André Rubim Rangel |
“O Porto é uma cidade de cores inclinadíssimas; podes ler debaixo de qualquer sombra – e nada encontrarás debaixo da aparente claridade. No Porto, como numa câmara escura, só o que é nocturno revela; e eu gosto disso” (Gonçalo M. Tavares, in «em torno de camélias, com um porto»).
Ao nono mês em que colaboro e escrevo, com agrado, para este jornal digital diário, é-me vislumbrado ir buscar ao baú das recordações – de textos meu antigos – uma crónica que publiquei em ‘O Primeiro de Janeiro’, por sinal coincidente a nona que fiz nesse jornal, igualmente portuense e regional. Já lá vão 10 anos e 7 meses. Mas a data não importa, mantém-se atual e serve para o que pretendo aqui reiterar. E o título dessa antiga e renovada crónica
empresta o mesmo nome a esta que aqui assino. Por três razões muito simples:
empresta o mesmo nome a esta que aqui assino. Por três razões muito simples:
I) Fazer memória de algo passado que seja bom é ainda melhor quando não se quer esquecer, mas reviver; por isso, nem sempre é mau quando se reedita algo, não sendo portanto sinónimo de não se ter nada mais para dizer ou acrescentar.
II) Porque o sentimento sobre este meu e nosso Porto é o mesmo de há uma década que o escrevi ou de algumas décadas que nele nasci e nele sempre vivi e aprendi, embora agora esse sentimento seja cada vez mais sólido e consolidado, mais amado e revigorado.
III) E já que a ideia de reavivar esta partilha sobre o pulsar e o compulsar da sempre mui nobre e leal cidade Invicta é, assim também – em dias que Lisboa e certos deputados voltam a espicaçar o Porto (IMI.tando outras situações pretéritas) – o de reafirmar o meu apoio, estima e amizade por quem a governa, pelo presidente Rui Moreira – principalmente – e pela sua vereação ativa e pelo povo portuense, que continua a “fazer das tripas coração”.
Já diz a letra da música, com bom canto e encanto, que «o Porto é o altar da nossa fé e será eternamente orgulho da nossa gente; é minha saudade, é meu conforto e eu sinto vaidade em dizer que sou do Porto». Sinto-a como se fosse realmente minha herdade, minha identidade.
O Porto tem muito de si, uma carga medonha de História, de tradição, de cultura, de princípios e de paixão. Note-se a quantidade de letristas (poetas, músicos, escritores e pensadores) e artistas que representam e retratam o Porto nas suas obras-primas e, cada um, com seu cunho pessoal. É também esta pluralidade e diversidade que lhe dá mais riqueza e maior mérito.
Já na época Salazarista, no pós 25 de Abril – e actualmente –, encontram-se grandes e agraciadas personagens provenientes do Porto e do Norte (entidades, políticos, empresários, …). Portanto, a idoneidade sobre a capital não pode ser fora da diferença e absoluta paridade do Porto, que tem o que fez e o que construiu.
Nada lhe foi nem pode ser furtado, muito menos desbravado! De facto, o Porto precisa de uma maior centralização de poder, sem ficar estigmatizado pela regionalização e passando pela descentralização lisboeta.
O Porto é cidade e concelho, distrito e diocese demarcado de certezas, apesar do núcleo da antiga cidade pautar-se pela incógnita ainda hoje debatida: Cale (séc. II d.C.) e/ou ‘Portucale’? Eis a questão. O prefixo ‘Portus’, que surgiu ‘a posteriori’, veio reforçar a nossa nomenclatura. Tornou-se uma redundância (Porto-porto).
Enfim, é mais uma no meio de outras já obstinadas a subsistir, como “Sé Catedral” ou “Senhor Dom”. Se ambas as palavras significam o mesmo porque se emparelham? Escolha-se e diga-se uma ou outra e nunca as duas em simultâneo!
Como diz o outro: “não havia necessidade!”. E não havia mesmo.
Embora o Porto possa ser uma cidade cinzenta, caótica no trânsito, com muitas casas abandonadas, com zonas denotadas e inexistentes de planeamento urbano, não perde o sentido, nem o destino lhe é torto. Pois, o Porto é sempre o Porto!
Cidade Invicta que nos alegra e prestigia com destreza convicta! Tem um humanismo próprio, um acolhimento peculiar, uma capacidade de iniciativa determinante. Valor incessante.
Amor e labor são os dois ventrículos de ser portuense com ardor, são entrega generosa de epíteto “tripeiros”, são dois escudos que nos defendem com fulgor e sem dor!
André Rubim Rangel
(Porto 24)
Está tudo dito, quem fala assim é Tripeiro.
ResponderEliminarAbílio Costa.