17 fevereiro, 2014

Mude-se o paradigma da importância

O que pode dar este homem ao Norte?

É fácil aderir às causas quando a maré é favorável. Nessas circunstâncias, qualquer sevandija imita o nobre, tal como o sendeiro parece um cavalo de raça. Lamentavelmente, é mais este, que outro, o comportamento de um grande número de "lutadores" de marés. Pesssoas que ironicamente pertencem na sua maioria a grupos sociais tidos como os mais "relevantes". Políticos, grandes empresários e jornalistas predominam, constituindo-se como os maiores entraves ao refinamento da democracia.

Não direi que a "maré" da descentralização tenha chegado aos media nacionais, porque lá para a capital continuam a não ligar nada ao assunto, e então se lhes falarmos de regionalização, reagem como se viéssemos de um planeta estranho e falássemos uma língua diferente. Para Lisboa, esses dois temas, (descentralizar e regionalizar), são ambivalentes. Por um lado, funcionam como um alarme, do tipo "estes gajos afinal não dormem",  e por outro, como um súbito sentimento de patriotismo normalmente ligado à "coesão" nacional. Naturalmente que, esse sentimento de coesão é tão falso e acintoso como a indiferença com que olham para a discriminação promovida ao resto do país, com mais evidência a Norte.

É verdade que muitos nortenhos das classes que indiquei (e não só), são responsáveis pela macrocefalia crescente de Lisboa, mas também ainda não vi nenhum lisboeta incomodar-se com a situação. Há quem ache isso normal, quem diga que quem está bem com o que tem não queira mudanças, mas se é normal, então talvez ficasse bem não se melindrarem quando associamos o centralismo aos lisboetas, porque se quisessem provar que confundimos as coisas, talvez surtisse algum efeito mostrarem alguma solidariedade connosco . Só assim teria eco a tal coesão nacional só evocada quando o fantasma da regionalização paira no ar...  Até hoje, ainda não vi um só lisboeta assumidamente regionalista. O que vejo, sobretudo nos políticos, é a tal assunção regionalista de marés. 

Ninguém pode negar a verdade do que atrás escrevi. Contudo, o Porto e o Norte, tendo uma boa oportunidade para mudar esse rumo desvirtuado de fazer política, dispondo agora de um canal de televisão pró-descentralização, parece não querer aproveitar a oportunidade para mostrar como se pode fazer jornalismo sério, nacional e competente, sem plagiar o déjà-vu que se faz na capital do país.

É incompreensívelmente provinciano acreditar que o prestígio de um canal de tv se ganha com a cooperação de derrotados, só porque são famosos, em vez de procurá-lo entre gente credível, com carácter e sem rabos de palha. Fosse minha a responsabilidade, o Porto Canal daria protagoismo a figuras com futuro, nunca àquelas com um passado cinzento, sem êxitos verdadeiramente relevantes para a região (o país não é Lisboa).  E, principalmente fecharia as portas a quem se sabe, ou se suspeita ser apologista do centralismo. Isto para alguns, até poderia parecer anti-democrático (pareceria mesmo?), mas continuar a dar voz a quem nos prejudicou seria repetir novo erro, seria regredir, era uma verdadeira pedra na engrenagem no processo descentralizador. O tempo dos debates sobre o tema já se esgotou. Quem for nortenho, e se depois de tantos anos de discriminação ainda tiver dúvidas sobre a necessidade de combater o centralismo, ou é tolo, ou vive na Lua, ou por qualquer razão anómala não quer mesmo que as coisas mudem.

Historicamente, o medo munca foi o melhor aliado dos vencedores.

PS-Há jornalistas e políticos honestos, mas são uma minoria facilmente identificável. 

