15 janeiro, 2010

"DIREITA OU ESQUERDA" ou antes "ESPERANÇA OU DESCRENÇA" ?

As eleições presidenciais ainda estão longe,a quase dois anos de distância,mas parece que políticos e imprensa não têm nada de mais importante a tratar,e então entretêm-se a inventar candidatos. Acentua-se se eles são de "esquerda" ou de "direita". Pessoalmente esta etiquetagem deixa-me menos do que indiferente. Penso que a maioria das pessoas não são etiquetáveis como se fossem uma espécie zoológica que é preciso classificar cientificamente. Quase todos temos convicções diversas que normalmente representam posições políticas híbridas,isto é, que não se enquadram em rigorosas divisões mais ou menos artificiais.

A que propósito vem esta espécie de filosofia barata? Tem apenas a finalidade de destacar quanto me deixa indiferente, no tocante ao meu sentido de voto, que um presidente ou um governo seja rotulado de direita ou de esquerda. Gostaria sim que esta dicotomia fosse outra, que os candidatos em presença se distinguissem entre os que querem manter esta democracia podre e perversa em que vivemos, e os que tivessem em mente dar uma valente vassourada nas teias de aranha que envolvem a vida política do país. Não pediria, por impossivel, que os nossos políticos se transformassem milagrosamente em seres humanos só com virtudes. Pediria apenas que melhorassem os seus niveis de competência, que a noção de serviço público se sobrepusesse aos interesses corporativos, aos interesses do partido a que pertencem, e sobretudo aos seus interesses pessoais. Por outras palavras, políticos que "servissem" em vez de "se servirem". Políticos que passassem de ocas promessa eleitorais, a promessas mais modestas mas exequiveis. Políticos que confessassem claramente aos portugueses que a nossa Justiça é uma vergonha, e que melhorá-la passaria a ser um grande desígnio nacional. Que reconhecessem que o actual ensino teria de passar a produzir jovens preparados para valorizar o país, em vez da actual política educacional de facilitismo que visa apenas trabalhar (enganosamente) para as estatísticas europeias, "fabricando" impreparados jovens, especialmente os que se limitam ao ensino obrigatório. Políticos que - last but not the least- reconhecessem também que o actual modelo de desenvolvimento económico baseado no crescimento de apenas uma região -Lisboa e Vale do Tejo- acompanhado por um sistema político ultra-centralista, além de profundamente injusto, provou já a sua inadequação ao crescimento do país como um todo. Políticos que reconhecessem que não há sistema mais ameaçador da unidade nacional do que aquele em que vivemos actualmente, e que pensassem na Suissa, país mais pequeno que o nosso, e que no entanto é uma confederação de Regiões, que tem conseguido manter integral a sua unidade, a pesar de rodeado por gigantes (França,Itália,Alemanha) que não desdenhariam deitar-lhe a mão se tal fosse possivel.

Um partido cujo programa andasse à volta destes temas, e de outros igualmente relevantes, despertaria certamente o interesse e o entusiasmo dos portugueses, sem o que continuaremos a vegetar nesta "apagada e vil tristeza" que acompanha a nossa queda num plano inclinado, até profundezas das quais não temos ainda perfeita noção.

1 comentário:

Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...