06 março, 2016

Centralismo/benfiquismo

Sou do Porto, sou nortenho e portista. Vivi grande parte da minha vida convencido que pertencia a uma cidade e região onde, historicamente, os homens gozavam de uma reputação especial. O tripeiro, era tido como homem solidário, franco, amigo do trabalho e da liberdade. As semelhanças entre os portuenses e a generalidade dos nortenhos era grande, só sendo desvirtuada pela porcaria da clubite aguda, fruto das políticas centralistas que uma democracia bastarda só veio aprofundar. Quando me desloco a Braga, ou a Bragança, continuo a ver muitas afinidades, entre nós. Aliás, eu próprio sou o resultado do casamento entre um transmontano e uma minhota, que muito cedo vieram viver para o Porto e adoptaram a cidade como sua, em todos os aspectos.

Infelizmente, para muita gente, esses laços em comum não resistiram às multifacetadas propagandas do centralismo, que não hesitou em dividir os nortenhos, através do futebol. A benfiquização dos media é o braço armado do centralismo futebolístico. Hoje, é impensável convencer um benfiquista nortenho dos malefícios desse centralismo para a sua terra/região, mesmo que tudo o indique, ou prove que é por essa via da clubite doente, que o poder de Lisboa lhes adultera a alma, e  enfraquece as raízes. O mesmo podemos dizer de alguns portistas, que preferem ignorar o casamento de interesses entre o futebol e a política, a aceitar que os problemas antigos do FCPorto sempre tiveram a ver com o centralismo. É complicado destruir a barreira da emocionalidade clubista para deixar implantar a racionalidade política e cultural. 

Em boa verdade, acho que os nortenhos já não são o que eram. Aliás, tenho a certeza que as características dos povos se têm degradado em ritmo acelerado, cá, e mesmo noutros países por processos diferenciados. Se a benfiquização do país é a forma interna de descaracterização/desmobilização do povo português, a americanização do mundo (globalização) foi a via encontrada para dominar e adulterar as culturas nativas. As ferramentas usadas são as mesmas: os media. Ninguém terá dúvidas se lembrarmos que 90% dos conteúdos programáticos e culturais das televisões por cabo são de origem anglo-saxónica, predominantemente, americanos. Também não haverá dúvidas, quero crer, da preponderação do benfiquismo, nos media nacionais. Em resumo: ambos constituem graves atentados ao pluralismo, à democracia e à paz social.    

A juntar a isto, o Norte não tem líderes.Tem alguns homens ricos, que não é a mesma coisa. Outrora, o Norte também teve os seus milionários, mas que conseguiram impor-se, em regimes nada liberais, à prepotência do centralismo. Hoje, os Américos Amorins e os Belmiros tiveram de abdicar da sua autonomia ideológica (se é que alguma vez a tiveram), para prosseguir, sem entraves, as suas carreiras de negócios. Não será pois de estranhar, que entre esses negócios, não conste um único, na área da comunicação social, implantado no Norte... Belmiro de Azevedo, ainda ensaiou o jornal Público e a Rádio Nova, mas não teve coragem para se afirmar, renunciando à autonomia do Norte, porque outros valores falaram mais alto. O jornal Público, já não tem sede no Porto, e hoje passou para a toda sagrada Lisboa, e a Rádio Nova, é apenas um resquício de rádio para manter no activo meia-dúzia de jornalistas. 

Lamentavelmente, Pinto da Costa entendeu enveredar pelo mesmo caminho. Actualmente, salta aos olhos, que o seu objectivo, a sua meta principal, já não é o FCPorto, são outras coisas, entre as quais o corte comunicacional com os portistas. É outro homem do norte frouxo, rendido ao regime que ele diz combater, ainda que se esforce por lançar bitaites contra o centralismo, por razões de circunstância.

Resumindo: o homem do Norte, não é, nem era apenas, uma designação de homem valente do Porto. É mais abrangente: o homem do Norte não mora no Porto, nem em qualquer parte do Norte. A rendição é geral, e explica a discriminação que sofremos e que continuará a fazer escola. o que em nada nos enobrece.


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