07 abril, 2019

Para diplomata da tanga engolir

Joana Marques

Mas se nem ex-diplomatas resistem a falar de bola, porque não hei de eu meter a minha colherada? Apesar de saber menos de etiqueta que um embaixador vou tentar usar a colher certa. Acho que o facto de Seixas da Costa ser um diplomata aposentado lhe dá direito de ajavardar à vontade. Foi para isso que se reformou, ora. Farto de diplomacia está ele! Agora é tempo de descansar, palitar os dentes, coçar partes íntimas em público e insultar gente na net. Enquanto a maioria das pessoas sonha ser rico, Seixas da Costa sonhava, aparentemente, ser um taberneiro.
Na berlinda esteve, esta semana, Rafa Silva. O jogador do Benfica "perdeu a cabeça", expressão muito usada no futebol e nos saldos. Mas acho que nunca houve zaragatas tão grandes nos descontos da Zara como nos descontos de tempo de um jogo. Rafa parece ter tido um assomo de mau perder. Acontece aos melhores, digo eu. "É um comportamento inaceitável", diz a opinião pública, que vê no mau perder o oitavo pecado mortal. Já eu vejo-o com bons olhos, parece-me uma imperfeição querida. De entre todos os defeitos humanos, o menos mau. Uma fraqueza infantil, herdada do recreio da escola. Perde-se e ganha-se a jogar. Podem até ser competições sérias, como aquela corrida presidencial em que Mário Soares evitou cumprimentar Cavaco Silva. Compreendo, custa sempre perder para um adversário teoricamente mais fraco. Mas se o mau perder fosse a maior falha que temos a apontar aos nossos governantes... esqueçam a cauda da Europa, estaríamos destacados na frente, conhecidos em todo o Mundo como uma nação superdesenvolvida, embora com um feitio tramado. Seríamos alemães, no fundo.
Perante um ataque de mau perder, apressamo-nos a fazer juízos de valor sobre os protagonistas. Não será uma extrapolação abusiva? Serão Sérgio Conceição, que deixou João Félix de mão estendida, ou Rafa, que perseguiu Bruno Gaspar tão rápido que parecia estar a correr para o autocarro (provavelmente ansioso por lhe espetar com o novo passe nas ventas), piores pessoas do que malta que foge aos impostos, ultrapassa pela direita ou atira lixo para o chão?
Não gostar de perder "nem a feijões" costuma ser atributo dos craques. Cristiano Ronaldo é o maior representante dessa mentalidade, e já mostrou o seu mau perder quase tantas vezes como o six pack mas parece ser o único que não é condenado por isso. Também não é noutros casos, mas isso daria outra crónica, talvez mais apreciada no "Der Spiegel"...
Ter mau perder é como ter mau morrer: trata-se de uma coisa que queremos evitar a todo o custo. Estrebuchamos nos momentos finais, mesmo sabendo que já não há nada a fazer. Admiro os bons executantes de uma birra, identifico-me com eles. Como escreveu, em tempos, esse grande pensador contemporâneo que é Bruno de Carvalho, "acredito muito na equipa que escolhi para serem eu dentro das quatro linhas!". Mas quando um atleta faz uma jogada magistral não me sinto representada, não consigo pôr-me nos seus sapatos (até porque devem calçar todos para cima de 47). Nesses momentos não temos nada em comum, a não ser o clube. Eles são talentosos, atléticos, milionários, e eu... enfim, vou poupar-vos (e a mim) à minha descrição. Agora, quando um deles amua, quando responde mal, quando perde as estribeiras, torna-se humano, igual a mim. Ficamos unidos por um laço invisível (afinal o Chagas Freitas voltou). Vibro com uma boa escaramuça pós-jogo, admito. Talvez por padecer da mesma doença. Sou portadora de mau perder desde 1986. Já tive crises a jogar Pictionary, padel ou à apanhada com o meu filho. Até quando perco o euromilhões fico zangada.
Os sintomas mais comuns do mau perder são tensão muscular, confusão mental e o principal: forte arrependimento no minuto seguinte, quando o doente cai em si. É como se fosse um bêbedo a lembrar as figuras tristes da noite anterior. Não há pior castigo do que esse. O mau perdedor não precisa de lições de moral, já tem a sua ressaca. Deixemos os Rafas e os Sérgios, concentremo-nos talvez nos Salgados, apesar de serem verdadeiros gentlemen que nunca se exaltaram num jogo de golfe.
NOTA 20: Para a novela do PS que tem mantido os portugueses presos ao ecrã. Descobrem-se graus de parentesco a velocidade alucinante. Se em clássicos como "Olhos de água" duas gémeas eram separadas à nascença, neste caso dois primos são juntos por nomeação, surpreendendo toda a família socialista. É natural que não soubessem. Se fossem os dois interpretados pela Sofia Alves era mais fácil topar.
(Do JN)

1 comentário:

  1. Joana Marques dá neles nos Raspas, desculpa nos Rafas, no demente Seixinhas, e nas famílias da vergonha, desculpa nas famílias políticas. Para mim a culpa é toda do Intelectual Vieira, homem formado em sopa de letras, no Polvo à Lagareiro e em fazer desaparecer camiões. Com toda esta corja A Vida é Bela num Belíssimo Portugalos.

    Atentamente.

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