18 março, 2009

Porto Canal III

A imperiosa necessidade de implantação de um canal de televisão autónomo no Porto, é um facto indesmentível. A prová-lo, estão os comentários que se lêem um pouco por toda a blogosfera local, incluindo estes, aqui e aqui.

Alguns destes comentaristas viram no meu post um sinal excessivo de preocupação, embora não fosse essa a minha intenção ou, sequer, o meu estado de espírito. Contudo, mentiria se dissesse que vejo com muita confiança estas súbitas candidaturas (não está aqui em causa o Benfica), sobretudo quando se tem nas mãos, e ainda em fase de construção, um projecto não menos ambicioso, como é o da afirmação do Porto Canal. O negrito na palavra, significa o ponto que marca as razões da minha inquietação, porque como todos sabem, o Porto Canal ainda é uma «criança» em termos de televisão. O que eu pretendi realçar foi precisamente isso, isto é, a eventualidade de a «criança» ficar entregue a si própria ou a um padastro paraquedista qualquer, como aquele que transformou a NTV em RTPN (o Estado)...

Aliás, a candidatura de Bruno Carvalho à Presidência do Benfica, serve, de certa maneira, para confirmar aquilo que já escrevi muitas vezes sobre a diferença entre portuenses portistas e portuenses benfiquistas. É que, dependendo sempre da solidez de carácter de cada indivíduo, os primeiros são, em princípio, mais fiáveis quando se trata de defender os interesses do Porto. Eu sei que já estão a pensar nos trastes (alguns deles, portistas) que daqui saíram para Lisboa e que só não venderam a alma ao diabo porque ele não existe, mas venderam a cidade e o seu povo que
é muito mais grave. Mas, não é a esses energúmenos - alguns deles empresários e políticos -, que me refiro, quando falo de portuenses portistas, é àqueles que em nenhum momento ou circunstância, dirigem os seus afectos para outras cidades, que não para a cidade do Porto.

A verdade é que, na minha opinião, Bruno Carvalho até está a fazer um trabalho interessante, sério e competente a nível regional e até nacional, ainda com algumas lacunas, é certo, mas com democracia a mais para as prioridades do Porto. E por que é que digo democracia a mais? Porque é quase sempre assim que começam os projectos de TV no Porto, mas acabam absorvidos pelo Estado para se tornarem em mais um braço do centralismo, arrogante e anti-democrático. Ora, o Porto para ter um canal com futuro tem de ter à sua frente gente da casa, manifestamente regionalista mesmo que para tal tenha de usar os mesmos subterfúgios dos canais centralistas, ou seja, insinuar-se nacional, mas produzir regional. Fazer o contrário da RTP, da SIC e TVI, que falam para Lisboa «convencidas» que falam para o país. A sigla, é o que menos importa. Se andamos a lidar com burros, então, dêmos-lhes palha e fiquemos com a carne para nós.

Fernando Moreira de Sá, do blogue O Sinaleiro da Areosa, diz que aponto o alvo errado, mas deve ter-me lido pouco, senão não falava assim. Todas estas aberrações são de origem política, potenciadas por um centralismo retrógrado que já não faz qualquer sentido em países modernos. É que, os 20% do capital social do Porto Canal detidos por Bruno Carvalho são pouco, mas podem muito simplesmente ser comprados por outro benfiquista qualquer e transformar o canal em mais uma filial da propaganda centralista. Estamos assim tão seguros dessa impossibilidade? Eu não estaria.

Quanto à necessidade de angariar receitas com a realização de contratos publicitários, qual é o problema? Se o Canal tiver mesmo qualidade, vende. Há que ir procurá-los, há que sensibilizar os tais empresários do Norte, fazê-los sair da vergonhosa postura de caracol e convencê-los a investir na região. Para isso é que existem os relações públicas, os vendedores de serviços. Ou, não?

Para mim, continua a ser um mistério o distanciamento patenteado pelos grandes empresários do Norte relativamente a projectos de televisão, e nem o receio de provocar susceptibilidades junto dos centros de decisão, o explicam. Se a explicação for mesmo essa, então, é sem dúvida o maior atestado de cobardia e de ausência de noção de cidadania que passam, a si próprios.

