19 setembro, 2009

Os amigos da transparência

A propósito do que aqui é exibido e provado, gostaria que o jornalismo português desportivo e generalista aproveitasse esta oportunidade de ouro para contrariar aqueles que, como eu, não têm tido papas na língua para os tratar pelo nome que merecem: vigaristas, sem escrúpulos! Mas, isso nunca irá acontecer pela simples razão de que, o que eu tenho afirmado, sem hesitar, não é um insulto, é uma realidade!

São os arautos da transparência e da verdade desportiva, do fim da promiscuidade com os vários agentes de futebol [entre os quais também eles se incluem] , precisamente os mesmos que, na primeira oportunidade deixam que a máscara frágil dos sem carácter, lhes caia ao chão. Aqui está ela -neste caso são duas, a de Carlos Daniel e Hélder Conduto - , à saída de um restaurante de um adepto benfiquista na companhia do treinador do clube do regime, do mesmo clube que se queixou à UEFA do FCPorto por influenciar as arbitragens...
Por aqui, é fácil retirar quaisquer dúvidas quanto à qualidade destes seres rastejantes que se dizem jornalistas... Por aqui, podemos saber o que pensar destes vermes quando nos entram pela casa dentro através da rádio e da televisão para falar da honorabilidade dos outros... Eu já sabia, mas talvez haja quem ainda tenha dúvidas.
Quanto às generalizações de que alguns se afoitam logo a acusar-nos quando "pomos o dedo na ferida", ficamos à espera que os jornalistas "diferentes", os sérios, se prenunciem nos respectivos orgãos informativos sobre o que aqui reafirmo, com cobertura idêntica à que deram ao caso Apito Dourado. Se não se importam, pela minha parte, esperarei sentado, para não me cansar.


Qual deles é o que rasteja melhor?

18 setembro, 2009

U2 - With Or Without You



Tive o gosto de assistir ao início da carreira deste grande grupo em Vilar de Mouros nos anos 80.

Bom fim de semana!

T G V

Vai acesa a discussão sobre o TGV na campanha para as eleições. Infelizmente, como é hábito no nosso país, reinam a falta de rigor e a consequente confusão. Suponho que só uma ínfima percentagem de portugueses, por muito que todos queiram opinar sobre o assunto, possui o mínimo de informações necessárias para poder ter uma opinião coerente e realística. Falando por mim, confesso que estou confuso, mas o pouco que sei permite-me dizer que notícias como as referentes à viagem que Sócrates efectuou ontem entre Paris e Bruxelas, só servem para espalhar a desinformação.

As notícias dizem que Sócrates viajou de TGV. A verdade é que há uma grande confusão em relação a esta designação. TGV, para além de ser, creio, uma designação comercial francesa, refere-se, como o nome indica, a "muito alta velocidade" ou seja velocidades de cerca de 350Km/hora. Ora a verdade é que desconfio que Sócrates não viajou de TGV, pela simples razão que ele não existe entre Paris e Bruxelas. Como é do conhecimento de quem já fez essa viagem, existem sim comboios com a designação comercial de Thalys, que ligam os 310km entre as duas cidades em 1 hora e 25 minutos, sem paragens intermédias. Deve portanto tratar-se dum comboio de prestações inferiores às do chamado TGV, que já vi designado em Portugal por comboios de "velocidade elevada". Designar as duas variantes pelo mesmo nome de TGV, só leva a confusões. Por outro lado já vi escrito que uma linha de "muito alta velocidade" não aceitará composições de mercadorias a 350km/hora devido aos exorbitantes custos de manutenção que essas composições originam. Verdade ou mentira? Também somos levados a crer que o troço Madrid-Badajoz está a ser construído para "velocidade elevada" enquanto Portugal fará o troço Lisboa-Badajoz em "muito alta velocidade". Verdade ou mentira?

Como é habitual quando os governantes - e a própria imprensa - falam de grande velocidade, é como se só existisse Lisboa-Badajoz. Concursos públicos já foram lançados. Por contraste Porto-Vigo é ignorado, não existe, parece virtual. E no entanto penso que esta linha será economicamente muito mais importante para nós que a outra. Os produtos do Norte exportador necessitam de rápidas ligações ferroviárias com a Europa. Neste troço Porto-Vigo não haverá dúvidas sobre a velocidade, na medida em que os espanhóis recentemente definiram e calendarizaram a ligação Madrid-Ourense-Coruña, e estabeleceram que a velocidade máxima será de 250Km/hora, o mesmo ocorrendo no ramal Ourense-Vigo. Estranhamente, nas notícias sobre este assunto que li na imprensa galega, não havia qualquer menção à ligação de Vigo ao Porto. Será que não acreditam que Portugal faça a parte que nos cabe, ou simplesmente nos ignoraram?

