Luiz Fernando Veríssimo, filho do grande escritor Érico Veríssimo, é provavelmente o maior humorista brasileiro vivo, por muito que não seja largamente conhecido em Portugal. Entre os personagens que criou, conta-se a velhinha de Taubaté, cidade do Estado de S. Paulo. Estava-se no tempo da ditadura militar - aliás no seu ocaso - e o " ditador de serviço" era o general Figueiredo, o tal que dizia "eu prendo e arrebento" em relação aos adversários de que não gostava.
A velhinha era uma senhora idosa, crédula, que vivia nessa cidade do interior paulista, sozinha com os seus gatos, e que tinha uma característica única : era o último brasileiro que acreditava nas afirmações do governo . Em consequência, ela era cuidadosamente monitorizada pelos Serviços Secretos, que transmitiam ao governo as reacções da velhinha. Por sua vez o governo, antes de qualquer dos seus membros fazer declarações públicas, tentava responder à pergunta " será que a velhinha vai acreditar nesta?". É que no dia em que a velhinha deixasse de acreditar no governo, era o fim!
Imagina-se a minha comoção quando por mero acaso descobri a existência de uma equivalente portuguesa da velhinha de Taubaté. Não consegui os detalhes da sua localização, apenas sei que vive algures na região saloia de Lisboa. Julgo até saber que a recente demissão do responsável pelos Serviços de Informação da República, se ficou a dever a divergências com o governo quanto à melhor forma de gerir o relacionamento com a velhinha.
Seja como for,o certo é que os Serviços de Informação verificaram que quando Sócrates explicou que tinha tirado o curso de engenheiro na Independente da maneira mais normal possivel, a velhinha nem por um instante duvidou. Quando afirmou que não estava envolvido no licenciamento do Freeport, a velhinha achou que só podia ser verdade, tal como no caso da Cova da Beira. Quando Sócrates disse que nada tinha a ver com as escutas da Face Oculta, a velhinha nem sequer pestanejou. Do mesmo modo quando Sócrates anunciou que a crise tinha terminado e que Portugal tinha sido o primeiro país a sair dela, a velhinha esfregou as mãos de satisfação. Idêntica alegria manifestou quando o governo lhe garantiu que não aumentaria os impostos.
Mas o problema surgiu agora, quando Sócrates anunciou que a política de educação que o seu governo vem implementando, é um êxito reconhecido em toda a Europa, que os nossos alunos "sabem mais", sendo que uma das provas é que a percentagem de reprovação (oops, perdão, de retenção) tem diminuido.
Aí, nem a velhinha acreditou, e todas as campainhas de alarme começaram a tocar em S. Bento. Reuniões de emergência do Conselho de Ministros vão realizar-se, para estudar como restabelecer a a confiança da velhinha e permitir a continuação de declarações oficiais que mostrem ao país que que tudo está sob controle.
O nervosismo reina nos gabinetes ministeriais. Se a velhinha voltar a acreditar, o país está salvo!
História deliciosa, Farinas!
ResponderEliminarA realidade, é que ainda há por aí muitas velhinhas... Não de Taubaté, mas talvez de Ranholas, não sei.
Esta velhinha na história de Sócrates, para além de ser crédula
ResponderEliminartinha Alzheimer.
O PORTO É GRANDE VIVA O PORTO.
Meu caro Farinas, somos um povo envelhecido...
ResponderEliminarUm abraço
Esta história, que adorei, fez-me lembrar uma outra situação, que conto em poucas palavras...
ResponderEliminarPara fugir à tropa, fui para os EUA, estudar e trabalhar, em Boston... Cursei Economia e Finanças, e tinha um colega, Sirio, com quem fiz uma serie de trabalhos... Expliquei-lhe a situação Portuguesa, entusiasmou-se com a dimensão da Metropole e das Colónias, falamos de Salazar e mais tarde de Marcelo. Recebiamos os magnificos Relatórios do Banco de Portugal, trabalhavamos com eles, e defendemos tese sobre a relação do Ouro com o barril de crude... e o trigo !!! Valemo-nos dum trabalho do Salazar, sobre o trigo num ponto de vista económico. O nome do Salazar era o BOTAS, como sempre em familia de reviralho (a minha), nos referiamos ao ditador. Eu achava que a tacanhês do beirão era culpada de tudo de mal que a Pátria passava...
Mais tarde trabalhamos juntos, e nos negócios que realizamos, ele para medir o risco, perguntava-me "- Achas que o Botas, não julgaria isto arriscado? "
Muitas e muitas vezes, repetimos esta interrogação, "- Que diria o Botas? "
Com o 25 de Abril, regressei à Pátria, com gosto e paixão... Continuo de esquerda, como sempre, mas muitas e muitas vezes, penso "que diria o Botas?"
Claro que o que defendo, é o rigor nas contas, a seriedade e o cuidado...Nunca o dito Botas...
a terminar, Alin, o meu amigo sirio, é dono duma Gestora de fundos, e ganha dinheiro quando o Mundo está bem, e quando o Mundo está mal... É um dos que nós por aqui apelidamos " os fdp dos mercados "...
Que diria o Botas ?
Anónimo 19:17,
ResponderEliminarcomo o entendo! Eu também fui e continuarei a ser um anti-Botas militante, contudo, teríamos de lhe dar o direito de soltar uma sonoras gargalhadas caso pudesse assistir aos estragos que os políticos estão a provocar na Democracia.
Parecece que o estou a ouvir: «e o Ditador era eu?»