30 janeiro, 2015

Cavaco, Portas e socratices

Tenho-me perguntado se nos tempos que correm é possível elogiarmos alguém sem corrermos o risco de nos arrependermos pouco tempo depois. Ao contrário do que muitas vezes se pensa, nem sempre o aplauso traduz bajulação. Pelo menos comigo isso não funciona, porque se há coisa que não aprecio é o puxa-saquismo. De resto, considero tão natural criticar como lisongear. A verdade, é que  o virtuosismo dos homens é coisa efémera, já nada é definitivo. Se calhar sempre foi assim, não sei.

Digo isto, porque apesar da Justiça em Portugal estar muito longe de ser exemplar (e como havia de ser se tudo o resto não o é), tenho uma grande admiração pelo juiz Carlos Alexandre, mesmo arriscando que essa admiração esteja a prazo. E não é por ele ter metido Sócrates na cadeia, é pela sua coragem, e pela legião de bons samaritanos que acham que Sócrates deve ser tratado com privilégios que outros presidiários não têm. 

Imaginem só, que agora este hábito pega, e os tablóides se lembram de acompanhar as visitas à cadeia dos amigos dos detidos e convidar os respectivos advogados a fazeram a defesa frente às câmaras de televisão. Não estava mal, pois não? E por que havemos nós de concordar que, por más razões, um ex-ministro seja melhor tratado que o cidadão comum ? Quem não gostava (salvo-seja!) de ser tratado como um "príncipe", depois de detido por suspeita de vários crimes, sendo, ou não, culpado? 

Acho até alguma piada quando vejo esses samaritanos, incluindo os próprios advogados, censurarem os juizes por tratarem Sócrates como José Pinto de Sousa, quando afinal é o seu próprio nome. Se o advogado de defesa considera a opção dos juízes despersonalizante e desidentificante por omitirem o "Sócrates", também os juízes podem considerar as visitas de Mário Soares e de outras figuras públicas como uma forma velada de prestigiar e vitimizar Sócrates.  Os juízos de valor dão para os dois lados, não é verdade?

Agora vamos ver o que vai acontecer com Ricardo Salgado. Para já, Cavaco Silva ficou debaixo de fogo, e Paulo Portas ainda não pode respirar descansado... Quero é ver o mesmo empenho, a mesma coragem, se estes melros chegarem a ser julgados pelos mesmos juízes ou por outros da mesma estaleca de Carlos Alexandre. Sim, porque pelas informações que vamos registando os banqueiros sempre viveram escudados atrás do poder político, habituados a manipular ministros e presidentes, também devem ser investigados e salomonicamente julgados. Veremos se o dinheiro falará outra vez mais alto...

Não há nada melhor que uma boa Justiça. Porque aquilo a que estamos habituados é ver que na cadeia só entra a jardinha miúda, e que só esta tem servido de figurino para mostrar ao povo que a Justiça existe. É chegada a hora de provar que lá dentro também há lugar para os tubarões, mesmo para aqueles que passaram uma vida a ser tratados como nobres, mas com rabos de palha de fazer inveja à Troika.   

3 comentários:

  1. Só tenho a dizer o que se está passar com prisão de Sócrates é uma vergonha. Parece que os padrinhos políticos deste país estão incomodados, alguns também deveriam de estar presos.
    Sócrates não passa de um preso como qualquer outro, e por isso, deveria de ter o mesmo tratamento, mas infelizmente isso não acontece porque ainda há muito sendeiro na justiça.
    Haja justiça para os políticos corruptos ladrões, estamos a passar por grandes dificuldades exactamente por causa desta gente oportunista.

    Espero que haja gente na nossa justiça com coragem, para investigar muito político e governantes que ainda estão sobre suspeitas e que são outros que tais.
    Pensei eu, que o 25 de Abril ia ser a liberdade para os portugueses levarem uma vida desafogada e honesta, governada por gente capaz e decente, mas fizeram disto uma Abrilada para alguns se governar.

    Abílio Costa.

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  2. http://quintalusitana.blogspot.pt/2014/05/v-behaviorurldefaultvmlo_26.html

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  3. É chegada a hora de provar que lá dentro também há lugar para os tubarões
    ________

    Isso é possível com as leis que temos e com os meios (reduzidos) postos ao alcance da justiça ???

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Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...