19 abril, 2010

Rever a Constituição ou humanizar o capitalismo?

Ponto um. Os conhecimento técnicos, científicos e culturais são indiscutivelmente importantes para uma melhor administração da vida pública e privada.

Ponto dois. Apesar do enunciado no ponto anterior, sou de opinião que nenhum conhecimento académico se deve sobrepôr aos supremos interesses da condição humana. Leia-se, como superiores interesses da condição humana, o interesse colectivo por cima do individual.

Os países economicamente mais desenvolvidos têm feito um esforço tímido para humanizar as sociedades, no entanto, confrontam-se permanentemente com a contradição incontornável que resulta do egoísmo em que assenta o regime capitalista. 

Insistindo na teoria de que só a ambição motiva a criatividade, o empreendedorismo e o consequente fomento de riqueza sem lhe impor limites ou regras, o capitalismo está a dar sinais de falência tão utópicos como deu o comunismo. A grande maioria dos países já abdicou da experiência comunista, mas a China, [que não é propriamente um  país pequeno], ao contrário do Ocidente tem, pouco a pouco, procurado tirar partido do capitalismo para se modernizar à custa da mão de obra miserável da sua população, que por sua vez exporta para quase todo o Mundo. Em ambos os regimes políticos impera a mesma «Lei:»: o total desrespeito pelo bem estar dos respectivos povos. Um [regime], não lhes permite grandes liberdades, o outro, finge com uma manca  Democracia que lhes permite  , mas tanto um como outro,  são profundamente elitistas e despeitam os valores da Humanidade. Não gostaria de banalizar a expressão "Humanidade", mas será sempre oportuno recordar os espíritos mais conservadores que não estamos exactamente a falar de gado...  

Ocorreu-me estabelecer estas comparações ideológicas, precisamente pela maneira monótona, politicamente pobre e esclerosada como os experts contemporâneos da política discutem os problemas do Mundo. Economia, economia, economia. Como ciência social, é suposto à economia estudar a produção e o consumo de bens, mas é na distribuição da riqueza que comete as mais aberrantes injustiças. Os casos que têm vindo recentemente a público, dos escândalos financeiros em Bancos e empresas público-privadas são apenas as pontas de um iceberg bem camuflado que, por demagógico, acaba por revelar as debilidades de um capitalismo cuja seriedade  vai pouco mais além do protocolo.

Assim mesmo, com leis bem fundamentadas e o rigoroso controle da sua aplicação, penso que - à imagem do que acontece nos países nórdicos que, observe-se, não são nenhuns santuários -, seria possível sociabilizar e humanizar mais o regime capitalista, mas para isso seria preciso que o crime deixasse de compensar, e que, quem se deixasse tentar por ele pagásse proporcionalmente à justiça  a ousadia. E não paga porque o jota de justiça em Portugal ainda se escreve em letra minúscula. 


6 comentários:

  1. Prezado Rui Valente!

    ...esforço tímido para humanizar as sociedades, no entanto, confrontam-se permanentemente com a contradição incontornável que resulta do egoísmo em que assenta o regime capitalista.

    Mais um excelente "post"!

    Estou de acordo que tanto o comunismo como o capitalismo, não servem as populações. O primeiro já soçobrou, e o segundo está em vias...
    acredito que só com a alteração das mentalidades das pessoas, será possível construir uma nova Ordem Social...talvez um sistema capitalista de rosto mais humano, mais preocupado com o Social.

