Sempre achei o Prós e Contras uma mescla de lavandaria para gente "graúda" com pretensões a debate democrático, e deixei de o ver por isso. O programa de 2ª.feira foi diferente. Como disse anteriormente, alguns dos convidados (três) eram estrangeiros, e todos eles, sem excepção, disseram maravilhas do nosso povo, coisa que muito me agradou, apesar de sentir que a simpatia exteriorizada não correspondia muito à realidade. Mas pronto, se eles continuarem a pensar assim daqui a uns anos, quando nos conhecerem melhor, é sinal que algo mudou, ou que sou eu que avalio mal as coisas. Naturalmente que há gente fantástica no nosso país, mal seria se assim não fosse, e eu conheço alguma, mas isso também podemos encontrar noutros países. De uma coisa contudo tenho a certeza: em ambos os casos, são uma minoria.
Eu vivi uns anos em França, e também lá se encontra de tudo. Os piores franceses, os mais antipáticos, eram os parisienses. Isto, é reconhecido pelos próprios franceses de um modo geral. Por isso, quando precisava de me informar recorria aos gendarmes que naquela época eram muito prestáveis.
Conheci pessoas formidáveis que muito me ajudaram e trataram quase como familiar. Naquela altura (1964/67) os automobilistas franceses, já paravam nas passadeiras e os ciclistas também... Em Portugal, o uso regular da bicicleta é relativamente recente. Há ciclo-vias em muitos locais, mas mesmo assim não lhes basta, usam os passeios dos peões, e até circulam em contra-mão (estou farto de ver). Somos um grande povo,realmente... Por cá, só há 23 anos começamos a usar o cinto, e teve de ser obrigatório. Só com multa lá fomos.
Mas, há outra coisa que não quero deixar de recordar, a bem do nacional-porreirismo. Nós fomos, e infelizmente ainda somos, um país de emigrantes (o que para alguns é motivo de orgulho). Contudo, a alma generosa de alguns conterrâneos meteu férias quando, ucranianos e brasileiros, vieram para cá ganhar a vida (não por sermos um país de pleno emprego, que não é, nem nunca foi), e começaram a olhar para eles como para alguém que lhes estava a roubar o pão... Amnésia, é também um problema nosso.
Nas filas dos supermercados encontramos gente muito simpática, que nos cede a vez quando temos poucos produtos, mas também ainda vislumbramos aqueles e aquelas espertinhas mortinhos por nos passarem à frente sem darmos por ela... Nas ruas de algumas localidades, continuamos a estacionar em plenas curvas, obrigando outros a circular contra a mão sujeitando-os a baterem no carro que poderá surgir pela frente. A má educação está a fazer escola. As mulheres emitam os homens, e decidiram também falar mal, proferir asneiras do mais ordinário que há em plena via pública, ou no Metro. Muita gente (jovens sobretudo), acham que não têm de pedir licença para passar à nossa frente, no Metro, ou nas escadas rolantes. Isso, é para totós, pensam eles. Agradecer, é uma chatice. Enfim, que mais posso eu dizer para evocar o fantástico civismo dos portugueses?
É que, quando acabei de ver o referido programa da RTP 1, disse cá para mim que devo andar a precisar de rever a minha saúde mental, porque vivo num oásis e ainda não dei por ela. Já quando há uns bons anos António Guterres se lembrou também de inventar o país-oásis agora ressuscitado, fiquei de boca aberta, mas agora que ainda há pouco tívemos a troika à perna, sempre a ameaçar-nos, agora que continuamos sem empregos para os nossos filhos e netos, que somos o país da UE com salários mais baixos e a pagar a electricidade mais cara, estaremos assim tão bem? "Estamos, sim senhor!"
Mas onde vive a Fátima C. Ferreira e toda aquela gente para fazer de uma fase meramente ocasional de alguma estabilidade (a inflacção subiu), um país tão fascinante? Por que temos sempre de fantasiar com piropos exagerados a realidade portuguesa? Isto, é tipicamente lisboeta. Mas o pior, é que por cá temos gente que se deixa iludir com estes actos teatrais.
Poder-me-ão dizer que ouvimos estrangeiros a falar bem de nós, e isso é sem dúvida reconfortante. Eu gostei do que ouvi, mas pensei cá para mim: fossem mesmo assim os portugueses... Pergunto: será que alguém que é bem recebido num país que não é o seu, se atreveria a ir para um programa daqueles para nos maltratar?
