12 junho, 2009

As aparências e a abstenção

O efeito que as aparências produzem em muitos de nós pode ser frequentemente perigoso. É, no entanto, importante, cuidar da nossa aparência, antes de tudo, por respeito a nós próprios. Quando dizemos que não basta ser sério, que é também preciso parecê-lo, estamos, excepcionalmente, a inverter a ordem lógica das prioridades por uma questão meramente social, cujo objectivo é conquistar a confiança dos outros. É disso que nos queixamos quando um senhor deputado ou ministro, toma comportamentos pouco condizentes com a dignidade da função que desempenha, porque sendo figuras públicas, são obrigados a compatibilizar a cara com a careta. Mas, para o comum cidadão, o essencial, é mesmo ser-se integralmente sério.

Dito isto, passo a explicar melhor a razão da minha abordagem às questões das aparências. Os tempos mudaram um pouco, mas a verdade é que ainda hoje há muitos empresários a exigirem o fato e a gravata como "equipamento" preferencial para os seus colaboradores comerciais e os decotes e saias generosas para as suas secretárias ou recepcionistas. Tudo isto, apenas para impressionar «favoravelmente» os clientes. Os políticos não são diferentes, vestem-se convencionalmente, e até os partidários da esquerda ortodoxa à moderna, seguem as mesmas regras, pontualmente alternadas por um estilo mais desportivo ... mas com roupa de marca [Bloco de Esquerda]. O objectivo é todo o mesmo: convencer primeiro pela aparência.

A seguir, há outra norma que tem a ver com a postura. Aqui, os mais versáteis, com vocação para representar, ganham pontos aos outros quando conseguem associar a um bom porte uma linguagem sofisticada e convincente. É assim, sem profundas explicações que muitos políticos tornam indiscutíveis verdades duvidosas. É assim, que alguns cidadãos são adestrados para vender a outros "produtos" de fraca fiabilidade.

Quando alguém nos prega sermões acerca das mais valias do voto em branco sobre a abstenção pura e dura, não deve limitar-se a argumentar com a banha da cobra do dever de cidadania, porque esse dever não tem uma interpretação sagrada, tem várias e profanas. Uma delas, e ao contrário do que alguns pensam, é uma maior exigência democrática. Eu abstive-me, não por me custar deslocar-me ao centro eleitoral, ou por preferir dar um passeio, mas tão só para repudiar a farsa deste sistema dito «democrático» que só nos chama quando precisa do voto e nos afasta mal o conquista. A outra, é apenas o direito de não querer votar.

Não preciso que o senhor Presidente da República [ou outra pessoa qualquer] me diga o que devo ou não fazer como cidadão, por uma razão bem simples: é que, em muitos aspectos me considero um cidadão, tão ou mais respeitável, quanto ele(s). Acho que é suficiente.

1 comentário:

  1. Caros cidadãos e amigos,não posso estar mais de acordo com este texto principalmente na sua parte final ( O Sr. Presidente não tem nada que vir dar conselhos) pelas razões que passo a expor.
    Para melhor ilustrar o assunto vou recuar no tempo alguns anos e lembrar aqueles "problemas" que o Presidente dos EUA teve, com aquela menina Monica L...
    Nos estados unidos o sentimento geral era o seguinte:Se ele enganou a mulher mais depressa nos engana a nós.Em Portugal dizia-se: o homem ainda está para as curvas... e mais umas quantas alarvidades.
    Há poucos dias o Sr Presidente apareceu na televisão muito pesaroso a dizer que também ele tinha perdido muito dinheiro no BP qualquer coisa.Comentarios gerais que eu ouvi foram : Coitado, as economias de uma vida de professor, e outras do género.
    Bem o que eu sinto é o seguinte:como é que um homem que não sabe governar a sua própria vida, conseguiu governar o país 8 anos ou lá o que foi e agora ainda nos vem dar conselhos?.
    À já agora só mais uma coisinha,não gostei nada de ver o Presidente da República Portuguêsa comentar a Transferencia de um jogador de Futebol para um Clube da Capital Espanhola.Que acham que está a pensar o Filipe IV, perdão o Juan Carlos ?

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