03 agosto, 2013

Júlio Magalhães, e o canal do part-time

Confesso que começo a ficar farto do Porto Canal e da bazófia sonora com as subidas de audiência. Como vivo e sofro seriamente com o abandono a que muitos protagonistas do Norte deixaram cair a região, e sempre pensei que um canal de tv autónomo pudesse alterar a situação, não posso deixar de criticar aquilo que me parece estar mal. 

Considero lamentável que o modelo escolhido pelo Júlio Magalhães para um canal com pretensões a conquistar audiências em todo o país, se esteja a caracterizar por alguma fanfarronice, aliás muito típica da capital, e por um conjunto de amigos, ou de amigos dos amigos, como protagonistas preferenciais para a realização de debates e entrevistas. Não é que não aprecie alguns deles, o que me parece, é que Júlio Magalhães está dando sinais de temer perder a confiança dos amigos da capital, talvez com receio de um dia ter de lá voltar. Se assim não fosse, dispensaria os convites que apressadamente anda a fazer a figuras públicas da capital, como se elas não fossem por demais conhecidas do país e outras não existissem no Norte, ou como se o filão a Norte se tivesse esgotado.

Se a estratégia para "conquistar" o país a Sul passa por actos sofisticados de sedução, do tipo mel com que se caçam as moscas, então é porque alguma coisa de pesado paira na consciência dos seus autores. E eu não imagino o que possa ser, porque quem devia ter motivos para recear que a consciência lhe rebente de remorsos, era toda essa gente, de sulistas a nortenhos, empresários a governantes, que nos traíram descaradamente, a ponto de deixar "saudades" de Salazar até a anti-salazaristas convictos, como eu.

Já o disse por mais de uma vez que nunca simpatizei com a ideia de alguns de quererem dar o passo maior que a perna, que é como quem diz, de pretenderem conquistar o país, antes de se conquistar o Norte. Norte esse, que não se limita ao Minho ou a Trás-os-Montes, nem ao Alto-Douro ou Douro Litoral, mas que se estende até Aveiro.  Portanto, uma região muito vasta, suficientemente grande para trabalhar como mercado alvo, ou, pelo menos, prioritário.

Já ouvimos também, anunciar novas grelhas de programação, e o certo é que tudo parece estar na mesma, para não dizer, pior. Ao fim de semana, e à noite, a estação parece funcionar exclusivamente em part-time, e em certos dias da semana também. As notícias continuam repetitivas, de tal modo que já não suporto ouví-las. Muitas, como já disse, não passam de réplicas do que o Jornal de Notícias transcreve, sobretudo os acidentes e as desgraças. Não se vislumbra um jornalismo crítico, acutilante, inovador e corajoso, também dirigidos aos alvos que tanto mal têm provocado ao Norte, e que são bem conhecidos.

Se a televisão que Júlio Magalhães e o FCPorto [que é parte interessada], querem para o Norte, é uma imitação do que as outras fazem, então mais vale desistir da parceria, ou a incompetência ainda contamina o clube. Não precisamos de mais televisões para nos servirem a ambiguidade e o cinismo com que se alimentam. Não queremos canais que funcionem para empurrar maus governantes para a rua, para depois os irem buscar e reabilitar. O Sócrates foi muito criticado e justamente demitido, portanto é uma falta de respeito à inteligência dos cidadãos, que a RTP o tenha agora contratado como comentador. Se o demitiram, é porque o que ele fez não foi importante, porque não foi competente, não se entendendo assim o interesse das suas opiniões. Eu não o ouço. Com Passos Coelho, se for, como espero, também demitido, irá previsivelmente passar-se o mesmo, porque os canais que existem não competem pela diferença, alicerçada na imaginação e na qualidade, limitam-se a copiar a mediocridade uns dos outros.  Ora, não é nada disto que eu quero do Porto Canal. Se se confirmar que é esse o rumo que a direcção do Porto Canal e o FCPorto entendem seguir, pela minha parte, passo.

