29 março, 2011

A crise e os iPad's

Numa sociedade mais justa e humanizada, tirar aos muito ricos para distribuir pelos mais pobres, parece a atitude mais sensata a seguir. Contudo, não é esse o rumo que as coisas costumam levar quando se assumem os tempos de crise, ou quando sendo esta menos severa, se faz de conta que ela não existe. A teoria que premeia o mérito podia até ser aceitável caso o prémio fosse proporcional à importância daquilo que o justifica. Todos discordarão - excepto, naturalmente os visados -,  que sejam os banqueiros, ou ex-políticos gestores de grandes empresas, os melhores paradigmas da meritocracia.

Falando em termos governativos,  a meritocracia  só será credível depois de devidamente confirmada no fim de cada mandato através de escrutínio público dos respectivos resultados globais. Mas não é essa a ordem natural de avaliação. Os méritos, são atribuídos aos respectivos beneficiários pelos aparelhos partidários, desprezando a opinião dos eleitores, e as compensações são-lhes conferidas independentemente dos resultados finais. Ou seja, o que os fazedores de opinião do regime defendem é a inversão total dessa teoria. Para acentuar tamanha aberração, a maioria dos "politólogos" critica ferozmente quem lhes contraria teses tão absurdas. Senão, veja-se a quem é que invariavelmente os media solicitam pareceres sobre todo o tipo de temas: a políticos ou ex-políticos. Ou seja,  a todos aqueles que pelos seus maus desempenhos governativos provaram não estar à altura dos cargos. É por essa razão que, pessoalmente, só dou o benefício da dúvida a quem opina sem ter passado pelo poder. Os outros, já tiveram a sua oportunidade para pôr em prática os seus conhecimentos e falharam. E, e nalguns casos, mais do que uma vez. Portanto, deviam ser remetidos a um sóbrio silêncio por honra à decência. Mas, os media, não pensam assim. Procuram-nos, obedecendo aos mais retrógrados princípios da cumplicidade interesseira. Os media colam-se ao poder político para reforçarem os próprios. Não será por aí que despontará a rotura do sistema.

Mas, esta coisa de distribuir a riqueza de forma mais justa, é assunto muito desconfortável para alguns que, parecendo querer mudar as regras do jogo, no fundo querem mantê-las como estão, ou até agravá-las. Atiram-se, sem ideias, aos beneficiários de rendimentos sociais, como se o mal do país estivesse exclusivamente aí concentrado, revelando uma pobreza intelectual confrangedora e uma clara ignorância [ou hipocrisia] relativamente aos grandes responsáveis pela deterioração da economia nacional, que vão passando incólumes sob as malhas da justiça e enriquecendo à tripa-forra.

Hoje mesmo, o jornal "i" revela e prova que a crise não é para todos, e que ainda há quem possa contribuir para a pagar, sem ter de passar por grandes sacrifícios. Segundo o mesmo diário, em menos de 3 dias foram vendidos 4.000 iPad 2 correspondentes a cerca de 2, 5 milhões de euros! Para a próxima semana prevê-se um novo stock e um novo record de vendas.

Vamos lá ver: a crise é mesmo para todos, ou   brincámos com a maioria dos portugueses? Estes crónicos e snobs consumistas é quem a deviam pagar, e bem! E quem diz os iPad's, diz os carros topo de gama, as 2ªs e 3ªs casas! Será populismo, isto? Não, meus senhores, V. Exas. sabem muito bem que não é! O egoísmo social é que é uma coisa muito feia, e fica mal a quem o pratica. É verdade, mas assumam-no sem atirar areia para os olhos de quem não tem culpa nenhuma das crises. Porque, se como gostam de dizer, a culpa é de todos nós,  o dinheiro também tem de ser. Ou, aqui chegados,  já não convirá partilhar as responsabilidades? Por favor, chegou a hora de acabar com a demagogia, ou de se  calarem.

  

5 comentários:

  1. http://canais.sol.pt/edicaoimpressa/1Caderno.aspx

    Chamo a atenção para a entrevista de Alipio Freitas na pag.2 ( A nÃO PERDER)

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  2. Rui, agora é com os iPad's, antes foi com os telemóveis - somos um dos países que tem mais telelés per capita - e amanhã será por outra moda qualquer. É a febre do consumismo, muitas vezes sem substrato, mas que infelizmente foi alimentada pelas facilidades para comprar tudo.
    Somos um país que gosta de andar na moda e como a crise não é para todos...

    Um abraço

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  3. qual é o problema de uma pessoa empregada com um salário razoável comprar um ipad ou tirar ferias?

    não pode?

    tem que se meter em casa com a televisão desligada para não gastar electricidade ?

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  4. nrvidal,

    o problema, é, ao que consta - e consta muito -, é que vivemos a pior crise dos últimos anos, e que nos fazem apelos diários à poupança etc., etc. O problema, é que cada vez há mais desempregados. O problema é que o Estado está falido, etc., etc. Mas, pelo que depreendo, não é o seu caso, e de todos aqueles consumistas que correram para as lojas aflitos com medo que o "brinquedo" se esgotasse. O problema, é que tais pessoas são talvez as que mais se queixam da crise... O problema é o narcisismo do seu umbigo. Claro que voc~e vai-me querer convencer que sem o consumo a economia pára, etc., etc. Contradições, de uma sociedade consumista e hipócrita.

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  5. Sendo um aparelho com várias funções é uma tentação, e para muitos não importa o preço nem que para isso se tenham que endividar.

    Somos uma sociedade de consumo, porque nos habituaram a isso.
    É quase tudo no imperativo: compre... compre, e como muitas coisas são a prestações o Zé-Pagode
    vai na conversa e depois é o que se vê!.. sem trabalho, sem casa, sem carro, e muitas vezes passar fome. Os nossos governantes, esses estão todos de barriga cheia, de tanto gamar.

    Ninguém quer dar nada a ninguém, e os que têm muito piram-se a tudo, e a mais alguma coisa.
    Somos um país de brandos costumes.

    O PORTO É GRANDE VIVA O PORTO.

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Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...