07 setembro, 2011

O "crime" de Ricardo Carvalho e os media

Habituados que estamos a ver altas figuras da nação a assumir ciosamente as suas responsabilidades, entre as quais pontuam o desapego pelo poder, a fobia às offshores, e o regular cumprimento de promessas, compreendem-se as declarações de Paulo Bento dirigidas a Ricardo Carvalho, aconselhando-o a pedir desculpas aos portugueses. Sim, porque o que Ricardo Carvalho fez, foi gravíssimo, é imperdoável, e os portugueses não estão habituados a tamanhas traições... 

Se Ricardo Carvalho tivesse imitado o Sá Pinto, pregando um murro na cara ao Artur Jorge [então seleccionador], ou o seu colega de equipa Pepe, que pontapeou como um doido um adversário na cabeça quando este ainda se encontrava no chão, ou então o genial João Pinto [do Benfica], que ao serviço da selecção encostou docemente o punho no estômago de um árbitro, isso sim, seria irrelevante. Agora, bater com a porta, com ou sem razão, e abdicar da selecção, isso é crime, é um verdadeiro acto de deserção. Não se faz, repito. Nós não estamos habituados a essas poucas vergonhas.

Justificam-se portanto, aquelas maratonas de debates, as aberturas e fechos de telejornais, até altas horas da madrugada na RTPN [N de nazi], esmiuçando o acto tresloucado do jogador, na patriótica tentativa de encontrar pena ajustável a tamanha barbárie. Irradicado da selecção, já está. Agora, é preciso fazer tudo para impedir R.Carvalho de jogar no seu clube para que a Justiça seja feita. Eu acho que não chega, R. Carvalho merece a forca [sem cedilha]...

Muito patriótico, por exemplo, foi o nome que hoje o JN entendeu dar a uma  conspiração. Chamou-lhe estratégia. O JN não podia encontrar melhor eufemismo para a reunião que os Presidentes do Benfica e do Sporting tiveram ontem num hotel de Lisboa para cozinharem o apoio à candidatura  do insuspeito Fernando Seara à Federação Portuguesa de Futebol. É do Benfica, como se sabe, fanático e intriguista, possui portanto o perfil indicado para o cargo. Mas, haverá algum mal em apoiar um suspeito candidato a um lugar que devia ser só para gente insuspeita? Não, claro. Isso, era se a reunião tivesse sido convocada com o FCPorto e o Braga, e o candidato à Federação se chamasse, por exemplo Victor Baía. Nessa altura, tal Fénix renascida das cinzas, caía o Carmo e a Trindade, e lá tínhamos nós de aturar umas doses maciças de fóruns sobre promiscuidades e transparências "sistemáticas", nos canais centralistas. Exactamente como acontece com os árbitros. Se é de Lisboa e benfiquista, ou sportinguista, pode apitar os jogos do seu clube contra o FCPorto, logo é sério. Se o árbitro é do Porto e é portista, nem pensar! É garantido que é gatuno.    

É assim, nestes charcos de imoralidade institucional,  que os media sobrevivem, com truques de linguagem, procurando transferir seriedade para coisas que não são para levar a sério. 

Prova-se assim, claramente,  que os media há muito deixaram de prestar serviço público para antes se prestarem a enganar o público. O que, vendo a coisa pelo lado optimista, podia constituir uma grande oportunidade para a blogosfera do Norte se unir e organizar e roubar-lhes o lugar. Nós, fazemos melhor. 

3 comentários:

  1. Rui, sobre o Ricardo Carvalho, já disse e mantenho: errou, mas não deve ser crucificado e o seleccionador ao chamar-lhe cobarde, cavalgou a razão que tinha, para pisar o central e por isso, também esteve muito mal.

    Sobre o eufemismo, de acordo, é o politicamente correcto para não ofender suas excelências... Ao que você disse sobre o Seara, acrescento, político no activo, que ao ser candiadato trai quem o elegeu e pior, se fosse a Norte, era a mais vergonhosa das promiscuidades.

    Abraço

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  2. Ricardo Carvalho, foi sempre um jogador exemplar um grande profissional. Errou? sim errou, mas não batam mais no jogador.
    Nesta mesma selecção, já se passaram casos mais graves com jogadores e treinadores e não falaram tanto no assunto, isto para não falar em clubes que têm jogadores e treinadores pugilistas.

    O PORTO É GRANDE VIVA O PORTO

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  3. Bom era há 130 anos, quando para chegar a lisboa se precisava de 3 dias, e de barco.
    Estavamos a coberto desta escumalha cortesã

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Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...