5 comentários:

  1. A regionalização só anda na boca ou na berra de alguns quando lhes dá jeito.
    A nível político, falam em regionalização nos sítios que lhes dão votos. Nem o partido Comunista nem blocos esquerda já para não falar em PS, CDS e PSD querem a regionalização, todos eles são partidos centralistas. Ainda me lembro, quando falavam no Porto capital do Norte, azia que dava ao próprio Álvaro Cunhal. Olhem o caso mais recente, é deste Miguel Seabra da concelhia do Porto do PSD, quando lhe perguntaram se levava em agenda para Lisboa a regionalização; diz ele, qual regionalização vou é tratar de assuntos do partido.
    Belmiros, Américos Amorins, niguém quer que lhes falem em regionalização, querem é o tacho deles.
    O centralismo, é uma espécie de ditadura, de poder, dá jeito a muita gente, a democracia só está no papel e regionalização no cesto dos papeis, é este o país que temos. Então os dinheiros que vêm de fora ficam a onde!? na capital do império, claro.
    Democraticamente são todos muito honestos de sovinice.

    O PORTO É GRANDE, VIVA O PORTO.

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  2. O Porto Canal tem realmente sido uma grande decepção como diz. Não se pode estar a pregar a descentralização e depois ir entrevistar aqueles que sempre foram contra com a desculpa que somos um país muito pequeno.

    Eu próprio nunca fui um grande adepto da regionalização mas quando vejo o centralismo deste país tão pequeno resolvi votar a favor da regionalização como uma tentativa de mudar alguma coisa.

    Toda a gente está cansada destes políticos que se aproveitam do regime para benefício próprio mas quando se começa um projecto que poderia ser uma pedrada no charco e se vai buscar esta gente para entrevistar acho que está tudo dito. Tinha grandes esperanças em Júlio Magalhães até porque o vi muitas vezes a defender uma alteração do "status quo" mas afinal foi outro que quando chegou a líder se tornou mais papista do que o papa. Espero muito sinceramente que o clube dê um murro na mesa para se alterar este estado das coisas no Porto Canal senão parece-me que o seu futuro não vai ser grande.

    O Porto Canal foi criado para ser um canal do Porto para o Norte e se assim não for não vejo o interesse de o ter.

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  3. Nuno,

    como diz o ditado,só não mudam os burros, de mais a mais quando é para procurar melhorar. Portanto, felicito-o pela decisão.

    Além do que referiu, quem estiver atento, verifica haver um descontrole crescente naquela casa. Então aos fins de semana parece que aquilo só funciona à base de gravações. Isto pode ser um sinal de carências fionanceiras, mas com boa vontade e alguma imaginação podiam (e deviam) fazer muito mais e melhor.

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  4. Olhem o centralismo no desporto!!!
    Por causa de uns simples 2,45 minutos o alarismo que anda no Império Centralista: RTP,SIC,TVI no jornal pasquim da bola, Rascor e afins. Escutas que andam cá fora CD da FPF sobre o caso! Todo o mundo já sabe o que vai ser decidido! Audiências ao presidente calimero paladino da verdade! E cá, no Porto Canal nada! Toda a gente sabe que os vermelhos e calimeros, mais os lampiões, estão fartos de perversão, e Porto Canal nada! Quem cala consente.

    O PORTO É GRANDE, VIVA O PORTO.

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  5. Rui Valente,

    Na altura (quando foi feito o referendo da regionalização), tal como lhe disse, votei a favor por uma questão de tentar uma mudança mas sabendo ao mesmo tempo que os políticos que temos não são de confiança. No entanto, passados estes anos todos (16 acho) e com o brutal agravamento do centralismo sou frontalmente a favor da regionalização mesmo com estes políticos. Infelizmente não me parece que as cúpulas partidárias (todos, da esquerda à direita) não querem a regionalização porque os tachos deles dependem também deste centralismo bacoco e atávico que cada vez mais atrofia o país. Tenho alguma esperança em Rui Moreira (não muita, diga-se) mas só com uma aliança das várias câmaras do Norte se poderá ser efectivo nalguma descentralização.

    Se o Porto canal tem carências financeiras, não sei mas tenho a certeza de que se poderiam ocupar espaços com outro tipo de programas e fundamentalmente dando voz a pessoas do Porto (clube e cidade), do Norte e que estejam interessados em ajudar a nossa região em vez de ir buscar esses "paineleiros centralistas". Alguns nortenhos são muito piores do que os lisboetas. Um destes dias ainda vamos ver a serem entrevistados no Porto Canal o Cervan, o Gomes da Selva ou Carlinhos Daniel.

    TRISTE, MUITO TRISTE!

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Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...