Acho que era com este lixo jornalístico que Júlio Magalhães se devia (pre)ocupar, e não em deixar-se fotografar em campos de golfe, ou ao volante de carros de corrida, porque ainda há muito trabalho pela frente, para poder apregoar prematuros sucessos de audiência, à custa dos adeptos do FCPorto e do próprio clube. Além de que, há certos hábitos que numa altura de tantas dificuldades podem cair mal a muita gente. O exibicionismo, é apenas um deles.

Se o Júlio diz que as águas estão separadas, como disse, então que não meta o FCPorto na área que só a ele compete, e ponha o canal a trabalhar a sério, de uma vez por todas, e com mais profissionalismo.

10 comentários:

  1. Não sei se há dinheiro, mas, podia-se fazer muito melhor.
    É um canal muito repetitivo e com algumas grelhas sem grande interesse. Da-se muita cobertura a gentinha prochineta, que anda por lá só para se mostrar.
    Há que se trabalhar mais e melhor e não se fazer do canal uma pousada de repouso.

    O PORTO É GRANDE, VIVA O PORTO.

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  2. Silva Pereira05/08/13, 15:20

    Boa tarde,
    Estou completamente de acordo.
    Que este país está convertido ao poder centralista e esse poder corrompe e simultaneamente se perdeu o sentido dos valores da ética e do dever cívico. Há muito tempo que tenho essa convicção.
    Já várias vezes abordei esse tema do JM. É mais um que se serve do portismo para levar uma vida boa. Ele tem o desplante de aparecer ao écran a fumar um puro no local de trabalho (contra a lei) é como aquele (portista) que se indigna contra a miséria, os privilegiados mas que se vende a um pasquim que tudo faz para denegrir o FCP e assim vai comendo as suas "abrótea com amêijoas e um xerém com lingueirão".
    O que me indigna é JM dê como garantido que tem conquistado por direito o público portista (deve ser influência dos companheiros do Rascord) e amigalhaços da capital.
    Enfim o P Canal está cada vez pior, repetições atrás de repetições. JNPC tem de rever os seus fundamentos, pois para quem dizia que a parceria com o PC era para que fosse diferente dos outros canais de clubes sempre a repetir o mesmo e simultaneamente dar voz e expressão ao Norte, nada disso se verifica.
    Ora o que se vê é um canal cada vez mais banal e talvez para calar os colaboradores são premiados com viagens que redundam em reportagens sem interesse. Faz-me lembrar aquelas revistas (e TVs aquela reportagem daquele bacoco luso brasileiro se fosse num programa de apanhados ainda se compreendia agora passar no Telejornal de monstra o ridículo a que se chegou) que vivem para (e dos) os párias e vão às suas festas para editarem as fotografias.

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  3. Se não há dinheiro, há o respeito pelos espectadores alvo, que são [ou deviam ser, digo eu], antes de mais, os nortenhos. E o respeito não é atirar areia para os nossos olhos, com as grandes audiências, quando o que vemos é uma sucessão monótona e arreliante de programas gravados [e não me refiro apenas aos desportivos] e de espaços mortos, que não cabe na paciência de um cego e apenas serve para afugentar audiencias, que é o que se está a passar comigo.

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  4. Silva Pereira,
    Não tenho nada contra a vida das pessoas, desde que a mereçam e a gozem de acordo com as suas possibilidades. O que me choca, é que transmitam a ideia de tudo estar a correr muito bem, quando a gente percebe que não está, e adoptem tiques de novoriquismo contrastantes com a produção pífia do trabalho realizado. É só isso.

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  5. o que me parece, é que Júlio Magalhães está dando sinais de temer perder a confiança dos amigos da capital, talvez com receio de um dia ter de lá voltar.

