05 setembro, 2011

Haverá bons ditadores?

Foi Conselheiro de Estado, hoje tem
um resort de luxo em Cabo Verde
Cada vez me convenço mais que é por causa do  nosso conformismo ancestral, pela passividade com que aceitámos as coisas mais abjectas, que continuamos a ser desrespeitados e a ser tratados como gado.

Se cada um de nós fizesse uma retrospectiva cuidada do que têm sido as prestações dos vários governos ao longo destes 37 anos de democracia [já só faltam poucos mais para ultrapassar os de ditadura], compilando as promessas não cumpridas e as mentiras praticadas, teríamos vergonha de votar e de continuar a dar ouvidos aos rapazes da política. Nesse capítulo, e no que me diz respeito, não me pesa a consciência, pois desde que Mário Soares me ensinou que os políticos não são para levar a sério, deixei de entrar nessas brincadeiras. O tempo tem-me dado razão.

Passado todos estes anos, o balanço do regime democrático é simples de fazer: incapazes de produzir a nossa própria riqueza e de a distribuir, só tivemos arte para modernizar o país com os fundos da União Europeia em auto-estradas, e pouco mais. Paralelamente, assistimos ao enriquecimento súbito de muitos políticos e ao empobrecimento galopante da população. Demos conta que a Justiça não castiga quem merece mais castigo, como sejam, governantes e seus cumplíces. Entre a ditadura e este modelo pífio de democracia, houve quem conseguisse transformar uma revolução que se queria séria, numa fraude, através de uma estratégia tão simples quanto hábil, que consistiu apenas em deixar o povo falar.

Os políticos do pós 25 de Abril, alguns dos quais fizeram oposição ao regime de Salazar e Caetano, perceberam que na Europa já não era possível continuar a governar-se com ditaduras musculadas, e por isso, espreitaram a oportunidade para lhes ocuparem o lugar. Foi o que acabou por acontecer. A repressão do regime anterior, entrara em desuso, e era condenada praticamente pelos países mais avançados do Mundo, e Portugal tinha obrigatoriamente que se "democratizar". 

Decorrido todo este tempo, podemos resumir a mudança de regime, ao seguinte:  permitiu-se a organização e a constituição de partidos políticos, a seguir, seduziu-se o povo dizendo-lhe o que ele precisava de ouvir, depois, chegou-se "democraticamente" ao poder, e finalmente...  reinou-se. Uma vez ocupado o 'poleiro', terminaram-se as promessas, e tratou-se rapidamente da vidinha [deles]...

Efectivamente, tem sido isto que os políticos de hoje têm feito, e continuam a fazer com a política. Não esperemos que sejam eles a admití-lo, não sejamos ingénuos... A verdade, é que as únicas coisas que mudaram em relação ao regime do passado, foram o nome e a ferramenta. De resto, estamos praticamente na mesma, ou talvez pior.

Hoje, cairia muito mal à Europa, que o governo de um país não concedesse ao povo o direito de votar livremente. Então estabeleceu-se que isso seria suficiente para lhe transmitir a convicção de viver em democracia. A ferramenta então usada foi o voto,  o voto que domou a voz do povo sem a calar. Um paradoxo, isto? Talvez. Mas então, alguém será capaz de explicar por que é que este novo Governo, empossado  ainda há 3 mêses, renunciou a todas as promessas que fez? A resposta lógica é fácil. Exceptuando a hipótese remota [até ver], de entretanto o povo se revoltar, os governantes do pós 25 Abril assimilaram cedo [e irresponsavelmente], ser possível trair o povo e aguentar o impacto, pelo menos um mandato, sem correrem o risco de serem destituídos. Para o segundo, logo se verá, será apenas uma questão de talento oratório... O povo, merece-os, tem-se mantido ao seu nível. Permissivo e apático.

Ainda esta manhã sorri para o jornal, quando "democraticamente" me informava que um Chefe de Divisão da Direcção Geral de Veterinária foi condenado por subornos de empresários, mas...  ficou em liberdade. Isto, repete-se, e repete-se.

Perante estes cenários, às vezes, gostava de acreditar na existência de bons ditadores, mas não acredito. O problema, é que, o que vemos, leva-nos quase ao desespero e à suspeita de que aquilo que este exército de irresponsáveis estão a fomentar é um perigoso caldo de cultura para o despertar de um ditador. E eu, que considero fundamental a Autoridade com Justiça, temo os bons ditadores.

3 comentários:

  1. Os governos portugueses desta pseuda/democracia são iguais ou piores aos governos Sul/Americanos. Nós sabemos como estes políticos se governam, é gamar à fartazana e ninguém vai preso.
    Nós estamos como estamos, porque somos governados por incompetentes e por pessoas que vão única e simplesmente para a política para se governarem. Sócrates (e não só) é um exemplo fez a merda que fez orientou-se e mandou o partido e a política à fava.
    De tão mal que têm feito a este país, desde de incompetência e ladroagem, penso que duas ou três cadeias não chegavam para os lá meter.

    O PORTO É GRANDE VIVA O PORTO.

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  2. Rui, se estiver repetido, pf apague.

    Rui, essa dos ditadores não é para esse "senhor" da foto, pois não? Dias Loureiro é um democrata exemplar, que nunca se meteu em nada e se vive como um nababo em Cabo Verde, é graças ao seu trabalho e sua grande competência.

    Outro assunto: como ainda lhes incomodava o N de notícias, na RTPN, a partir do dia 19 passa a RTPI. I de informação. Que bonitinho!

    Abraço

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  3. Também pode ser, Vila Pouca.

    Um "bom ditador", se existisse, levava este e outros como ele, a Tribunal, julgava-o [que quer, eu ainda não me esqueci do BPN]e se fosse provada culpa no "affaire", enjaulava-o sem mais perdas de tempo.

    Mas as jaulas por aqui só têm dois prováveis moradores: animais, e gente pobre.

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Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...