8 comentários:

  1. «O que eu pretendi realçar foi precisamente isso, isto é, a eventualidade de a «criança» ficar entregue a si própria ou a um padastro paraquedista qualquer, como aquele que transformou a NTV em RTPN (o Estado)...»

    «Para mim, continua a ser um mistério o distanciamento patenteado pelos grandes empresários do Norte relativamente a projectos de televisão, e nem o receio de provocar susceptibilidades junto dos centros de decisão, o explicam. Se a explicação for mesmo essa, então, é sem dúvida o maior atestado de cobardia e de ausência de noção de cidadania que passam, a si próprios.»

    Rui, você coloca duplamente o dedo na ferida: por um lado os receios que aconteça ao Porto Canal, o que aconteceu à NTV. Depois pergunta o porquê da falta de apoios. Essa é que é a questão. Para mim, você também responde:«receio de provocar susceptibilidades junto dos centros de decisão»

    Um abraço

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  2. Caro Vila Pouca

    Ou me engano muito, ou não tarda muito aparece por aqui alguém a chamar-me fundamentalista!

    Um abraço

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  3. Como escrevi, em 18 e 26 de Julho do ano passado, no meu blog o Porto, o Norte e Portugal precisam de uma televisão generalista nacional, com gente do Norte e não que defenda valores clubísticos ou outros de Lisboa e que seja uma televisão mais informativa e aproxime os espectadores de tudo que se passa no país e não só na capital e arredores. Para mim um canal por cabo é pouco e tem um alcance muito limitado para o que entendo ser o que nós precisamos. Quanto ao resto, concordo com o que escreveu e acho que serve de alerta para uma, esperemos que não, eventualidade prejudicial aos valores, cultura e interesses do Porto e do País.

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  4. Caro Rui, com prazer lhe respondo no Sinaleiro da Areosa.

    Saudações Portistas e Regionalistas.

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  5. Uma TV que não seja estatal tem de ser tratada como um negócio que, pelo menos, não dê prejuízo. Pessoalmente acho que um Porto Canal nunca será rentável: não tem novelas com sangue e sexo, não tem telejornais com fofoquices, não tem futebol em directo. A conclusão é que alguém terá de financiar o canal, que aliás nunca terá um âmbito nacional. A pergunta é: quem?

    Não penso que os empresários nortenhos tenham obrigação de o fazer, mas esperaria que contribuissem através da colocação de publicidade benevolente. Um financiamento teria de partir, em minha opinião, do Governo Regional ( um dia há de existir! ) talvez do próprio Estado ( com o nosso centralismo é impossível mas teria lógica) e de alguns organismos relevantes na vida regional: associações comercial e industrial, Universidade, Fundações. Como isto não vai acontecer, lamentavelmente não acredito muito na sobrevivência do Porto Canal.


    p.s. Continuo a não entender porque razão a imprensa não publica os programas diários do canal.

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  6. Ou seja:

    O Porto Canal, é um negócio irremediavelmente transitório, uma espécie de abre-latas para a fortuna para quem chegar primeiro, e quem chegou 1º. neste caso, foi o Bruno, ironicamente um benfiquista...

    Nesta perspectiva, só temos que felictar a esperteza "saloia" de Bruno Carvalho.

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  7. Mas existe alguém, que se candidate à presidencia de um dos maiores baluartes do centralismo nacional e defenda os interesses do Porto, em simultaneo?

    Quem é que acredita nisso?

    Eu, que nem nasci no Porto, defendo o Porto como muito poucos portuenses. Ha muitos vendidos e adormecidos. Nao ha capacidade (vontade) de associativismo. Ha um individualismo atroz e uma incapacidade de trabalhar em conjunto que advém de perconceitos ignorantes e nao, da falta de qualidade ou talento. Isso é para mim repugnante.

    E ha sempre outra forma de olhar para as coisas. Como sobrevive o TVGaliza ou as televisoes Cataläs?
    Notoriamente a diferença esta na existencia de governos regionais (que alias existem em quase todos os paises verdadeiramente civilizados da Europa).

    O problema é que a necessaria mobilizaçao vem das elites e nunca do povo. E as elites sabemos para quem trabalham.

    Nao haver ideais quando ha tanta injustiça é um crime hediondo que nem o comodismo ridiculo dos pobres portugueses consegue explicar.

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