22 novembro, 2007

Foi louvável o entusiasmo do público no Dragão?

Agora que o apuramento de Portugal para o Europeu de 2008 está conseguido, sinto-me à vontade para confessar que tenho sentimentos contraditórios quanto à realização no Dragão do jogo contra a Finlândia.

A dupla Madail-Scolari vem agora dar pancadinhas de amizade nas costas do público do Porto e restante Norte. Somos os melhores, fantásticos, nunca os desiludimos, bla, bla, bla. O público foi efectivamente super entusiástico e criou um ambiente caloroso, mas devemos nós, nortenhos, estar orgulhosos porque 50 mil pessoas se reuniram no Dragão para ver e apoiar um jogo da selecção nacional? Devemos considerar normal ver o presidente do FC Porto fazer o papel de solícito anfitrião? Aceito que Pinto da Costa tenha tomado a decisão mais sensata, mas ( aqui estão os sentimentos contraditórios) não gostei.

A adesão do público preocupou-me, não do mero ponto de vista futebolístico, mas porque representa a aceitação passiva pelo Norte ( que para o efeito considero do Mondego para cima) de todas as humilhacões sofridas às mão da dupla Madail-Scolari. Maus prenúncios para a regionalização no que diz respeito à região Norte, pois quem aceita humilhações no futebol, também aceita que continuar a ser colonizado pelo Terreiro do Paço é uma situação normal e aceitável. Eu sei o que os anti-Porto ( cidade e clube) alegam. "O problema é dos portistas que ficaram furiosos por o Scolari não ter convocado o Vitor Baía, mas o FC Porto não é o Norte e nós, que também somos nortenhos, não temos nada com isso". Raciocínio redutor que não leva em consideração que o caso do Vitor Baía é apenas um pequeno detalhe, e não o mais relevante.

Por razões desconhecidas, o técnico brasileiro mal tinha aterrado em Lisboa pela primeira vez, e já estava a tomar atitudes de hostilidade insultuosa a tudo o que dissesse respeito ao Norte, incluindo entre os seus alvos o clube de futebol do Porto que provavelmente já nessa época era o mais representativo de Portugal.

Mas enquanto o seleccionador hostiliza, com o silêncio cúmplice da Federação Portuguesa de Futebol, esta ignora, ostracisa e até humilha o Norte do País, e não é a realização do Campeonato Europeu de sub-21 que me fará mudar de opinião.

Lembremos os factos. No Euro 2004 o Norte apenas teve direito ao jogo inaugural. Todos os outros jogos de Portugal foram disputados em Lisboa. No apuramento para o Mundial 2006, dos seis jogos em Portugal, quatro foram no sul e dois no Norte (Aveiro e Porto) contra adversários sem interesse. E no Minho? Há quantos anos não há um jogo oficial em Braga ou Guimarães? E não esqueçamos que para o estágio final do Mundial, se fêz à pressa um centro de estágio em Évora. Nenhum dos centros que já existiam no Centro e Norte pareceu servir para o efeito. Mais uma vez fomos ostensivamente ignorados sem uma explicação. É indiscutível parecer haver a preocupação de isolar a selecção de futebol no Norte do País, e com este panorama só havia, em minha opinião, uma atitude possível: a selecção ignora-nos? Pois vamos ignorar a seleção. Mais uma vez aparecem os mixed feelings. Não tenho nada que condenar quem foi ao Dragão, mas ...

E é por tudo isto que me sinto incomodado pelos elogios hipócritas do Sr. Scolari ao público do Dragão, e muito embora tenha ficado satisfeito com o apuramento de Portugal, lamento que o jogo tenha tido a moldura que teve, até porque isso não vai servir para que no futuro sejamos melhor tratados, pelo menos enquanto a dupla se mantiver em funções. Só se lembram de nós quando troveja. Em 1975 onde se refugiaram os jactos da Força Aérea, e para onde iria fugir o Governo se fosse proclamada a Comuna de Lisboa?

2 comentários:

  1. Caro Rui Farinas,

    Como eu o compreendo...

    Essa é uma daquelas situações em que se pode bem avaliar a influência (negativa) que tem a televisão.

    Passam o tempo a fazer de conta que Lisboa é o país, mas quando lhes dá jeito, recorrem ao fadinho do costume da "unidade nacional" e conseguem dar a volta a muitos portuenses.

    Só gostava, era de saber quem fez a cabeça do Scolari desde que chegou a Lisboa. Foi alguém (ou mais gente) de peso, seguramente. Mas esse, é um mistério perfeitamente inócuo que deve entrar nos parâmetros de trnsparência de Maria José Morgado e da sua honorável equipa.

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  2. Excelente comentário...Foi por essas e muitas outras que nem sequer ponderei pôr lá os pés...

    Mas Sr. Rui Farinas, não se admire que a maioria dos que lá estiveram na quarta sejam adeptos nortenhos mas do estilo subserviente, daquele tipo de nortenho que se "ilumina" facilmente com tudo venha da capital do império ou que seja "fabricado" nessa zona...

    Aqui no Porto também os há mas no resto do Norte existem às "paletes" deles...infelizmente...

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Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...