Domingos de Andrade Director Executivo (JN) |
Durante um ano e quatro meses, pelo menos três militares, dois GNR, as suas chefias e um ministro a assobiar para o ar andaram a fazer dos portugueses tontos, a ignorar os apelos sucessivos do presidente da República e comandante supremo das Forças Armadas, e a destruir sem remédio uma instituição que é um dos pilares de uma sociedade democrática.
De permeio, houve falsas suspensões, readmissões, promoções escondidas e verdades ocultas por grandes mentiras. Porque a única certeza que, neste momento, temos sobre o assalto ao paiol de Tancos no ano passado é a de que alguém mente e a de que no limite mentem todos.
No limite, como tentava ironizar o ministro Azeredo Lopes, não houve assalto nenhum. No limite, esse não acontecimento já deveria ter levado à demissão de um ministro acusado de saber do encobrimento da recuperação das armas por quem ele chefia. Seja verdade, ou seja mentira.
As dúvidas, as perguntas, a falta de clareza, o conluio descarado entre alguns ou entre todos, em alegado nome do interesse nacional, estão todos a apontar para a recuperação das armas, num milagre dos pães, sem ofensa bíblica, que fez com que se contassem mais do que as que desapareceram. Mas falta ainda recuar ao assalto propriamente dito, onde abundam mais perguntas ainda sem resposta. Quem estava mais no assalto além do ex-militar, como, com ajuda ou a mando de quem, encoberto por quem, com que finalidade?
Há uma investigação criminal em curso, que se espera traga mais luz ao caso. Haverá uma comissão parlamentar de inquérito. Há um ano de campanha eleitoral pela frente a começar assombrado por um caso que não pode, politicamente, ser tratado com a displicência de um assalto ao galinheiro.
E voltamos ao limite. Se não atua o ministro em nome do interesse nacional e das Forças Armadas que ministra, que atue o primeiro-ministro em nome dos ministros e do país que governa.
* DIRETOR
Em que sector da governabilidade nacional é que será possível encontrar a competência? Cá por mim, já me contentava com a decência
Indo rebuscar gente antiga direi que nada mais actual que este momento em que vivemos:
ResponderEliminarAs guerras púnicas trouxeram os romanos até à Península Ibérica, onde as tribos locais, tradicionalmente aliadas de Cartago, ofereceram uma feroz resistência. Porém, o que mais espantou os organizados romanos foi os lusitanos não terem apetência alguma por serem liderados.
Os homens de Roma achavam bizarro que em séculos de guerra os lusitanos apenas tivessem sido liderados fugazmente por Viriato, permanecendo perpétuamente habituados àquilo que hoje se chamaria o regular funcionamento das instituições. Foi então que Júlio César, já sem paciência e arrependido por ter posto aqui os pés, desabafou, ‘Há nos confins da Ibéria um povo que não se governa nem se deixa governar’…
Mais recentemenet Eça diria:
Em Portugal não há ciência de governar nem há ciência de organizar oposição. Falta igualmente a aptidão, e o engenho, e o bom senso, e a moralidade, nestes dois factos que constituem o movimento político das nações.
A ciência de governar é neste país uma habilidade, uma rotina de acaso, diversamente influenciada pela paixão, pela inveja, pela intriga, pela vaidade, pela frivolidade e pelo interesse.
A política é uma arma, em todos os pontos revolta pelas vontades contraditórias; ali dominam as más paixões; ali luta-se pela avidez do ganho ou pelo gozo da vaidade; ali há a postergação dos princípios e o desprezo dos sentimentos; ali há a abdicação de tudo o que o homem tem na alma de nobre, de generoso, de grande, de racional e de justo; em volta daquela arena enxameiam os aventureiros inteligentes, os grandes vaidosos, os especuladores ásperos; há a tristeza e a miséria; dentro há a corrupção, o patrono, o privilégio. A refrega é dura; combate-se, atraiçoa-se, brada-se, foge-se, destrói-se, corrompe-se. Todos os desperdícios, todas as violências, todas as indignidades se entrechocam ali com dor e com raiva.
À escalada sobem todos os homens inteligentes, nervosos, ambiciosos (...) todos querem penetrar na arena, ambiciosos dos espectáculos cortesãos, ávidos de consideração e de dinheiro, insaciáveis dos gozos da vaidade.
E Guerra Junqueiro acrescentaria:
"Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta.
Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira a falsificação, violência ao roubo, donde provem que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis.
Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este,finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País. A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas; Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar."
É os militares a brincar com o fogo, há que apurar os culpados e prisão, e quanto Governo é sempre a mesma coisa é malpior de ter sempre confiança nos seus camaradas políticos e de armas. Assim Costa não vais a lado nenhum, mas, tens algo a teu favor é que líder da oposição é um 0 à esquerda.
ResponderEliminarANARQUIA continua...
Abílio Costa.
É demitir o ministro. O gajo é do Porto e ainda por cima, civil, catedrático e democrata.
ResponderEliminarOs militares que fizeram o golpe, até são gajos porreiros e exigem a um juíz que os receba para lhe entregarem um relatório, feito à pressa pelo amanuense de serviço, que compromete o senhor ministro.
Comandante chefe das Forças Armadas?!?!!, naaaaaa, não passa nada. O malandro é o ministro que não é da corja Lisboeta.