Meus caros, não vou decepcionar-vos porque sois tão portugueses como eu e não quero desapontar-vos. Mas, se vos lembrar que boa parte desses portugueses, da televisão, das rádios, dos jornais, nos andam a discriminar nas barbas dos próprios estrangeiros, acham que eles conhecem bem o país para onde decidiram vir e viver?
Eu vivi uns anos em França, e também lá se encontra de tudo. Os piores franceses, os mais antipáticos, eram os parisienses. Isto, é reconhecido pelos próprios franceses de um modo geral. Por isso, quando precisava de me informar recorria aos gendarmes que naquela época eram muito prestáveis.
Conheci pessoas formidáveis que muito me ajudaram e trataram quase como familiar. Naquela altura (1964/67) os automobilistas franceses, já paravam nas passadeiras e os ciclistas também... Em Portugal, o uso regular da bicicleta é relativamente recente. Há ciclo-vias em muitos locais, mas mesmo assim não lhes basta, usam os passeios dos peões, e até circulam em contra-mão (estou farto de ver). Somos um grande povo,realmente... Por cá, só há 23 anos começamos a usar o cinto, e teve de ser obrigatório. Só com multa lá fomos.
Mas, há outra coisa que não quero deixar de recordar, a bem do nacional-porreirismo. Nós fomos, e infelizmente ainda somos, um país de emigrantes (o que para alguns é motivo de orgulho). Contudo, a alma generosa de alguns conterrâneos meteu férias quando, ucranianos e brasileiros, vieram para cá ganhar a vida (não por sermos um país de pleno emprego, que não é, nem nunca foi), e começaram a olhar para eles como para alguém que lhes estava a roubar o pão... Amnésia, é também um problema nosso.
Nas filas dos supermercados encontramos gente muito simpática, que nos cede a vez quando temos poucos produtos, mas também ainda vislumbramos aqueles e aquelas espertinhas mortinhos por nos passarem à frente sem darmos por ela... Nas ruas de algumas localidades, continuamos a estacionar em plenas curvas, obrigando outros a circular contra a mão sujeitando-os a baterem no carro que poderá surgir pela frente. A má educação está a fazer escola. As mulheres emitam os homens, e decidiram também falar mal, proferir asneiras do mais ordinário que há em plena via pública, ou no Metro. Muita gente (jovens sobretudo), acham que não têm de pedir licença para passar à nossa frente, no Metro, ou nas escadas rolantes. Isso, é para totós, pensam eles. Agradecer, é uma chatice. Enfim, que mais posso eu dizer para evocar o fantástico civismo dos portugueses?
É que, quando acabei de ver o referido programa da RTP 1, disse cá para mim que devo andar a precisar de rever a minha saúde mental, porque vivo num oásis e ainda não dei por ela. Já quando há uns bons anos António Guterres se lembrou também de inventar o país-oásis agora ressuscitado, fiquei de boca aberta, mas agora que ainda há pouco tívemos a troika à perna, sempre a ameaçar-nos, agora que continuamos sem empregos para os nossos filhos e netos, que somos o país da UE com salários mais baixos e a pagar a electricidade mais cara, estaremos assim tão bem? "Estamos, sim senhor!"
Mas onde vive a Fátima C. Ferreira e toda aquela gente para fazer de uma fase meramente ocasional de alguma estabilidade (a inflacção subiu), um país tão fascinante? Por que temos sempre de fantasiar com piropos exagerados a realidade portuguesa? Isto, é tipicamente lisboeta. Mas o pior, é que por cá temos gente que se deixa iludir com estes actos teatrais.
Poder-me-ão dizer que ouvimos estrangeiros a falar bem de nós, e isso é sem dúvida reconfortante. Eu gostei do que ouvi, mas pensei cá para mim: fossem mesmo assim os portugueses... Pergunto: será que alguém que é bem recebido num país que não é o seu, se atreveria a ir para um programa daqueles para nos maltratar?
Meus caros, não vou decepcionar-vos porque sois tão portugueses como eu e não quero desapontar-vos. Mas, se vos lembrar que boa parte desses portugueses, da televisão, das rádios, dos jornais, nos andam a discriminar nas barbas dos próprios estrangeiros, acham que eles conhecem bem o país para onde decidiram vir e viver?
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