31 março, 2016

A gula dos aparelhos partidários mata a política

Manuel Pizarro

Não me atrevo a prognosticar o futuro sobre o que vou dizer a seguir, mas uma coisa é certa, os partidos políticos têm de repensar muito bem o modo como lidam com os cidadãos, sob pena de deixarem cair de vez o dogma da sua imprescindibilidade social em democracia. 

As abstenções, ao contrário do que os próprios políticos apregoam, são cada vez mais uma demonstração cívica reflectida de protesto, do que um sinal de desinteresse. Há novos protagonistas "independentes" que começam a embaraçar os aparelhos partidários, e a ultrapassá-los, mas a culpa é exclusivamente destes últimos.

Penso em Manuel Pizarro, e nas pressões de que está a ser alvo por parte do aparelho socialista  no sentido de o convencerem a apresentar uma candidatura própria às próximas eleições da autarquia portuense. Ao fazê-lo, o Partido Socialista está a cometer duas asneiras básicas. A primeira, talvez a mais grave, é desprezar o papel altamente digno do colega Pizarro que, em vez de criar obstáculos ao trabalho de Rui Moreira, optou por cooperar. Cooperação que se louva, sobretudo porque ninguém pode dizer que a gestão camarária não evoluiu significativamente em muitos aspectos comparativamente ao seu antecessor Rui Rio. Não é perfeita (há muito que fazer) mas é dinâmica e altamente interventiva, coisa rara no Porto, nos últimos anos... 

Manuel Pizarro tem revelado o bom senso que alguns colegas de partido não têm: os portuenses primeiro, o partido depois... Outro erro político do PS, é ignorar que nas circunstâncias actuais, em que Rui Moreira tem assumido (e bem), papel preponderante na defesa do Porto e do nordeste peninsular (Galiza incluída), que carrega a bandeira contra o centralismo, coisa que os políticos prometem mas acabam sempre por não cumprir, faz com que os cidadãos concluam que o PS se interessa mais pela conquista de lugares, do que pelos interesses do povo. Eu retirei a mesma conclusão.

Não me admira pois, que Marcelo Rebêlo de Sousa tenha bebido alguma inspiração no exemplo de Rui Moreira. Não que os estilos se confundam, até porque têm personalidades diferentes, mas a capacidade de comunicação é algo semelhante. Os próximos tempos dirão se o PS aprendeu de vez a lição, ou se pretende perder mais eleitores. Não é Pizarro que está mal, é parte do PS.


Sem comentários:

Enviar um comentário

Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...