09 outubro, 2012

Não sei se vou ter dinheiro para lhe pagar...


 

Imagine que é um recente proprietário de uma fábrica de tijolos [por exemplo] devidamente equipada, e que para esta  produzir a quantia necessária para atingir os objectivos previamente traçados, precisa de xis número de operários.  Sendo o leitor uma pessoa de bem, e de contas, o que terá de fazer para avançar com o negócio? 

Admitindo que já tenha viabilizado o estudo de mercado e montado uma boa estratégia para conquistar clientela, a primeira coisa que deverá fazer, é saber se tem capital suficiente para as despesas correntes, à cabeça das quais terá de constar uma verba para salários, de modo a apurar se o dinheiro de que dispõe para o efeito chega para pagar a todos os trabalhadores. No caso de não chegar, tem duas alternativas: reduzir ao pessoal, sacrificando o volume de vendas inicialmente previsto, ou então, procurar financiamento para completar o projecto.

Será esse o procedimento habitual do empresariado médio em Portugal? Não tenho grandes dúvidas. Inspirado por um Estado caloteiro e mau pagador - é bom especificar que nós só somos Estado para contribuir, porque quem nele manda são os Governos -, uma grande parte dos empresários não faz as contas assim, prefere seguir a linha do que foi durante muitos anos estimulado pela banca com  a cobertura de vários governos, como seja: "compre agora, pague depois".  Depois, o que é que observamos? Coisas brilhantes como, dizer a empregados recentemente admitidos pérolas do género: "não sei se terei dinheiro para lhes pagar". Deste modo, procuram logo à entrada mentalizá-los para situações semelhantes no futuro, ao mesmo tempo que os mantém assustados com o espectro do despedimento.  Não é muito inteligente, diga-se, mas o chico-espertismo é assim mesmo, nunca foi prova de inteligência. De mau carácter e oportunismo, seguramente.  

Mesmo assim, nada impede os mais incautos que eventualmente se deparem com cenários desta natureza, de responder da mesma moeda aos donos do negócio qualquer coisa assim: "se o senhor não sabe se tem dinheiro para me pagar, então também não sei se me apresentarei ao trabalho quando você quiser".

Aparentemente, a chico-espertice do patrão pilantra seria logo abortada à nascença com efeitos retroactivos altamente significativos, caso as pessoas se levassem um pouco mais a sério e deixassem de parte medos antigos, partindo sempre do cómodo princípio que só terão a perder, porque haverá sempre alguém disposto ao triste papel de se deixar explorar.   

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

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  2. Porto é Grande,

    Apaguei involuntariamente o seu comentário. Se assim entender pode comentar de novo. As minhas desculpas.

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