    Cumprimentos

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  2. Eu fui um adepto convicto do sistema Socialista enquanto não verifiquei as debilidades e injustiças do sistema dado a conhecer em Países tão dispares como a China ou a União Soviética...A minha convicção assentava no que eu sabia existir no Norte da Europa em Países como a Dinarmaca, Suécia, Noruega...Aliei essa certeza à possibilidade de num sistema Socialista puro estas capacidades poderem ser exponenciadas, erro meu, nos Países de Leste isso nunca aconteceu, bem pelo contrário...Agora, restam-me essas referências do Norte da Europa e aí eu vejo nítidas vantagens, um sistema livre em equilíbrio com um regime planificado nas áreas tão importantes como a Educação ou a Saúde...E noto também aí a possibilidade de ver Esperança, a esperança de partindo destes modelos ir melhorando o Universo e humanizá-lo...O Capitalismo liberal não tem coração, nem tem tempo para pensar noutra coisa que não seja o lucro!
    A Liberdade não se compadece com espartilhos, mas tem de haver travões à ganância e recriar um Mundo feito de Solidariedade imposta é a única forma de abrir as portas ao Futuro.
    Parece-me que o primeiro passo tem de ser dado no sentido de defender esta Europa Solidária entre si, a partir de um processo que a saiba defender dos inimigos externos, que são como se sabe a capacidade produtiva desumanizada dos "colossos emergentes"...E nesse processo estamos completamente sós, os Estados Unidos não nos vão querer ajudar, não podem e não querem, eles são os principais beneficiados com esta balbúrdia...

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  3. É necessário que se impeçam as Empresas Europeias de se implantarem nos Países Asiáticos e aí colocarem as suas indústrias...Com isso estão a descapitalizar a Europa, a criar pobreza no velho Continente a destruírem tudo o que já foi edificado ao longo do Século XX...Esta anarquia estrutural só interessa aos capitalistas cegos, quem investe não quer saber se o faz na Europa ou na Oceania, só lhe interessa é o que consegue realizar com o mínimo de esforço possível, é necessário contrariar este movimento natural, manter e se possível agigantar uma Europa forte é a única forma de conseguir alterar as regras do jogo que se joga neste momento.

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  4. Caro Dragaoatento,

    o amigo é deveras simpático comigo, mas estou muito longe da excelência, seja em que área for.

    Mesmo assim, acredito profundamente na necessidade de uma nova ordem social, de uma séria regeneração de valores.

    Um abraço

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  5. Concordo em absoluto com esta parte do comentário do meirelesportuense!
    Muito bem, Meireles!

    ...Agora, restam-me essas referências do Norte da Europa e aí eu vejo nítidas vantagens, um sistema livre em equilíbrio com um regime planificado nas áreas tão importantes como a Educação ou a Saúde...E noto também aí a possibilidade de ver Esperança, a esperança de partindo destes modelos ir melhorando o Universo e humanizá-lo...O Capitalismo liberal não tem coração, nem tem tempo para pensar noutra coisa que não seja o lucro!
    A Liberdade não se compadece com espartilhos, mas tem de haver travões à ganância e recriar um Mundo feito de Solidariedade imposta é a única forma de abrir as portas ao Futuro.
    Parece-me que o primeiro passo tem de ser dado no sentido de defender esta Europa Solidária entre si, a partir de um processo que a saiba defender dos inimigos externos, que são como se sabe a capacidade produtiva desumanizada dos "colossos emergentes"...E nesse processo estamos completamente sós, os Estados Unidos não nos vão querer ajudar, não podem e não querem, eles são os principais beneficiados com esta balbúrdia...

    Cumprimentos

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  6. Meireles,

    de certo modo, o mesmo me aconteceu a mim. Identifiquei-me sempre mais com certos valores da esquerda, do que com os da direita, se bem que agora se confundam...

    Para ser honesto, nunca levei muito a sério o regime capitalista em Portugal.

    Como diz o amigo Rui Farinas, e acertadamente, a tendência para trafulhice está no ADN remoto dos nossos "líderes". O que é grave, é que depois, esses traços de "carácter" passam para o Povo.

    Os nórdicos, como qualquer povo, não são perfeitos, mas têm o sentido da honra e do dever muito mais apurado que os latinos. Gostam mais da ordem do que da bagunça. Nós, é o contrário. Fomos historicamente "configurados" para agir assim, para não levar nada a sério.

    Mas, vão havendo algumas [poucas] excepções, felizmente.

    Um abraço

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Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...