08 outubro, 2012

Governo de salvação nacional




No início dos anos 80 Portugal vivia uma crise semelhante, na sua natureza, à atual. Foi necessária a intervenção do Fundo Monetário Internacional (FMI) para equilibrar as nossas contas públicas, o que se fez à custa de duros sacrifícios impostos ao povo português, nomeadamente aos que tinham como única fonte de rendimento a sua capacidade de trabalho. Quem não se lembra das falências e dos salários em atraso, incluindo em empresas pertencentes ao próprio Estado?

O país, porém, era outro: estávamos a caminhar, lenta mas decididamente, para a integração na Comunidade Económica Europeia (CEE) o que aconteceu em 1 de janeiro de 1986, e, apesar de pobres, os portugueses não estavam tão endividados como estão hoje. Os dois principais partidos, PS e PSD, puseram de lado as suas divergências partidárias e aliaram-se num gigantesco esforço patriótico para ultrapassar a situação. Os seus dirigentes máximos, Mário Soares e Carlos Mota Pinto, souberam colocar o interesse nacional acima dos interesses imediatos dos respetivos partidos.

É claro que houve muita contestação entre as clientelas partidárias, insatisfeitas com a divisão de lugares no aparelho Estado feitas por António Campos e Ângelo Correia, então promovidos a uma espécie de prebostes para repartir as sinecuras públicas. Da parte do PSD os principais franco-atiradores eram o recém-falecido Eurico de Melo e o ex--ministro das Finanças do Governo da Aliança Democrática, Aníbal Cavaco Silva, o qual acabaria por derrubar a coligação logo a seguir à sua entronização (com a bênção do «motapintista» Fernando Nogueira) durante um tumulto público que o PSD organizara na Figueira da Foz. Cavaco Silva foi eleito presidente do PSD e logo a seguir primeiro-ministro, Mário Soares foi eleito presidente da República (depois de uma estrondosa derrota do PS nas eleições legislativas) e Mota Pinto faleceu subitamente, em Coimbra, em 1985. Apesar de todas as dificuldades, a crise foi vencida e o país iniciou em 1986 um período de prosperidade e também de esbanjamento de recursos sem precedentes na nossa história coletiva.

Se evoco esse período da nossa vida política é para me interrogar por que é que, hoje, perante uma crise de dimensões muito maiores, os dois maiores partidos da nossa democracia não põem de lado as suas divergências partidárias e até ideológicas para mobilizar as vontades e recursos nacionais para a combater. Por que é que o atual presidente da República não promove, através do seu magistério de influência, uma tal via.

É claro que as clientelas partidárias, sobretudo as dos partidos que estão no Governo, iriam sentir-se prejudicadas, pois teria de haver uma redistribuição de lugares e cargos nos órgãos centrais da administração pública, nas fundações dependentes do Estado, nos institutos e nas empresas públicas. Mas, a dimensão e natureza da crise que vivemos não justifica esse esforço adicional de patriotismo? Não justifica que os partidos ponham, uma segunda vez, o interesse nacional acima dos seus próprios interesses egoístas?
Os custos que o povo português terá de suportar ao não se enveredar por esse caminho serão muito maiores do que os que suportaria se o combate à crise fosse feito com o esforço conjunto do PS e do PSD. Não há boas soluções, muito menos duradouras, geradas no quadro de visões unilaterais e ideologicamente fanáticas como está a acontecer agora. Além disso, numa coligação entre os dois maiores partidos da democracia portuguesa nenhum deles teria força suficiente para fazer ao outro enxovalhos públicos semelhantes aos que o PSD está a fazer ao seu atual parceiro de Governo. Na verdade só um partido que põe decididamente os interesses da sua clientela acima do interesse nacional (e até da sua própria dignidade política) é que suportaria o que a dupla Pedro Passos Coelho e Vítor Gaspar têm vindo a fazer ao CDS. O PS, por seu turno, não pode nem deve limitar-se a esperar, na zona de conforto que é a Oposição, a "pasokização" do PSD.

Quando o sistema político não é capaz de gerar soluções consensuais e duradouras para uma das maiores crises da nossa história, então a verdadeira solução terá de ser encontrada fora do próprio sistema.

Nota de RoP: 
Só o facto de nos habituarmos a comentar a clientela política instalada nos partidos, sem uma reacção à altura da sua gravidade, constitui de per si um outro problema, que é a "naturalidade" como o absorvemos. 

É por estas razões que a corrupção não pára de subir na política. E é por isso também que os políticos não se livram tão cedo da fama de crápulas e de gente de má fama. 

Comecem a exigir o castigo à medida do crime e vão ver como esta bandalheira acaba. 

1 comentário:

  1. Isso eu já pensei, mas, com tanta Bosta que ainda não morreu e outros que por ai andam, vai ser muito difícil o tal Governo de Salvação Nacional. O Porco Poder já está instalado, faz tempo a mais.

    O sr Incompetente, vai a ser um mártir da Matrona alemã, só espera o dia para despoletar a bomba e matar de vez o povo português.

    O PORTO É GRANDE VIVA O PORTO.

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