06 dezembro, 2010

Gente submissa pede maus governantes

No post anterior, o Rui Farinas disse que é impossível recuperar um país sem a colaboração activa da sua população e que tal só acontecerá quando esta recuperar a confiança na classe política. Não posso estar mais de acordo. Hoje mesmo passei por uma situação que justifica plenamente as suas preocupações e que valerá a pena divulgar.   

Esta manhã, dirigi-me à estação dos CTT's da Avenida dos Aliados para pagar uma simples factura. Era meio-dia. Retirei o meu ticket de atendimento, calhou-me um com a letra A e o nº 170, que dizia "atendimentos rápidos" e fiquei a aguardar pela minha vez. Reparei, através dos 6 [seis] minúsculos monitores de 17"  que havia sobre o balcão corrido [precisamente iguais aos do meu computador que é para usar a uma distância de 50 cms], que apenas uma funcionária ocupava uma das 6 cadeiras correspondentes aos 6 postos de atendimento. Cinco, estavam vazias e assim se mantiveram até abandonar o local. O placard informava o nº 125 como sendo o utente a ser atendido naquele momento.

Percebi que ia ter de ser paciente e esperar, mas nunca pensei que fosse tanto. Entretanto, como tinha tempo, decidi espiar mais além para me inteirar como as coisas funcionavam e dei-me conta que havia outros dois balcões de atendimento com diferentes serviços, um com 9 postos de atendimento, só com 2 funcionários e um mais pequeno, com 4 e um funcionário. Estes indícios foram suficientes para retirar logo a conclusão que algo de errado tinha aquela loja. Uma delas, foi constatar que havia equipamento a mais para pessoal a menos, o que se traduziu numa sobrecarga para o que estava de serviço e num sádico teste à tolerância dos utentes. Além do mais, havia muitos idosos, mães com crianças ao colo e aquela resignação de carneiro típica dos portugueses...

Com imensa dificuldade em conter-me, regressei à minha "área de serviço" e continuei a esperar. Faltavam 5 minutos para as 13 horas, quando fui atendido! É verdade, uma hora! Paguei a factura e perguntei à funcionária se o chefe de posto estava presente ao que me respondeu afirmativamente informando-me do local do respectivo gabinete. Antes porém, sugeri à funcionária, que até foi educada e diligente, para de futuro não pactuar passivamente com aquela desorganização visto ser ela quem "dá a cara" junto dos clientes.

Depois de dar o devido puxão de orelhas ao chefe de posto, que só não ouviu mais porque teve o bom senso de me entregar em tempo útil o livro de reclamações [que preenchi], saí furioso e indignado dos Correios com mais este triste testemunho de bagunça nacional.

Mas, mais do que a incompetência do chefe de posto, o que me entristeceu, foi a passividade dos clientes. Só sabiam protestar entre si, baixinho, e alguns até pareciam estar a divertir-se com aquela seca. Só tive pena, foi dos velhos, coitados. Esses, até têm alguma desculpa pelos resquícios que trazem colados à alma  [e se calhar ao corpo] dos muitos anos de ditadura. Mas que diabo, será que ainda não perceberam que a única coisa que ainda têm de democrático é a liberdade de se indignarem?

Ps-Para que conste, eis o rosto e o nome dos meretíssimos angariadores de ordenados porno, administradores dos CTT-Correios de Portugal, S.A. [menos Estado, melhor Estado! Estão a topar?]


6 comentários:

  1. O povo é sereno, o povo é sereno...
    Já tive um chefe desses que foi saneado... deixa-me rir.
    É só fachada é só fachada...
    Para que serve os SIMPLEXs????
    Ainda bem que havia aí um livro de reclamações! se é que servem para alguma coisa!?...

    O PORTO É GRANDE VIVA O PORTO

    ResponderEliminar
  2. Rui, o problema é que a situação que você viveu nos CTT é o pão nosso de cada dia. Acho muito bem que tenha reclamado no Livro de Reclamações, mas cheira-me que se houver problemas, quem se vai lixar é o mexilhão.

    Um abraço

    ResponderEliminar
  3. "Mas, mais do que a incompetência do chefe de posto, o que me entristeceu, foi a passividade dos clientes. Só sabiam protestar entre si, baixinho, e alguns até pareciam estar a divertir-se com aquela seca..."

    divirtem-se com a seca porque vao recolher os rendimentos minimos e entao esperam nem que seja o dia inteiro...se tivessem falta real de comida em casa a revolta já se teria dado, andamos a subsidiar a pobreza é o que é.

    ResponderEliminar
  4. Anónimo das 13H45,

    as suas conclusões parecem-me um tanto redutoras. Primeiro porque nem todos estavam nos CTT's apenas para levantar dinheiro, e depois porque parece que a solução que propõe para acabar com o conformismo, é deixar as pessoas morrer à fome... Se lhes for retirado o rendimento, acha que o "mercado" tem de facto trabalho/emprego [remunerado] para lhes oferecer?

    Meu caro, a culpa é desses meninos que estão na fotografia que auferem rendimentos máximos demais para aquilo que produzem.

    ResponderEliminar
  5. Vila Pouca,

    Como disse e recomendei à funcionária que me atendeu, cabe-lhe a ela também denunciar estas incompetências, senão é cumplíce do regime. Quem cala, consente.

    Um abraço

    ResponderEliminar
  6. "Porto é Grande",

    o que fazem com o livro de reclamações não sei, agora, o que penso, é que não é com o Povo a cantar [chorar] o fado, ou calado, que se podem mudar estes hábitos próprios de uma escravatura.

    ResponderEliminar

Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...