18 abril, 2017

Onde pára o orgulho tripeiro?

De que é que estava à espera, Pinto da Costa?

Como é que, num país que anda à séculos a orgulhar-se da sua velha história, pode restaurar esse orgulho, se hoje nem sequer depende de si próprio? Como é que um país pode progredir, se continua a sacrificar o povo com salários miseráveis, dos mais pobres da Europa, ao mesmo tempo que permite a prosperidade aos criminosos de colarinho branco? A resposta é dura, mas é simples: porque tem sido gerido por gente com critérios baixíssimos de seriedade e rigor. 

Sendo isto uma realidade (e é, mesmo), quando vemos o comum cidadão a orgulhar-se da pátria por causa da fama de um jogador de futebol, é porque não tem mais de que se orgulhar, porque nada mais espera da vida. Esse cidadão, é um infeliz, um lacaio, um limitado. É um, entre muitos que por aí andam, que contribuem para levar ao poder gente que se aproveita da sua indigência para o explorar. A estes cidadãos do país/futebol, não chamo bons portugueses, chamo indigentes. 

Eu também gosto de futebol, como é aqui sobejamente manifesto. E gosto do FCPorto, que é o meu clube. Mas se calhar, gosto do FCPorto porque ainda gosto mais da cidade que lhe deu o nome, onde nasci, cresci e fui criado. Vejo nesta simbiose perfeita (Porto/FCPorto)  muito mais que o clube, vejo a minha terra natal, a minha primeira pátria, o meu mundo, o meu lar predilecto. É este sentimento de posse, esta afinidade com o lugar, a sua gente, e sobretudo com a sua história, que me faz repudiar o comportamento dos portuenses face ao que outros andam a fazer à nossa cidade, independentemente de serem portistas, ou não.

Aqui chegados, nenhum portuense tem legitimidade para se considerar portuense, quando por razões clubistas, ou outras, é incapaz de se insurgir contra a discriminação que tem sido levada a cabo contra o mais simbólico clube da cidade que o viu nascer. O futebol, e a sua clubite, não justificam tudo, muito menos a negação das origens de cada um. Virar as costas ao Porto, calar, ignorar o que nos estão fazendo, portista ou não, é cuspir na cidade do Porto. Por mais justificações que apresentem, silenciar estas coisas, é apunhalar o coração da cidade.

E o que dizer agora dos portuenses/portistas?  Desde o Presidente do FCPorto, aos colaboradores. Todos! O que acham que tipos como eu pensam sobre a vossa permissividade, o vosso silêncio, face à humilhação a que nos procuram submeter? Onde encaixará aqui a divisa "Somos Porto" ? 

Não me interpretem mal, não tenciono promover guerras, até porque elas já foram declaradas há muito por outros, mas também não aceito provocações, que é o que nos estão a fazer. Só queria saber o que é que temem, para vos compreender, para calcular até que ponto nos vai conduzir a vossa apatia (para não dizer outra coisa)?

Na noite do jogo com o Braga (outra cidade que gosto, mas não posso dizer o mesmo das suas gentes, porque parecem não gostar do clube da sua terra), eu que ando zangado com Pinto da Costa, tive pena dele. Tive pena do homem que soube cultivar uma imagem altiva de si próprio, forte, e que agora anda meio perdido entre aquilo que foi, e o que é agora. A  cena aconteceu quando se levantou da cadeira para deixar a má companhia que o ladeava, para se sentar junto dos seus companheiros portistas. Foi a decisão certa, e que louvo. Os anfitriões mereciam isso. Mais uma vez, um agente relevante do governo, Secretário de Estado do Desporto, provou pelo seu comportamento infantil que não tem a mais pequena noção do cargo que lhe foi conferido. Para mim, já não é surpresa... 

Não foi desta maneira triste que imaginei o fim de carreira de Pinto da Costa. Ele não está a respeitar-se a si próprio. Nos últimos anos tem sido o seu pior inimigo, porque não quer perceber que já não pode lutar contra um sistema corrupto, com tentáculos por todo o lado, que vão muito para lá do futebol. O que lamento, porque com todos os defeitos que Pinto da Costa possa ter, foi um homem que deu muito ao FCPorto em termos desportivos e, implicitamente, também económicos.  Sempre pensei que tivesse o bom senso de sair como ele prometeu: quando não se sentisse em condições para continuar a liderar o FCPorto. Ele tenta convencer os adeptos que lidera, mas contra factos os argumentos caem por terra.