Outro aspecto que ainda não percebi e se calhar a maioria dos portugueses também não, é a falta de decisão definitiva do governo quanto à linha Porto-Lisboa. Ou ando distraído, ou o governo não sabe o que fazer. Será que o ministro Mário Jamé Lino está com medo de decidir, ou andará ocupado a limpar a sua mesa de trabalho no ministério, dado que, de uma maneira ou de outra, certamente não a utilizará mais a partir do fim do mês?

15 setembro, 2009

O embuste do referendo

Já muitas vezes exprimi a minha convicção de que não haverá regionalização nos (muitos) anos mais próximos, mercê de uma combinação invencível: por um lado os governos não a querem, porque estariam a perder PODER. Por outro lado, a grande maioria dos portugueses está-se nas tintas para o assunto, basicamente por ignorância cívica. Tinha prometido a mim próprio que não escreveria tão cedo sobre este assunto, que considero em coma profundo, mas não resisti a uma boa piada que acabo de ler. Um destacado dirigente do PSD diz que o partido quer um novo referendo sobre a regionalização, mas que agora a ocasião não é oportuna! Mas será que algum dia esta gente arranjará uma ocasião oportuna? Desde 1998 que não há uma única?

Há depois a questão do referendo. Outro embuste, na medida em que os resultados de um referendo só são vinculativos se houver um número de votantes superior a 50% dos inscritos. Um referendo é uma votação, e nesta há os votos a favor, os votos contra, e os votos de abstenção, sendo que estes não contribuem directamente para o resultado da votação. Num referendo dá-se o caso extraordinário de os votos de abstenção serem contados, no plano prático, como votos contra. Não há argumentos válidos que justifiquem esta aberração. Por isso, se os políticos quisessem ser sinceros, tratariam de eliminar da nossa legislação esta exigência dos tais 50%. Quem votou, votou, e exprimiu a sua preferência. Quem se absteve, que tivesse votado, teve essa possibilidade, e portanto não tem o direito de se queixar do resultado do referendo, seja ele qual for.

É claro que haveria outra forma de os políticos mostrarem que querem a regionalização, que seria aproveitarem o facto de a próxima Assembleia da República ser constituinte, e voltarem à primeira forma da Constituição em que as Regiões eram taxativamente apresentadas como autarquias, sem necessidade de referendo. Mas isso nem sonhar!

Patriotismo eleitoral

É um facto que para muito boa gente a experiência para pouco serve, porque continua a ser verdade que a experiência só tem serventia com o que dela se extrai e aprende. Pessoalmente, não preciso que me batam duas vezes para perceber que me estão a agredir, basta-me uma. Mas, vá-se lá saber porquê, há pessoas que por excesso de tolerância ou escassez de amor-próprio, precisam de serem fustigadas e ofendidas mais do que uma vez para reagirem e, em certos casos, nem sequer reagem.

Feito o preâmbulo, o que eu quero dizer, é que já não estou disposto a acreditar nas promessas dos políticos. Outros, se assim entenderem, que votem, que continuem a capitalizar o país nas mãos destes troca-tintas, porque pela parte que me toca recuso-me a ver as eleições como um jogo de sorte ou azar. Os actos eleitorais não devem ser encarados pelos cidadãos com a mesma fé infantil de um totoloto ou de um euromilhões, mas pelos vistos há quem não pense assim.

Manuela Ferreira Leite, era capaz de me impressionar se eu tivesse idade para me deixar impressionar pela máscara das pessoas e pelas respectivas aparências. Acontece, é que eu já vi do que "esta casa gasta " [passe o popularismo], e não é agora, em plena época de folclore político que me impressionarei com as magnas palavras de patriotismo da líder cinzentona do PSD.

M.F.Leite, pegou no TGV, como podia ter pegado na Regionalização, apenas e só, para encontrar um argumento de peso para derrotar o seu opositor, porque se estivesse no seu lugar era muito provável que também defendesse o comboio de alta velocidade de mãos dadas com o governo espanhol. Mas, não deixa de ser engraçado ouví-la dizer coisas destas: "não é fácil que me intimidem a não falar deste assunto pelo facto de já haver estrangeiros que já me vêm amedrontar. Não tenho medo de defender os interesses do país nem medo de defender a nossa independência económica".

Pois pela minha parte, ilustríssima senhora doutora economista, até lhe agradeço que não defenda independência nenhuma, porque entre ser dependente de uma capital apátrida e hiper-centralista como é a portuguesa [e foi também nos governos PSD] e ser dependente de Espanha, há falta de alternativas mais radicais, prefiro depender de Espanha.

