O desprezo do governo centralista de Lisboa em relação ao Porto (e também à maioria do restante país) não é de agora. A leitura de um Anuário da Faculdade de Sciências (assim se escrevia) de 1915, dá-nos uma visão do que se passava em séculos passados, e que é curioso referir.
No sec.XVIII os piratas marítimos, perante o desinteresse de Lisboa, atacavam e saqueavam os barcos mercantes que saíam do Douro carregados de mercadorias destinadas às colónias, especialmente ao Brasil, com os prejuízos que é fácil de imaginar. Já nesse tempo o poder em Lisboa estava mais preocupado com o seu umbigo do que com a situação do restante país, nomeadamente com o Porto que já nessa altura era a segunda cidade do país e tinha uma pujança económica que provavelmente era bem maior que actualmente, salvas as devidas proporções. A grande diferença era que nesses tempos o Porto não se limitava a queixar-se. Com uma visão pragmática que parece ter-se perdido com o decorrer do tempo, os Homens de Negócios da Praça do Porto decidiram que, já que o governo os não defendia, iriam defender-se eles próprios. E assim nasceu um documento datado de Outubro de 1761 em que se pedia ao rei D.José que os autorizasse a construir, às custas do comércio exportador, duas fragatas fortemente armadas destinadas à defesa dos navios que saissem do Porto em direcção às colónias. A manutenção das embarcações e o pagamento dos tripulantes era também garantido pelos exportadores, com base em taxas sobre as exportações e as importações, criadas para o efeito pelo Corpo do Commercio, que julgo deveria ser o antepassado da Associação Comercial do Porto.
O rei satisfez o pedido do Porto por alvará de Novembro do ano seguinte, tendo portanto demorado apenas um ano a estudar e decidir o pedido. Se fosse hoje, com toda a burocracia e com tantos organismos a terem de dar palpites, quantos anos seriam necessários?
Esta ideia das fragatas inspirou a criação no Porto de uma aula de náutica também estabelecida por decreto real. Cerca de 15 anos mais tarde foi pedida, e autorizada já por D.Maria I, uma aula de debuxo e desenho, tornada necessária pelo desenvolvimento que a indústria tomava na nossa cidade. Para todos os efeitos assim nascia aquela que é hoje a maior universidade portuguesa: a Universidade do Porto.
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Alumni revista da UP, enviada a todos os antigos alunos, é um excelente veículo para melhor conhecer a única Universidade Portuguesa que consta das maiores 500 mundiais. Estamos em 3oo e tal.
ResponderEliminarAmanhâ envio o link das classificações.
Pois, uma aula de debuxo e desenho...Qualquer coisa aproximada à saudosa Escola das Belas-Artes.
ResponderEliminarhttp://ranking.heeact.edu.tw/en-us/2008/Country/Portugal
ResponderEliminarLink para consultar o ranking das Universidades mundiais( a única que lá está é a UP
Caros amigos,
ResponderEliminarpeço desculpa pelo atraso da publicação de alguns comentários. Acontece que, de momento, e provavelmente até finais da próxima semana, tenho alguns assuntos pessoais a resolver que me vão tomar algum tempo. Tentarei mesmo assim publicar um ou outro post e os respectivos comentários.
Obrigado e um abraço
Já nesse tempo, eramos ignorados como hoje.
ResponderEliminarEssa gente: sempre viveu à custa
do trabalho, e da riqueza do Porto.
Era aqui no Norte; que tinha-mos as grandes industrias.
Hoje estão todas no vale do tejo.
A regionalização é uma prioridade.
Abaixo o centralismo doentio.
É caso para dizer tal "Imperador
Tal Corte"
O PORTO É GRANDE VIVA O PORTO.
Na realidade, como o governo de então estava preocupado com a reconstrução de Lisboa (sempre Lisboa!) após o terramoto de 1755, os navios que saíam do Porto e outros portos do Norte com mercadorias para o Brasil eram, como outras terras e navios europeus, assaltados por piratas muçulmanos dos actuais Marrocos, Argélia e Tunísia, numa situação que durou até ao século XIX e os americanos acabarem com isso. Um destes dias deu num canal por cabo precisamente um programa sobre parte deste problema, referindo os raptos de cristãos desde a Inglaterra até ao sul de Portugal. Foi por isso que alguns grandes comerciantes e armadores propuseram a construção dessas fragatas de protecção ao Marquês de Pombal, que então dirigia Portugal e a quem alguns conheciam pessoalmente. Um exemplo desses comerciantes tinha sido aprisionado quando criança e embarcara do Porto para o Brasil. Depois de solto não voltou a embarcar e tornou-se um dos portuenses mais ricos de então, com terrenos desde o Campo 24 de Agosto (ver tanque na estação do Metro)à Rua do Amparo e Rua do Heroismo, dono de duas fábricas e grande comerciante, até accionista da Real Companhia dos Vinhos do Alto Douro, caso raro atendendo ao valor das acções. Chamava-se Domingos Francisco "Guimarães" por ser costume, na época, as pessoas adoptarem o nome das terras de onde tinham vindo e está sepultado no cemitério privado da Ordem Terceira de S. Francisco. Devido a ele, a rua por trás do teatro S. João chama-se Rua do Cativo,porque essa era a alcunha que lhe ficou por ter sido aprisionado pelos piratas mouros.
ResponderEliminarApenas uma ligeira correcção: ainda não havia então aqui grandes empresas, pois as fábricas portuenses (e dos arredores) eram muito pequenas quase todas, do tipo oficinas e manufacturas mas como já eram muitas, pois era um período de industrialização, produziam muitas mercadorias e as ligações entre o Porto, a Baía, Rio de Janeiro e outros portos brasileiros eram mais fáceis que com o Algarve, por exemplo.
Cumprimentos