23 abril, 2009

Donzelas ofendidas

Desde 1968 até à pseudo-revolução de 25 de Abril de 1974 [vai completar 35 anos brevemente], os portugueses dispunham de dois canais do Estado, cuja constituição em sociedade* anónima [SARL], foi realizada em 1955, começando a emitir 2 anos mais tarde, em 1957. Foram 35 anos [exactamente o mesmo tempo de «democracia»], que vivemos limitados aos dois actuais canais do Estado, a RTP 1 e 2, dado que só em 1992, é que apareceu a SIC, e um ano mais tarde, a TVI.
Com o advento da sacrossanta «democracia» e o pluralismo da informação e programação, tantas vezes prometido pelas televisões privadas, os portugueses estavam longe de imaginar o bluff em que se iriam transformar tais projectos. Se fecharmos os olhos e descontarmos o reconhecimento das vozes dos apresentadores, teremos muitas dificuldades em distinguir umas estações das outras, podendo [sem exagero] resumir as suas actividades a uma simples duplicação de serviços. O que me ocorre pensar, é o que ganharemos nós com isto. Eu diria que ganhámos muito pouco, ou quase nada. O mesmo, já não podemos dizer das televisões, que através de doses maciças de sensacionalismo e má informação, conquistam audiências acumulando capital e poder.
Sinais desse efectivo poder, são o anúncio da intenção do casal TVI [Moura Guedes/Eduardo Moniz] mover um processo ao 1º. Ministro Sócrates pelas declarações depreciativas que fez àquele canal. Este enérgico recurso aos serviços da justiça por um órgão de comunicação contra um primeiro Ministro, é pois, mais uma manifestação de poder, que propriamente um acto de coragem. Além disso, sabe a chow-off, sabe a vaidade encapuçada de legítima indignação.
O Dr. Mário Soares ajuda-nos a perceber as incongruências repartidas de toda esta situação, com as declarações expressas no jornal Público de hoje. Diz ele que [cito] "o Primeiro Ministro está a ser tratado como se fosse suspeito, a Constituição garante a presunção de inocência a quem não tem uma sentença julgada em tribunal a condená-lo, e a presunção de inocência é um direito de qualquer cidadão".
Sábias palavras as do «bem amado» Dr. Mário Soares, mas tardias e elitistas. Quantos portuenses teriam gostado de o ver a ter atitude similar com a caça ao homem que os media têm movido e movem a Pinto da Costa! E porque, se manteve silencioso neste caso? Por que não se tratava de um 1º. Ministro? O que o fará pensar que um 1º. Ministro merece mais respeito que um dirigente de futebol? Que paradigmas de serviço público terá o Dr. Mário Soares para nos apresentar que o levem a tirar tal conclusão? Pessoalmente - e suponho não estar só neste particular -, considero muito mais relevante em termos de competência e até de prestígio para a minha cidade, o que tem feito Pinto na Costa pelo futebol do que os políticos todos juntos pelo país!
É à luz destas manifestações selectivas de inquietação democrática, que se esvaziam as mais sábias afirmações. Nem Sócrates, nem J. Eduardo Moniz, nem Mário Soares têm qualquer autoridade moral para se indignarem, porque nenhum deles está inocente, quer por acção, quer por omissão. Façam portanto depressa as pazes, porque cabem todos no mesmo circo, e deixem de fingir que vivem fora dele.
*Sociedade com capital tripartido: Estado, particulares e emissores privados de rádio e tv

4 comentários:

  1. Meu caro Rui, você não deixa de ter razão, mas há muitos e eu conheço alguns, que no caso de Pinto da Costa, ficaram muito incomodados com o linchamento público, mas no caso de Sócrates, já acharam muito bem. Digo isto com o à vontade, de quem desde a primeira hora, defendeu o Presidente do F.C.Porto.



    Um abraço

    ResponderEliminar
  2. sim. São casos típicos de fanatismo intelectual, em que o lado emocional da clubite se «incompatibiliza» convenientemente com o lado material dos interesses (político-económicos)...

    Um abraço

    ResponderEliminar
  3. 23-04-2009 FUTEBOL
    Comunicado da F.C. Porto – Futebol, SAD

    Na sequência da grave lesão sofrida por Hulk no decorrer da segunda mão das meias-finais da Taça de Portugal, vem o Conselho de Administração da F.C. Porto – Futebol, SAD alertar para a gravidade dos seguintes factos:

    1 – Os árbitros não protegem os jogadores que sofrem em todos jogos inúmeras e sistemáticas faltas violentas. Esta incompreensível complacência, que não é admissível nas provas organizadas pela UEFA e pela FIFA, não só desprestigia o futebol enquanto espectáculo, como também prejudica seriamente os seus melhores executantes;

    2 – Esta inaceitável passividade dos árbitros, que encoraja a insistência dos infractores, não tem merecido qualquer sanção por parte dos órgãos disciplinares competentes. A justiça desportiva, de resto, tem-se demitido de actuar em casos idênticos e que já penalizaram, no passado, Anderson por seis meses e Lisandro Lopez por dois, e que agora privaram Hulk de disputar a fase decisiva da época;

    3 – A F.C. Porto – Futebol, SAD já tinha protestado de forma veemente, concretamente depois do encontro com o V. Guimarães. A perseguição a Hulk, ainda assim, prosseguiu e atingiu cirurgicamente os seus objectivos.

    Porto, 23 de Abril de 2009
    O Conselho de Administração da F.C. Porto – Futebol, SAD

    ResponderEliminar
  4. o senhor Soares reage de forma selectiva?
    É que pimenta no c... dos outros é refresco!

    ResponderEliminar

Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...