PS. O negrito é da minha responsabilidade

14 setembro, 2009

Debates

Terminou a maratona de debates políticos. Não pretendo comentá-los: não só não sou politólogo, como acho que já estamos todos enjoados da avalanche de comentários que nos dão cabo da paciência. Vi alguns debates, não todos, e foi o suficiente para confirmar a convicção de que a um dos candidatos eu não compraria um automóvel em segunda mão, se me é permitido o velho cliché. Vi também uma moderadora com o seu habitual e incontido esforço de ser a prima-donna, vestida e ornamentada como se fosse juiz de um concurso de moda e não o pivot de um programa político.

Como fervoroso adepto da regionalização, verifiquei também, com desgosto mas sem surpresa, que ela não foi discutida nem sequer mencionada, pelo menos nos debates a que assisti. Suponho que o tema regionalização não estava contemplado nos programas dos dois principais partidos, mas como factor poderoso no combate aos nossos problemas económicos, pensei que poderia e deveria ter sido tratado, em vez de ter sido ignorado como se fosse detalhe sem relevância nacional.

Mais uma vez se fica com a impressão que todos os programas de debate na TV, por muito que pretendam implicitamente cobrir o todo nacional, são feitos e discutidos numa perspectiva meramente local - Lisboa e arredores - parecendo ignorar que o país não se resume às margens do rio Tejo. É uma visão redutora, de contemplação do próprio umbigo, tipicamente centralista, que não é nova - longe disso - mas que mais uma vez se manifestou.

Falta de ar

Não há conhecimento que dos países onde foram criadas regiões administrativas cheguem notícias de cariz social ou económico regressivos, nem muito menos da multiplicação de caciquismos locais. Bem pelo contrário. O que sabemos desses países é que, genericamente, todos beneficiaram com a Regionalização. Já aqui ao lado, a Espanha, que até se libertou da ditadura franquista depois de nós e que se debate com sérias guerrilhas etnológicas independentistas, com a regionalização, progrediu como nunca antes e distanciou-se de Portugal para melhor em todos os aspectos.
Mesmo assim, em Portugal nem os jornalistas parecem muito interessados em explorar esta grave lacuna política de forma séria e consistente. Fazem-no, durante breves e espaçados períodos, com preocupações meramente comerciais em obediência à matéria jornalística do momento. Não há uma ideia estratégica de agarrar na Regionalização como tema prioritário, como um trabalho de casa obrigatório, de modo a dificultar a fuga ao assunto dos partidos políticos. Não. Fazem exactamente o mesmo que eles, só pegando na Regionalização quando é oportuno.
Hoje, Mário Crespo, em artigo de opinião no JN, fala-nos de coisas muito interessantes, como de um pacto formal entre PS e PSD para evitar a discussão pública de questões de carácter. Subtilmente, diz-nos afinal que o que foi considerado ontem por Marcelo Rebelo de Sousa como um debate de alto nível entre Sócrates e Ferreira Leite, não passou de um pacto para esconder o lado visível da marginalidade política, das trafulhices que membros dos dois partidos praticaram nestes tempos mais recentes. No fundo, é a única maneira de creditarem mutuamente alguma seriedade aos seus discursos e até aos seus próprios carácteres, porque na verdade é particularmente nessa vertente pessoal que mostram menos valias.
É com estas fintas ronaldianas que os jornais se entretêm a analisar as performances dos nossos políticos e se esquecem de uma asfixia democrática realmente séria, que dá pelo nome de centralismo. Quando M. Ferreira Leite falou de asfixia democrática, a mesma mulher que meses antes sugeria umas "férias à democracia", aparentemente para resolver alguns problemas, não houve um único jornalista que se lembrasse de lhe perguntar - sendo ela uma anti-regionalista convicta -, como é que ela "via" o oxigénio democrático a Norte do país, e no Porto, se achava se por cá temos os pulmões a vender saúde ...
Mário Crespo, termina o artigo dizendo: "Não é a votar repetida e clubisticamente que nos assumimos como povo e como Estado. Juntos, PS e PSD, estão a asfixiar o que nos resta de democracia e parece que já nem notamos que nos está a faltar o ar."
Faltou-lhe explicar-nos de que país democraticamente asfixiado estava a falar. Se o de Lisboa, se o da Paisagem, que é o outro país. É que se é dos dois países num só imaginário, pode estar descansado que, estando ele em Lisboa, antes de ser contaminado gravemente pela referida asfixia, já nós no Porto teremos morrido de sufôco.