PS-Suponho que ninguém duvidará que procuro sempre ser o mais coerente possível com o que escrevo. Mesmo assim, repito: não acredito que o FCPorto ganhe este campeonato, mas isso não significa que não haja "milagres". Ainda é possível. Se tal acontecer, fico feliz na mesma, quanto mais não seja pela acidez que isso irá provocar em certa gentinha. Mesmo assim, salvo uma grande reviravolta estratégica na gestão do clube, não acredito no futuro se Nuno Espírito Santo continuar como treinador do FCPorto. 

7 comentários:

  1. ... Vejo uma simbiose perfeita Porto/FCP, eu também partilho, penso que que neste momento é difícil viverem um sem o outro.
    Pinto da Costa foi um grande lutador pela região e FCP o clube agradece~lhe o que o FCP é hoje, mas, está cansado mais velho, porque sei se assim não fosse, outro galo cantaria.

    Não se pode estar sentado ao pé de gente que não o merece, nem sequer deveria ir para lá, estamos cheios deles seja secretario de estado ou sejam caloteiros. Nunca gostei de vermelhos, muito menos de quem tem amor por dois clubes com mais amor por o da 2ª circular.

    Também não gosto de quem tem sempre na boca Somos Porto, fortaleza do Dragão, e depois não defenda o FCP, tendo sempre um discurso de bom rapaz, destes estou eu cheio, isto, já para não falar dos pontos perdidos não só pela encomendas das arbitragens, mas também por má decisões do treinador.

    A guerra contra o centralismo e clube do regime meu caro Rui, tem que continuar, não me quero sentir espezinhado só porque sou do Norte ou da cidade do Porto e do Clube. Não estamos na Coreia do Norte na América do Sul estamos na Europa em que Portugal é atrasado exactamente pelo centralista.

    Abílio Costa.

    ResponderEliminar
  2. Abílio,

    você, tenho de o reconhecer, a par de mais alguns carolas que costumam seguir o Renovar o Porto, são a excepção à regra daquilo que aqui acabo de escrever. Ou é porque discordam das minhas opiniões, ou por outras razões que me ultrapassam, a verdade é que o interesse em opinar é praticamente nulo. Já o futebol, absorve-os completamente, o que explica em parte a nossa actual fragilidade (clube e cidade).

    O que sei, é que não conheço muitos blogues portuenses a defender ao mesmo tempo a cidade e o clube, como se fossem realidades diferentes.

    O que estão a fazer ao FCPorto está directamente relacionado com compromissos políticos e comerciais que alguns temem reconhecer. Às vezes temos de viver e conviver com más companhias, e o preço é este: submissão.

    ResponderEliminar
  3. Qualquer Portista ou Portuense que separe o futebol e a política, desporto e centralismo, vive fora da realidade.

    O legado Salazarista foi absolutamente brutal. Em nenhum outro país, regiões tão desviadas da capital apoiam de maneira tão fanática um clube desportivo dessa mesma capital, sempre em detrimento do clube da sua terra, com todas as implicações a nível económico e cultural que isso acarreta.

    O mais impressionante é que isto nem chega a ser motivo de debate na sociedade portuguesa.

    É o completo culto da submissão regional e da aculturação. É analfabetismo a mais para a minha cabeça.

    ResponderEliminar
  4. Soren,

    como é que um país tolhido numa rede mafiosa pode promover debates que a denunciem? É complicado, meu caro...

    Às vezes pergunto-me qual será a utilidade do Porto Canal, se não servir para denunciar estes casos, e promover programas como os que você sugeriu? É como os blogues, entre os quais incluo o Renovar o Porto mesmo não sendo dedicado ao futebol, que não fazem outra coisa senão denunciar, denunciar. E o resto? É como se começassemos o ano a ver um ladrão roubando e passá-lo dia após dia, a dizer ali vai o ladrão sem chamar a polícia. É isto que está a acontecer: o ladrão é o próprio Estado português, e o ladrão é toda uma cambada de crápulas que se divertem a destruir o país, dividindo-o.

    ResponderEliminar
  5. Não sei porquê, mas acredito que ainda vamos ser campeões. Tenho toda a convicção que o Sporting vai ganhar e que este apoio incessante vai ser premiado. Apesar de tudo, o Presidente merece e gostava de o ver feliz outra vez.

    ResponderEliminar
  6. Pode ser Soren, mas desperdiçamos tantas oportunidades...
    Oxalá, o seu palpite dê certo.

    ResponderEliminar
  7. Costa & costa.
    A esperança nunca morre, mas, depois de vermos, sabermos que estamos perante um clube mafioso com tentáculos por tudo que mexe no desporto em Portugal e que os outros que se calam covardamente para não perderem os tachos, duvido infelizmente.
    Enquanto existir este clube promiscuo, batoteiro que manda nos políticos, na FPF, na Liga, Conselho de disciplina e arbitragem, o desporto em Portugal está viciado conspurcado e sem interesse.

    ResponderEliminar

Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...