14 fevereiro, 2008

Cem anos depois

"Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não discriminando já o bem do mal, sem palavra, sem vergonha, sem carácter (...). Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo (...). Dois partidos (...) sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes (...), análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se amalgamando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no Parlamento, de não caberem todos de uma vez na mesma sala de jantar (...)".

Isto foi escrito há 100 anos por Guerra Junqueiro, estrebuchava a Monarquia (que, a pretexto do regicídio, alguns patuscos de "blaser" e emblema da Causa Monárquica na lapela nos têm recentemente tentado vender como um eldorado perdido) nos últimos estertores.

Porque o chapéu assenta singularmente no clima social e político finissecular que de novo vivemos, "Pátria" deve ser hoje o livro mais citado na blogosfera portuguesa, onde, expulsa dos media tradicionais, se exila grande parte da massa crítica que, entre nós, ainda mexe. É um sinal, o sintoma de uma doença. Até generais já andam por aí a assumir-se publicamente como "reservas morais" da nação.

Quando a "reserva moral" já está na tropa, há boas razões de sobressalto cívico.

Manuel António Pina
(do JN)

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