Insisto em publicar mais um trecho do livro que acabei de ler, "Uma geração traída" de Sarmento Pimentel, herói da luta republicana, contra a ditadura de Salazar e Caetano, para que os leitores possam confirmar que o 25 de Abril pouco ou nada serviu para mudar as mentalidades tacanhas e oportunistas dos políticos portugueses. O livro foi publicado em 1976 e a entrevista foi concluída a seguir ao 25 de Novembro de 1975.
Pergunta de NL:
E que pensa da informação, da imprensa, e dos outros órgãos de comunicação social?
Resposta de SP:
De um modo geral (estávamos no Outono de 1975), antes da viragem do 25 de Novembro), em vez da objectividade e da independência que era de esperar, verifico que manipulam a informação ao sabor das ideologias dos partidos que dominam os jornais e das pessoas que os orientam, dando ao povo uma imagem incorrecta da democracia, cheia de luz artificial e difusa, que não deixa distinguir a verdade das falsas ideias claras que se empenham em propagar. Dá-se este absurdo, impossível em qualquer país, por mais socialista ou democrático que se conceba:
o Governo a alimentar, a pagar regiamente aos seus detractores, para o insultarem, para incitarem à desordem ao golpismo, para denunciarem comprometidos da direita ou revolucionários da esquerda, difamando, caluniando, mentindo, criando um ambiente que compromete a estabilidade política e mina a confiança nos governantes. Isto acaba no dia em que o Governo se decidir a cortar o mal pela raiz, a deixar de alimentar os mentores de certo jornalismo e a cobrir os défices fabulosos de certos jornais.
Nota de RoP:
Houve um determinado momento, após os primeiros excessos resultantes da euforia do 25 de Abril, que, entre muitas outras coisas, se impunha reformular a ordem social, mas não foi isso que aconteceu. Mário Soares, em vez de o fazer, deixou-se embriagar de Liberdade e esqueceu-se de governar, de pensar o país. Mas não foi o único. Para muitos, recém convertidos à democracia, a atitude de Mário Soares até lhes serviu de embalagem para a louca maratona de desmazelo e irresponsabilidade a que ainda hoje temos de assistir.
Nunca acreditei que desautorizar publicamente um agente da autoridade fosse um bom exemplo de cidadania numa democracia, e o resultado é o que sabemos. Nem nos respeitam, nem se respeitam a si próprios, os políticos, claro.
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