26 janeiro, 2015

Bom portismo, bom partidarismo, o que é isso?

Para ser franco, ainda não sei bem o que é ser um bom portista. Quando ouço falar em bons e maus portistas, as únicas situações que me irritam e me infundem tristeza, são por exemplo, aqueles comentadores que, assumindo-se como portistas são incapazes de defender o clube quando ele está a ser atacado pelos seus adversários, como acontece nos programas de tv ditos desportivos. Outra situação que detesto - mas essa, já tem a ver com a inteligência de cada um, e não tanto com o carácter -, são aqueles anormais que mal começa um jogo já estão aos berros a insultar tudo e todos. De resto, compreendo, mas discordo daqueles que acham que, para se ser um portista de eleição é preciso apoiar a equipa em qualquer situação ou circunstância , quer jogue bem ou mal. Tudo deve ser avaliado à luz de alguma relatividade, senão tornámo-nos uma espécie de robots desalmados sem sentido crítico. Aliás esta ideia de solidariedade é tão demagógica e nefasta como votar em partidos que depois de passarem pelo governo dão provas cabais de incompetência e falta de seriedade. E isso tem acontecido. E isso  significa também que esses eleitores, que não ousam romper com o seu próprio conservadorismo político, ou com a seu comodismo cívico, são também co-responsáveis pela (péssima) qualidade da governação que contiuamos a ter.

Desculpem a dispersão, mas estas coisas da política e do futebol têm muito em comum, senão reparem: as eleições legislativas estão a aproximar-se, como sabem. Então, de que é que começamos a ouvir falar nestes momentos: da  Regionalização. Isso mesmo, Regionalização! A tal palavrinha mágica que aparece e desaparece, com mais regularidade que as próprias estações do ano. Mas nestas alturas, não é o clima que se altera, são as eleições que alteram as vontades dos políticos... E qual devia ser a reacção natural do povo - sobretudo o do Norte -, depois de andar a ser sistematicamente enganado com esta chupeta da regionalização? Seria votar outra vez cegamente nesses mentirosos, ou exigir-lhes provas, compromissos legais de que estão realmente empenhados em avançar com a Regionalização? A realidade diz-nos que o sentido acrítico do povo não encara estas questões com o cuidado que elas merecem e tende a repetir erros passados porque o grau de exigência é muito limitado. E os políticos carreiristas agradecem.

Agora, vejam um exemplo do que acontece no futebol. Quaresma (por exemplo) é um jogador habilidoso cujo talento nunca chegou a um exponente superior por culpa própria. O FCPorto deu-lhe visibilidade como deu a outros jogadores e treinadores, vendeu-o ao Barcelona,  depois foi para o Inter de Milão e Chelsea, mas nunca chegou a impor-se em nenhum destes clubes. E por quê? Porque as equipas de top querem jogadores habilidosos, mas sobretudo que sejam capazes de gerir as suas capacidades técnicas em prol da equipa e não sobrepôr-se a ela. No entanto, há um grupo de fâs do Quaresma que só vê nele a finta e os golos de trivela (poucos) que marca, mas não é capaz de o censurar quando emperra uma jogada ou se perde em fintas e fintinhas inconsequentes. E assobi(av)am o treinador quando ele o substituía, quase sempre com razão. Ora, estes adeptos, tão pouco criteriosos com o futebol, também não podem ser bons eleitores, e provavelmente votam na mesmice política e partidária (PS/PSD/CDS). Alguns, criticam tudo e mais alguma coisa, mas são incapazes de sugerir uma ideia para resolver o que quer que seja. Falam-lhes em Regionalização e não querem saber o que é, ou então absorvem os bichos papões que os políticos "regionalistas convictos" lhes impingem quando chegam ao poder.

Voltando ao bom portismo - sendo embora a clubite um tema mais afectivo que político -, pergunto se teremos de ser também bons eleitores, e se para o sermos, fará algum sentido votar sempre no mesmo partido? Para mim, não faz. Mais. Como os políticos são gente sem vergonha, só votaria naqueles partidos cujos representantes admitem agora a Regionalização se assumissem um cumpromisso pessoal e notarial, com força jurídica, como garantia de avançar com o processo, sem interrupções, nem desvios. Mas como não tenho forma directa de votar à condição, o mais certo é não votar, porque tenho toda a legitimidade para duvidar de promessas meramente eleitoralistas de auto-promoção. Como cidadão, os meus votos só podem ter uma direcção: o País! Não os políticos, que na maioria dos casos, não têm a menor categoria para o representar.

Actualmente o FCPorto está a passar por uma crise de liderança. Não há dúvidas! Hoje o clube tem outro compromisso com os portistas (e não só), que é o Porto Canal. Um e outro, não andam bem. Nota-se. Os resultados desportivos são desanimadores, a comunicação com os adeptos, agora que há meios, está pior do que nunca. Pinto da Costa, nem o facto de ter sido vítima de uma cabala mascarada de processo, o incita a reagir às incidências sistemáticas de um outro processo em curso (este sim, concertado, planeado) para prejudicar o FCPorto. Pergunto: como é possível o bom portismo, quando o comandante do navio parece navegar à deriva alheio aos sinais de alerta vindo de alguns adeptos, sobretudo daqueles que sempre estiveram com ele? Como é, ser bom portista? Ver o navio descontrolado, a afundar-se, sem esboçar uma reacção defensiva, e deixá-lo mergulhar completamente, ou dar um berro para ver se o capitão acorda?

Se calhar, bom portismo, é não permitir que aquilo a que me habituei garbosamente a elogiar durante anos, passe a ser um circo a céu aberto e a inspiração dilecta da chacota centralista.

PS-Apesar de tudo, a sorte ainda não nos abandonou de vez... Mas, não nos iludamos lá porque o clube do regime perdeu. Continuamos a precisar de uma liderança forte e pro-activa. Agora, mais do que nunca.


4 comentários:

  1. O FCP primeiro tem que fazer reflexão virada para "dentro de casa".
    Reflexão mesmo, Competente, de Qualidade.

    E depois se quiser reagir a este "panorama nacional" tem que ser com "outro método", pois PC tem 77/78 anos e não muita saúde.

    Mas ainda pode ser utilíssimo se fizer leitura correta da situação.

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  2. Quanto à Regionalização foi "armadilhada" na ultima revisão constitucional e não se fará pois os interesses centralistas sediados na capital não deverão deixar.

    Venha de lá pelo menos a Descentralização Efectiva, mas nem nessa acredito muito, que seja possível.

    Há quem não queira apesar do que diz.

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  3. Portistas somos todos, agora depende como reagimos; e a reagir não somos todos iguais.

    Jogar com jogadores emprestados que vêm para o FCP só para treinar, e não metem o pé, outros, tipo prima/dona que amuam por tudo e por nada que até dizem querem sair ou serem emprestados. Acabem com a raça desta gente e metam alguém que ainda sinta o clube.

    A Regionalização para uma grande maioria de políticos, só serve para caçar votos, e, depois vai para o caixote do lixo. Na caça ao voto impera sempre a mentira e a hipocrisia.

    Abílio Costa.

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  4. O FCP precisa de um ABANÃO "por dentro" e se calhar já não é de agora.

    E Porto Canal precisa de outro.

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Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...