André Vila Boas versus Victor Pereira

Curioso, o sentido dos caminhos de Victor Pereira e de André Villas Boas. O primeiro, foi "lançado às feras" no cargo de treinador principal do FCPorto na sequência da saída intempestiva do segundo. Villas Boas firmou créditos pela primeira vez como treinador principal no FCPorto, com uma época fantástica onde ganhou tudo o que era possível ganhar, tendo antes passado pela Academica. Proeza que aguçou a cobiça do milionário - mas incompetente -, Abramovich, a ponto de o tirar da "cadeira de sonho" e o levar para o Chelsea a troco de 15 milhões de euros, deixando os adeptos do FCP decepcionados. 

Em contra ciclo, Victor Pereira tomou conta da "batata FCP", no início, com aparente normalidade, mas pouco a pouco, começou a sentir notórias dificuldades em impor o seu tipo de futebol, apesar de se manter no comando da classificação até à 13ª jornada com os mesmos pontos (33) que o Benfica, mas com melhor goal average. Deixou-se ultrapassar à 14ª jornada, passando para o 2º.lugar, onde se manteve até à 21ª em que recuperou o 1º. lugar com uma victória inesperada em pleno estádio da Luz, onde conseguiu fazer talvez a melhor exibição da época.

Até à 21ª. jornada não fui um fã do trabalho de Victor Pereira avaliado aos olhos do comum adepto pelo nível exibicional da sua equipa. Mesmo no jogo da passada 6ª.feira, a espaços, vislumbrei alguns tiques de instabilidade que acabaram por redundar nos golos do Benfica. Valeu a atitude dos jogadores e as surpreendentes substituições, sobretudo com a entrada de James Rodriguez que empolgou toda a equipa a ponto de voltarmos a repetir a façanha da época passada. Agora o que espero, é a mesma atitude, a mesma determinação desse jogo nos jogos que faltam até ao fim do campeonato. Se assim for, o campeonato será nosso e o FCPorto terá salvo a época e, talvez, reabilitado Victor Pereira para o futuro.

Mas, voltando à questão dos caminhos de AVB e VP, penso não me enganar se disser que o que aconteceu a Villas Boas tem algum paralelo com o que se passou com Victor Pereira. Este, foi de certo modo prejudicado por AVB, não pessoalmente, mas pelo lastro de desconfiança e de desmotivação que terá deixado a jogadores que se tinham habituado a ver Victor Pereira como um adjunto. Esse obstáculo não é fácil de ultrapassar. Mas, ao contrário de Villas Boas, que não teve no Chelsea a organização experiente do FCPorto, onde quase tudo é previsto e o apoio ao treinador não falta, a Victor Pereira só se lhe pedia [e pede] liderança, que é [na minha opinião, claro], talvez o seu ponto mais fraco. Com capacidade de liderança é mais fácil passar a mensagem de tudo o que se pretende a um grupo de trabalho. Essa liderança, Villas Boas tinha-a e tem-na, apenas lhe falta o clube: o FCP, e Pinto da Costa, em vez de Abramovich.

Com Villas Boas deve-se ter passado algo semelhante a Victor Pereira. Os jogadores mais antigos do Chelsea, como Lampard e John Terry e Drogba, conheceram Villas Boas na qualidade de treinador adjunto de José Mourinho, facto que associado aos rumores do regresso de Mourinho a Stamford Bridge poderá ter contribuído para desestabilizar o grupo de trabalho. Isto, se o meu raciocínio tiver qualquer relação com a realidade.

Quanto a nós, esperamos, é que esta reviravolta no campeonato nacional, transmita não só confiança a toda a equipa do FCPorto como ao próprio treinador de forma a eliminar quaisquer desconfianças residuais que eventualmente possam subsistir nalguns jogadores e a catapultar definitivamente o FCP para a conquista de mais um campeonato. 

De tudo isto, uma coisa se destaca: o FCPorto e toda a sua estrutura, não é, como aliás ninguém é, infalível, mas ao Chelsea e a Abramovich não pede meças, só lhes inveja o dinheiro. Porque, em matéria de competência é-lhes muito superior.

O campeonato continua portanto, e ainda não está ganho. Nós não temos a mentalidade dos mouros, nem dos centralistas, por isso, só lançaremos os foguetes do nosso contentamento quando o campeonato tiver terminado, com o FCP na frente...