28 junho, 2012

João Moutinho não merecia um presente envenenado

João Moutinho
Pronto, a época e febre de patriotismo futebolístico acabou e como vem sendo habitual não ganhámos nada. Apesar de tudo, é verdade que fizemos melhor figura do que era expectável, no entanto, ainda não foi desta que atingimos o objectivo principal: ir a uma final e ganhá-la.

Devo dizer entretanto que, apesar de ter notado nos últimos jogos uma melhoria razoável na aplicação da coqueluche lisbonária ao serviço da selecção, ontem não gostei particularmente de Ronaldo. Em termos de trabalho de equipa e entrega, comparado com ele Moutinho foi um gigante. Não sei, é como os comentadores do regime fazem tanta parcimónia em reconhecê-lo como o melhor homem em campo, incluindo os jogadores da selecção espanhola. Bem, saber eu até sei, é o incurável ressentimento com os jogadores do FCPorto. Como poderiam os comentadores jornalistas de meia tigela enaltecer apropriadamente o trabalho de João Moutinho apesar de o merecer mais do que qualquer outro jogador, se havia Nelson Oliveira [do Benfica] para publicitar e dedicar toda a espécie de elogios apesar de nada ter feito de relevante durante todo o Europeu? 

aqui o escrevi, e repito: a selecção pouco me diz e já expliquei os porquês. Mesmo assim, não fui daqueles que estavam à espera da derrocada para desancar a torto e direito na equipa e no seleccionador. Mas não posso deixar de fazer alguns breves comentários. O primeiro, é dizer que gostei da equipa praticamente durante os 90 minutos de jogo. Esteve muito concentrada coesa e batalhadora. Não querendo particularizar o desempenho dos jogadores, é de elementar justiça destacar o trabalho de João Moutinho e Pepe. Quase todos estiveram bem, mas estes dois foram sem dúvida os melhores entre os melhores. Disse quase todos porque Nani, esse excelente jogador, não estava a carborar lá muito bem, coisa que aliás se prolongou em quase todo o campeonato, fazendo exibições bem abaixo daquilo que lhe é habitual.

Em relação ao Paulo Bento também esteve bem, mas só até ao prolongamento. A partir daí, as coisas já não correram da mesma maneira. A equipa apareceu subitamente desconcentrada, pareceu cansada, deixando aos espanhóis a iniciativa do jogo que se prolongou até ao fim.

Ora, foi aqui [e não só] que Paulo Bento falhou. O Nani eclipsou-se, dando mostras de não estar em boa condição física. Paulo Bento manteve-o até a poucos minutos do fim substituindo-o tardiamente por Varela. A substituição de Hugo Almeida por Nelson Oliveira também não veio acrescentar nada ao grupo, pelo contrário, retirou-lhe alguma consistência em termos defensivos e não lha aumentou em termos ofensivos.

Mas o pior estava para vir. Os penaltis... A opção de entregar a Moutinho a responsabilidade de marcar o 1º.penalti não foi feliz, nem sequer faz muito sentido. Moutinho é um grande jogador de equipa, um "carregador de piano", um autêntico salva-vidas, tanto a defender como a distribuir jogo, mas tem um defeito: remata pouco e mal à baliza*. Decididamente, essa não é a sua especialidade. Por que é que Paulo Bento se lembrou que ontem ele havia de ser diferente? Outro erro grave foi aquela cena caricata do "engano" de Bruno Alves na vez de marcar o penalti, quando já se dirigia para a marca e foi interceptado pelo Nani. Estas coisas não podem acontecer numa fase tão decisiva de uma prova com a importância de um Europeu. Podemos dizer ou especular o que quisermos, mas este facto pode ter desconcentrado Bruno Alves e contribuído para falhar o penalti, como aliás veio a suceder.

Depois, foi a vez do Ronaldo. A sua postura, o ter-se poupado para último marcador das penalidades [se é que era mesmo isso que estava planeado], deixou muito a desejar. A sua expressão tristonha, enquanto os colegas tratavam de enfiar a bola nas redes, transmitia ansiedade e insegurança, coisa que aliás acabou por se traduzir no resultado final.

E com isto termino, não sem antes dizer que não acho Ronaldo com perfil para capitão da equipa. Ontem, gostava que ele me tivesse desmentido, que em vez de olhar para as câmaras com olhar pesaroso tivesse incentivado, como um verdadeiro "guerreiro", os colegas. Não o foi. Apesar de ter falhado o seu penalti, Moutinho, esse sim, jogou como um Dragão, e sem peneiras.

* Em 1996 o jornal  O Jogo publicou um artigo meu em que chamava a atenção para a incapacidade da maioria dos jogadores portugueses em chutar à baliza de primeira e sem preparação. Para a cisma de termos sempre de dar toques e mais toques até desferirmos o remate final, dando tempo aos adversários para defenderem. Dezasseis anos depois o problema mantém-se, e eu continuo [contrariado], cheio de razão. E não sou nenhum perito...

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

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  2. Anónimo disse...


    Quando se é casmurro não vale apena bater mais no ceguinho.
    Depois de 90 minutos fantásticos, em que não deixamos jogar a Espanha, estes por sua vez meteram toda a carne no assador e melhoraram. Nós mexemos mal e a más horas na equipa, jogamos com 1o jogadores porque o Nelson Oliveira foi uma nulidade ( era de esperar) e ainda por cima o Nani rendeu muito pouco.

    Vamos ser honestos... a Espanha no prolongamento esteve sempre por cima de nós, e nós jogamos para os penaltis. Morremos na praia.

    Grande J. Moutinho: Foi o melhor português e um dos melhores do campeonato da Europa.

    O PORTO É GRANDE, VIVA O PORTO.

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