Há palavras para todos os gostos e feitios. O Amor, por exemplo, é uma palavra quase consensual, embora nem todos a percebam, porque é a única a não carecer de rebuscadas explicações. Amor, é palavra mais sensorial que gramatical, por isso se presta tão bem à prosa e à poesia. Pertence ao estricto grupo das palavras belas com tudo o que de angustiante e sofrido, por vezes acarreta.
Depois, temos as palavras feias, pesadas, como o ódio e a traição. Existem montanhas de palavras, umas mais autênticas, outras travestidas de significado, ambíguas e pouco fiáveis. Há também as palavras jeitosas, elásticas, perigosamente flexíveis. Jeitosas, não no conceito masculino de quem aprecia as formas de uma mulher ou de quem admira o talento de um biscateiro doméstico, mas no sentido da conveniência e do oportunismo.
A espaços, o regime lança, através dos seus doutrinários mais eloquentes e respectivas máquinas de propaganda, chorrilhos de palavras e frases jeitosas que, pela sua maleabilidade, se prestam a dizer tudo, sem dizer nada. Expressões como, democracia, provincianismo, sistema, verdade desportiva, corrupção e mais recentemente, populismo, foram usadas consoante a onda do momento e com «nuances» discriminatórias de índole geográfica (como os Apitos Dourados e afins).
Da Wikipédia
O termo populismo é utilizado para designar um conjunto de movimentos políticos que se propuseram deslocar, no centro de toda a acção política, o povo enquanto massa em oposição aos (o ou ao lado dos) mecanismos de representação próprios da democracia representativa.
A política populista caracteriza-se menos por conteúdo determinado do que por um "modo" de exercício do poder, através de uma combinação de plebeísmo, autoritarismo e dominação carismática. A sua característica básica é o contacto directo entre as massas urbanas e o líder carismático (caudilho), supostamente sem a intermediação de partidos ou corporações. Para ser eleito e governar, o líder populista procura estabelecer um vínculo emocional (e não racional), com o "povo". Isso implica num sistema de políticas ou métodos para o aliciamento das classes sociais de menor poder aquisitivo, além da classe média urbana, como forma de angariar votos, e prestígio (legitimidade para si), através da simpatia daquelas. Esse, pode ser considerado o mecanismo mais representativo desse modo de governar.
São estas as considerações que a Wikipédia faz do populismo, que também são as mais fáceis de compreender. O que a Wikipédia não diz, nem pode explicar, é a quem pertence a primazia de usar a palavra populismo como argumento de crítica. Se aos políticos, se ao povo.
Ora, quem mais vemos a esgrimar o argumento do populismo como arma de arremesso, são precisamente os políticos, e raramente, os eleitores. Há expressões deste género que deviam estar proibidas aos políticos por terem o mesmo impacto negativo que tem um juízo em causa própria. Senão, vejamos. Qual dos líderes políticos em Portugal, pode dar-se à honra de afirmar - sem provocar gargalhadas -, que não usou do populismo em várias ocasiões, nomeadamente durante as campanhas eleitorais? Qual? Haverá algum?
Hipocritamente falando, que é, em boa verdade, a palavra certa para o lugar de democraticamente, também nós podemos usar os nossos dogmas, as nossas manhas, as nossas palavras jeitosas. Por que não, petulância? Em bom português, significa: descaramento, imodéstia e desaforo. Qual melhor do que esta palavra, traduz o perfil do vulgar político?
*Designação autenticada pelo povo para a palavra Democracia
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