    Na mouche amigo Rui Valente!
    O âmago da questão é esse mesmo!
    Temos no norte gente de qualidade e competência mas com grande receio de se assumirem como nortenhos sem restrições!|
    Com um receio confrangedor de desagradar aos senhores da capital e por isso verem as suas carreiras truncadas se as coisas correrem mal cá na parvónia!
    Ainda não repararam que as coisas correm invariavelmente mal cá na parvónia por isso mesmo!
    Porra!!!Temos de assumir aquilo que somos! Não podemos jogar toda a nossa vida com um pau de dois bicos!
    Se correr mal que se lixe!É resultado da nossa incompetência! Vamos ser passados pelas armas! Se correr bem é uma maravilha! É um povo que recuperou o seu amor próprio! Que deixou de ser provinciano e isso é bom para todos! Lisboetas incluídos!
    Afinal numa revolução cabem ambiguidades?
    Atenção!Isto não é uma critica a Julio Magalhães mas sim uma critica a todos os Julio Magalhães de todas as províncias deste país!

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  6. Silva Pereira06/08/13, 20:23

    Boa tarde,
    Meu caro Rui Valente (talvez) não conseguisse expressar corretamente o meu pensamento. Também nada tenho contra a vida das pessoas, mas aprendi em pequeno que o recato e postura deve ser coerente. O que me choca é ver recursos desbaratados em programas sem interesse nenhum podendo investir em tantos temas de interesse para a população do Norte.
    Evidentemente que a dimenção não é comparável aos casos BPN/BPP, SWAP, Parcerias, acabando sempre o remédio por ser o mesmo cortar nos ordenados, pensões, aumentar os impostos/taxas e a encomenda aos serviços públicos da caça às coimas.

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  7. O problema do JM e de muitos como ele, é que querem dar-se com Deus e com o Diabo e quem é de cá de cima, não pode escolher esse caminho. Tem d e ter coragem para dizer certas verdades, não pod eestar com um pé num lado e outro noutro, fazer jornalismo a pensar no amiguinhos que no futuro, s e a coisa correr mal, lhe vão arranjar um lugar.

    Como diz o Silva Pereira e nós já temos falado nisso, é possível o DG do PC, gerido pelo F.C.Porto, ser colunista de um jornal que tem um dos mais primários anti-portistas, como director? Um jornal que não só não respeita o FCP, como o trata mal?

    Abraço

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  8. Condor,
    Exactamente. O mal desta gente é pensar que o povão anda todo a dormir e que confunde estratégia com oportunismo.

    Um dia ainda vamos vê-los a almoçar, ou a jogar golfe com talibans, em nome do Porto para o Mundo...

    Silva Pereira,

    Você expressou-se muito bem, não tem que se desculpar.

    Vila Pouca,

    Então, pode compreender-se que o Juca convide gente para debater a falta de liderança do Norte e o centralismo, quando ele próprio
    escreve num pasquim de facínoras como o Record? Mas não é só ele. o Miguel Sousa Tavares é outro. O Guilherme Aguiar, idem. Só o Manuel Serrão se safa, porque apesar de participar nunca os deixa sem resposta. E responde quase sempre bem.

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  9. infelizmente muito do que aqui leio, está de acordo com o que penso, o que quer dizer que o Canal vem perdendo muita da qualidade que poderia ter.
    Por aqui caminhando, será em breve uma ténue recordação.
    E pensar eu que me chateei mais de 3 anos com as operadoras que só dispensavam o canal, se lhes subscrevesse a "caixinha". Felizmente que disse não.

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  10. Há uns meses deixei aqui a minha opinião sobre o Porto Canal. Se me permitem, reforço-a, porque considero que a coisa vai de mal a pior. Sem entrar em julgamentos de carácter, acho que o director do Porto Canal devia preocupar-se mais com o que tem dentro, do que se auto-glorificar na praça pública dos parcos sucessos do “seu” canal. O Porto Canal podia ser, de facto, um canal diferente, com uma agenda informativa inovadora e acutilante (combativa, à moda do Norte), com conteúdos frescos, protagonistas alternativos à corte bafienta dos paineleiros de Lisboa, programas de entretenimento que fugissem à TV-Bordel….podia ser isto tudo, mas não é. O Porto Canal é fraquinho do intelecto e, cheira-me, está mais vocacionado para agência de empregos a aspirantes jornaleiros formados no ISMAI e na Fernando Pessoa, do que a ser uma verdadeira estação de televisão.

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