30 junho, 2011

O Metro e os fundos que não tem




  

 Amo-te metro

O metro do Porto demorou anos de luta, exigiu muito dinheiro europeu e nacional, mas é a maior conquista do Porto do início do século XXI. Quando arrancou, em 2002, tivemos a esperança de ter conseguido algo absolutamente essencial para a nossa sobrevivência como área metropolitana produtiva, capaz de ajudar o comércio de rua, a produtividade laboral, a cultura, a presença dos estudantes na cidade, a manutenção dos consultórios médicos, profissões liberais, etc..

A vida da cidade, de facto, mudou e trouxe-nos esse ícone - o metro a passar na ponte D. Luiz, como se fosse um sonho pintado a amarelo e cinzento sobre o ferro centenário, em tons de castanho, e o Douro e a Foz ao fundo... Dentro das carruagens, as nossas pessoas, ricas ou pobres, a poderem usufruir de um transporte digno, que as deixa organizar a vida com mais qualidade. Mas estamos a meio deste sonho, que pode tornar-se num pesadelo.

Infelizmente, a extensão da rede está altamente ameaçada pela falta de dinheiro do país. Ainda por cima o JN avançava que os fundos comunitários previstos para o (erradamente intitulado) "TGV" não vêm para o metro do Porto. Mas não há razões para se desistir: a União Europeia vai querer que Portugal aproveite os fundos e mantenha algumas obras. Ora, o metro enquadra-se na política que é a menina dos olhos de Bruxelas - o uso mais eficiente da energia e o fomento de melhor mobilidade urbana. Isto significa maior produtividade e menos CO2. Com persistência, talvez o Governo recupere o dinheiro que esteve previsto para a alta velocidade Porto-Vigo.

Para se justificarem novos investimentos precisa-se, em primeiro lugar, de garantir que o número de passageiros do metro continue a crescer. É fundamental que cada cidadão olhe para a utilização do transporte público da sua cidade como se estivesse a marcar um golo pela sua equipa.

Além disso, há que escolher: estender mais a rede ou dar-lhe densidade de passageiros? Seria importante reanalisar-se bem a nova fase planeada. Por exemplo, a engavetada "linha circular", no miolo da cidade (o projecto inicial apontava para as ruas de Fernão de Magalhães, Costa Cabral, Rotunda da Boavista, Campo Alegre, Palácio de Cristal e a Praça dos Leões). Ela ajudaria muito à essencial revitalização da Baixa do Porto - importante para garantir novas indústrias culturais, melhor turismo, mais reabilitação urbana. Esta linha pode muito bem ser o ovo de Colombo de uma maior capitação de passageiros no metro.
É preciso também dar solução ao problema da Avenida da Boavista. É inacreditável que a maior artéria da cidade, com elevada concentração de serviços, hotéis e pólos de turismo, esteja desintegrada da rede. Rui Rio tinha razão ao insistir com o desastroso ministro Mário Lino na necessidade de se executar a linha Matosinhos Sul-Boavista - mais barata porque está à superfície, e rápida de construir. Ainda é possível voltar atrás?

Convém, a este propósito, não esquecer o que tem dito Souto de Moura sobre a alternativa entretanto aprovada, a linha Matosinhos Sul-São Bento: "O metro não cabe" no troço Campo Alegre-Praça da Galiza. Ora, se o 'Prémio Nobel' da Arquitectura diz isto - ele que conhece tão bem o metro do Porto, - vale a pena, pelo menos, perceber porquê. Desde o princípio que fica a ideia de que o 'bom negócio' seria levar o metro pela futura Avenida Nun'Álvares (junto à Foz) e com isso potenciar-se-ia a valorização imobiliária (de luxo) da nova artéria. É em momentos de crise que as decisões públicas têm de ser ainda mais criteriosas. Quem tem razão? Souto de Moura ou os estudos da Metro do Porto?

Acresce que o Porto talvez necessite mais de reabilitação do que fomentar construção hipervalorizada pelo metro à porta. Precisamos de mais prédios a entrar no mercado? Ou a reabilitação da baixa exige que se concentre ali o dinheiro que resta? Um miolo de cidade recuperado é a melhor alavanca para o crescimento dos serviços e do turismo em toda a Área Metropolitana, e isso cria emprego. A mobilidade urbana inteligente, fiável, e sem poluição, é o que vai distinguir as cidades do futuro onde valerá a pena viver e investir. O metro, e uma visão integrada de transportes ao seu redor, é a chave desse futuro.

Nota de RoP:
Espero não se tratar de uma mera ilusão óptica, ou cosmética, mas noto uma ligeira melhoria no JN, nomeadamente em matéria de colaboradores. Gostava de não me estar a precipitar...

2 comentários:

  1. Eu, dei-lhes o benefício da dúvida, e voltei a comprá-lo. À experiência...

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  2. A expansão do Metro do Porto como tantos outros empreendimentos a fazer na nossa cidade só não se fazem porque temos um presidente de Câmara que é um zero à esquerda.
    Os governos são centralistas, mas não havendo uma verdadeira voz do Norte não vamos fazer nada nestes anos próximos

    O PORTO É GRANDE VIVA O PORTO

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