07 dezembro, 2010

Há algo de podre no vale do Tua [in DN]

Há algo de podre no vale do Tua, e não é o fantasma do futuro a trazer um travo a esgoto das águas eutrofizadas da albufeira do Tua.

Há algo de errado quando um Estudo de Impacto Ambiental e um Relatório de Conformidade Ambiental de Projecto de Execução (RECAPE) afirmam numa base científica que a barragem vai ser desastrosa a nível regional e insignificante a nível nacional, mas a barragem avança.

Há algo de errado quando a Linha do Tua tem vindo a ser abandonada ou mesmo mencionada no caso Face Oculta, mas a culpa da má manutenção da via e estações é atirada como que para os próprios utentes que a utilizam. Há algo de muito errado quando um consultor da UNESCO afirma deslumbrado que a Linha do Tua tem todas as condições para ser considerada Património da Humanidade, reiterando o que disse o Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (Ifespar) sobre o seu valor patrimonial único, mas depois os ministérios do ambiente e da cultura (e depois o próprio Igespar) concluem que nem o vale nem a Linha do Tua têm valor patrimonial ou ambiental algum, arquivando com uma celeridade desconcertante o processo de classificação desta como Património Nacional.

Algo não está bem quando os comboios da Linha do Tua ficam sobrelotados de turistas, quando o Plano Estratégico Nacional de Turismo e o Plano Regional de Ordenamento do Território do Norte prevêem maravilhas turísticas para esta região, e quando um projecto de turismo ferroviário para a Linha do Tua fica em terceiro lugar num concurso nacional de empreendedorismo, e a CP e a Refer fecham as portas à sua exploração turística.

Algo de muito errado se passa quando com um projecto ferroviário de baixo custo se poria um madrileno em Bragança em duas horas, e nos debates havidos em Trás-os-Montes sobre desenvolvimento ninguém diz uma palavra sobre caminhos-de-ferro.

Muito mal vai o estado da Democracia quando a voz de 18 mil peticionantes contra a construção da barragem do Tua e a favor da reabertura, modernização e prolongamento da Linha do Tua, defendendo inclusivamente métodos alternativos mais baratos e mais eficientes de produção e poupança de energia, não é ouvida ou não é suficiente para calar a de meia dúzia de indivíduos mal intencionados e de carácter duvidoso.

A lista de incongruências, atropelos, e laivos de actividades amplamente contempladas no Código Penal avoluma-se. Vagas de estudos científicos e pareceres de especialistas de entre os quais UNESCO e Comis- são Europeia que apontam um severo dedo à barragem do Tua e coroam de louros o vale e a Linha do Tua, esboroam-se com um rumor de espuma do mar contra sabe-se lá que perigosos rochedos e contracorrentes.

Chegados a este ponto é lícito perguntar: em que mundos vive o Ministério Público e a PJ, ou será que o vale e a Linha do Tua é que já não pertencem a este mundo? Tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto fede...

Daniel Conde [DN]

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...tudo isto é fado, remato eu.

Sr. Presidente da República:

Prove-me que a sua existência é mais do que uma figura decorativa e interesse-se por esta causa!

Prove-me que está atento ao pais!

Prove-me que tem alguma utilidade e salve a Linha do Tua! Em nome de Portugal, que - não sei se tem ideia disso -, dispõe de mais território, para além do Terreiro do Paço.

Vamos ao trabalho.  Prometo que até votarei em si se for capaz de impedir que um outro monstro como a Barragem do Tua nasça da terra.

Vá, prove-me que estou enganado sobre a sua inutilidade.

Surpreenda-me, senhor Presidente!

Rui Valente

3 comentários:

  1. Como se pode acreditar neste País ?!...

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  2. Neste país o dinheiro e os grandes interesses falam mais alto.
    O património a mobilidade das populações assim como os costumes das suas raízes, são trucidadas sem que se ouça o povo que é gente, e não coisas.
    Nós somos um espécie Democracia
    Centralista a roçar qualquer coisa.

    O PORTO É GRANDE VIVA O PORTO

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  3. Se provas fossem necessárias para demonstrar que Portugal não merece estar na Europa e é a vergonha deste continente, aí estaria este caso.A outra prova é que o presidente da república é uma figura que não serve para nada e que as economias deviam começar pela extinção do cargo, nos moldes actuais.

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Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...