E, não obstante a montanha de acusações ter parido um rato de absolvições, a verdade é que a perseguição continua.
Ora, os casos de suposta corrupção que citei no início do post revelam à saciedade que os problemas mais graves estavam [e estão] no interior do próprio poder político e nas grandes empresas público-privadas, podendo daqui dissecar-se, quanto mais não seja pelo seu silêncio, que a estes protagonistas deu muito jeito a campanha acusatória contra Pinto da Costa. Enquanto os olhos da opinião pública eram conduzidos para ele, todos estes putativos corruptos podiam dormir tranquilos.
Termino chamando a atenção para o seguinte: a sociedade portuguesa tal como está orientada dificilmente se livrará de cometer o crime de corrupção. É tudo uma questão de oportunidade e... de carácter. Antigamente ninguém via nenhum mal, até era de bom tom, obsequiar o médico de família por altura do Natal com um "perú" ou outros géneros, que tão diligentemente nos tratou em momentos e circunstâncias difíceis. Era uma forma de mostrar gratidão pela deferência. O problema não está nestas atitudes de boa fé, o problema começa quando a seguir ao "perú" a oferenda sobe para cotações suspeitas [oferta de carro, permissão de construção ilegal, cedência de terrenos, de apartamentos, a troco de favores mais "expressivos" ]. É aí, a partir desse ponto exacto que o potencial corrupto tem a oportunidade de se demarcar do corruptor e dizer não. É neste preciso momento que ele se confronta com o "engôdo", com o teste à sua integridade e que, de uma forma geral, acaba por ceder. A "lógica" do raciocínio tenderá para o facilitismo: se os outros "comem", porque não hei-de eu "comer"? É assim que muitos "sobem" na vida...
Por isso é que, se tivermos a sorte [sorte sim, vamos precisar muito dela] de um dia sermos governados por gente séria e competente, será preciso tratar este assunto da corrupção começando por dar o exemplo. O povo saberá reconhecê-lo, é só uma questão de tempo. Depois, acabar com os fundamentalistas da ética, de forma a diferenciar um gesto de simpatia - que a meu ver não deverá ser abolido - de um óbvio convite ao suborno. A fronteira entre a oferenda e o aliciamento à corrupção pode ser ténue, mas não me venham dizer que uma e outra coisa são confundíveis, porque não são. Só o são se o interessado quiser fazer de todos nós uns anjinhos. Como dizia o outro, um vintém, é um vintém. Um cretino é um cretino.
De facto, a Petição é uma desilusão. Fazem, acontecem, estão contra isto e aquilo, mas na hora da verdade, nem uma simples Petição assinam.
ResponderEliminarNão previnam agora, que depois nem remediar vão conseguir.
Acorda Porto!
Os problemas do Apito Dourado, que tiveram por objectivo decapitar o F.C.Porto, são brincadeirinha comparados com o que vamos vendo por aí...
Um abraço
será que Pinto da Costa já tem conhecimento da Petição? Será que lhe é indiferente? Muito gostava de saber a sua opinião...
ResponderEliminarTodo este marasmo me faz uma enorme confusão, sentir desconfortável, e parecer mais papista que o "papa"... :-)
Caro Rui.
ResponderEliminarPelos números desta petição, podem todos aqueles que se interessam por estas "coisas" fazer uma pequena ideia da dificuldade que temos em obter assinaturas para a legalização do Partido do Norte! O problema é sempre dos outros e eles que os resolvam!
Nunca vi tanto masoquismo junto, a queixar-se e a deixar andar....
Um abraço
Quando se ouvem nos transportes, cafés e outros locais públicos, vozes inflamadas contra a CS,em especial contra a RTP, pela sua atitude descreminatório para com o F.C. Porto, depois esses mesmos portistas têm esta oportunidade e nada fazem...Também a mim este marasmo me faz confusão.
ResponderEliminarEste marasmo um dia tem de acabar, mas quando acontecer já poderá ser (muito) tarde...
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