O Rui Farinas deixou aqui mais uma manifestação de repúdio pelas atitudes megalómanas de algumas figuras públicas da híbrida capital, com a qual me solidarizo sem qualquer reserva. Refiro-me a Vasco Pulido Valente.
Este senhor, com quem algumas vezes concordo e de quem até tenho reproduzido alguns artigos aqui no blogue, é um exemplo magnífico de como os complexos centralistas podem constituir sérios obstáculos à lucidez intelectual dos mais reputados analistas políticos [suponho que é nesta "classe profissional" que ele se enquadra].
Os tiques centralistas, está provado, são infinitamente mais castradores do que o mais bacoco provincianismo. Aliás, para falar com franqueza, nem sei bem qual é o lado depreciativo da expressão. Nos dicionários correntes consta apenas isto: Provinciano, adj. Da província; m. indivíduo da província. O que sei, é que os centralistas "democráticos" trataram de lhe dar um sentido pejorativo [de ignorante, tacanho, bronco, etc.], com o mero intuito de concentrarem na capital o monopólio da cultura e do cosmopolitismo. Acontece, que o efeito desta estratégia vai acabar um dia por se virar contra eles, como um boomerang, e espartilhá-los nas suas imensas contradições, quando se virem no beco sem saída do conhecimento que esse complexo de superioridade desbaratou.
O futebol [não pelo desporto em si, mas pelas atenções que desperta], é outro excelente paradigma dos complexos centralistas. Não faria muito sentido, no entendimento da mentalidade centralista, abrir mão do sector mais mediático das actividades espectaculares, depois de se ter açambarcado de todos os outros, incluindo o da comunicação social. É através desta, que o centralismo forja os seus projectos, manipulando a informação de acordo com os seus objectivos.
Em termos estratégicos, o processo Apito Dourado foi a maior farsa, a mais escandalosa, a que até hoje pudemos assistir. Foi o desespero da impotência, a frustração de não poderem fazer a um clube de futebol o mesmo que, paulatinamente, foi sendo feito com Bancos, Companhias de Seguros, jornais, grandes empresas, rádios, organismos públicos, fábricas, etc., etc.
O sectarismo é patente até na selecção de modelos para a publicidade. Apesar do FCPorto ser, actualmente, o clube português com maior prestígio a nível internacional [se falarem aos jovens estrangeiros do Benfica ou do Sporting, simplesmente ninguém os conhece], as televisões centralistas optam, invariavelmente, e em maioria, por contratar atletas dos clubes de Lisboa, quer para a realização de spots publicitários, quer na colaboração de programas desportivos. Com os jornalistas adeptos do FCPorto, é a mesma coisa. Só mesmo a incontornável condição de campeão nacional impede os centralistas de indeferir a participação de adeptos do FCPorto em programas desportivos, caso contrário, esses programas seriam compostos apenas pelos dois clubes da capital.
É isto que muitos não vêem, ou não querem ver. São estes estratagemas que alguns preferem [estranhamente], ignorar ou dissociar da vida política, quando o futebol é talvez o melhor catalisador do exercício democrático. Convencional e objectivamente falando, pode afirmar-se, com toda a seriedade, que há mais democracia na política, do que na comunicação social, mas como todos lhe deviam estar subordinados, é razoável concluir que a democracia, tal como está, é uma valentíssima fraude.
Na mouche!
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