02 fevereiro, 2011

Porto Canal, ou ponto final?

Caso os nossos desacreditados governantes tivessem sido fiéis aos seus compromissos eleitorais e houvessem respeitado,  como era seu dever, a Constituição da República, em vez de a tratarem consoante os  interesses partidários, talvez hoje não fizesse sentido falar de Regionalização, apesar de ela lá constar [Cap.IV,Artº256/76]. Ano após ano, foram-nos fazendo falsas promessas de descentralização, enquanto de facto, hiper-concentravam os Poderes na capital, com os resultados que hoje se conhecem. Um país praticamente reduzido à área da Grande Lisboa e mesmo assim, mal governado. Não podiam ter feito pior, pois ao contrário do que agouravam os anti-regionalistas, é o centralismo com as suas idiossincrasias que está a bulir gravemente com a  coesão nacional.

Nos poucos fóruns onde se debate a Regionalização encontram-se comentários que espelham bem uma "nova" mentalidade decorrente do efeito perverso do centralismo: uma, talvez a mais usada, é a ideia da proliferação dos caciquismos, a outra, é o portocentrismo. Confundir o centralismo, que é antes de tudo político e, por efeito também económico, com a legitimidade de cidades ou regiões exaltarem a sua afirmação económica resultante da sua própria dinâmica e de tradições sócio culturais, é como desconfiar da origem portuense das tripas à moda do Porto, da bracarense Bacalhau à Narcisa, ou da alentejana Açorda com o mesmo nome. Gente há, que amiúde aborda a Regionalização com este bairrismo artificial imbuído de visíveis influências centralistas, cuja principal característica, como é sabido, consiste precisamente em dividir o que devia manter-se unido...

É por estas razões que vejo com alguma preocupação as declarações do Director da Porto Canal ao JN que admite mudar o nome da estação [para Canal do Norte]. A ideia de expansão para outras regiões do Norte bem como a abertura de novas sedes [já tem sete], é de louvar, mas o passado recente diz-nos que estas iniciativas acabam sempre por servir de pretexto para a inversão do projecto inicial. Tivemos a miserável experiência com a NTV que também propunha transformar-se na voz que faltava ao Norte, e que pouco depois se "deixou" absorver pela RTP [N], que só manteve o ene de Norte numa primeira fase para não levantar suspeitas. Pouco mais tarde, transformou o N de Norte em N de Notícias e por último num estranho ene de, parte do mundo, parte de si ... Dir-se-ia que as estratégias comerciais das televisões não dispensam tratar os consumidores como um monte de loiras muito burras [sem ofensa para as loiras], o que, convenhamos, não abona muito à dignidade dos nortenhos. 

Sendo certo que o conteúdo é mais importante que o invólucro, então não se entende este crónico complexo centralista, diria mesmo, medo, por tudo o que esteja colado ao nome Porto a pretexto de uma qualquer alteração estratégica. Pela mesma razão, não chocaria nada aos nortenhos a sigla RTP, SIC ou TVI, caso estas estações de tv tivessem primado por uma política de informação e programação descentralizada.

Então, para quê mudar agora o nome da Porto Canal se o objectivo é, como parece, descentralizar? Então, porque não se lembraram desse terrível "anti-corpo" estratégico quando abriram as portas? A Porto Canal está a crescer, o que é animador, mas crescerá mais e melhor, se não se esquecer do sítio e das razões porque nasceu, caso contrário, arrisca-se a ser mais um canal, igual aos que já existem sem sequer ter tempo para a engorda que tornou os outros arrogantemente centralistas.

Nota:
Este post foi enviado nesta mesma data, por e-mail,  à Direcção da Porto Canal


3 comentários:

  1. Caro Rui Valente,
    No dia em que o Porto Canal se tornar em outro qualquer canal "ene",sem identidade e ao sabor do vil metal,perde pelo menos um espectador.

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  2. Caro Luís,

    suspeito que a obsessão pelo crescimento rápido retire algum discernimento estratégico a certos negócios. Espero que a Porto Canal resista à tentação bacôca de se vulgarizar/centralizar...

    Mudar o nome do Canal pode parecer uma decisão inócua, mas não deixa de transparecer alguns "tiques" centralistas.

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  3. Este é tipo de directores que não passam de uns parolos provincianos complexados.
    Para mim um dia destes, este chefinho já está vender a alma ao diabo.
    Com gente desta encapotada, não hà regionalização.
    Só sinto desprezo por esta gente.
    Se mudar o nome do canal, eu deixo de ser espectador deste canal.

    O PORTO É GRANDE VIVA O PORTO.

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