12 junho, 2008

Manda quem pode e obedece quem deve

Corre actualmente na justiça um processo em que a C.M. do Porto pede uns milhões de indemnização ao antigo presidente Nuno Cardoso, a três dirigentes do FCPorto e a três engenheiros municipais. Estas sete pessoas são acusadas de terem causado prejuízos ao Estado a quando de trocas de terrenos envolvidos no Plano de Pormenor das Antas(PPA).

Não sendo jurista e nem tendo especial conhecimento dos factos, obviamente que nem me atrevo a emitir uma opinião devidamente sustentada, mas não posso deixar de exprimir dois comentários.

O primeiro, é que sou levado a pensar que este caso parece ser a continuação daquele bloqueio vergonhoso que Rui Rio pretendeu colocar na construção do estádio do Dragão e no PPA. Tudo leva a crer que a ânsia de protagonismo pessoal e o ódio ao FCP foram as motivações que o levaram a tomar as atitudes que tomou e que, mais do que prejudicar o FCP, prejudicavam a cidade que desgraçadamente o elegeu para presidente da edilidade. O seu interesse pessoal foi colocado à frente dos interesses da comunidade. É a isso que se chama honestidade a toda prova? Felizmente que os seus designios puderam ser ultrapassados, e hoje aquela zona da nossa cidade começa a tomar um cariz urbanístico que, motivações clubísticas à parte, só nos pode orgulhar, por muito que possa custar ao senhor presidente da câmara.

O segundo comentário que me ocorreu, acaba por ser "mais do mesmo". Refiro-me à enorme discrepância de tratamento dado a eventuais irregularidades resultantes da construção do estádio do Dragão, quando comparadas com a roubalheira pública com que foi beneficiado o Benfica para a construção do seu estádio. O FCP, através de dirigentes seus, vai a tribunal acusado de ter sido beneficiado no tratamento que lhe foi concedido pela câmara, só porque há desacordo na valorização das parcelas que foram permutadas. No caso do Benfica, os detalhes do acordo entre o clube e a câmara de Lisboa foram cuidadosamente ocultadas do grande público, mas felizmente um dia Miguel de Sousa Tavares conseguiu uma cópia desse contrato, que a câmara sempre se tinha recusado a lhe facultar. Deu-o então a conhecer no jornal desportivo onde colabora. Isto já foi há uns anos, mas lembro-me dos atropelos cometidos, dos favores ilegais concedidos ao clube, das infracções lesivas do interesse público. Em consequência, a EPUL, empresa municipal vocacionada para criar urbanizações, e com quem foi permitido ao Benfica associar-se, foi mungida como uma vaca leiteira. Era presidente da câmara lisboeta o Dr.Santana Lopes, o tal que continua a "andar por ai". O clube da "transparência" bem devia erguer-lhe uma estátua junto à do Eusébio.

Este é o "pão nosso de cada dia". Em Lisboa fazem-se todas as manigâncias que for preciso, mas tudo continua na santa paz do Senhor. No Porto, a propósito de tudo e de nada, polícia, inquéritos e tribunal com eles poque é gente de má raça e há que metê-los na ordem.

Faz parte da actualidade de hoje mais um exemplo desta dualidade. O Tribunal de Contas detectou inúmeras irregularidades no Metrro de Lisboa, nomeadamente na construção do troço entre o Terreiro do Paço e Santa Apolónia, além de um aumento de custo de 66% em relação ao orçamentado. As irregularidades são de tal monta que o TC diz que elas podem levar à devolução a Bruxelas de fundos já recebidos. O que vai acontecer à administração da empresa? Verão que nada, e o ministro Jamé continuará tranquilamente a tratar da sua vida.

Mas no Porto... bem, no Porto foi diferente. A propósito duma ultrapassagem de custos, esse mesmo Jamé surgiu como um arcanjo exterminador e, utilizando a espada da sua prepotência, simplesmente destituiu na hora a administração da Metro do Porto.

Colonizadores senhoriais, e colonizados servos da gleba ou, como se dizia na minha juventude durante o Estado Novo, "manda quem pode e obedece quem deve". Afinal há tradições que ainda são o que eram.

2 comentários:

  1. Meu caro Rui Farinas o "rio" quer ser popular em Lisboa à custa do F.C.Porto e por isso toma estas decisões que são uma vergonha.
    A juntar às derrapagens do Metro da capital, agora temos um governo que quer colocar portagens nas Scutes do Litoral norte, mas ao mesmo tempo, vai ao orçamento geral de estado buscar dinheiro, para compensar a Lusoponte e com isso, não aumentar as portagens nas pontes de Lisboa, por causa do aumento do Iva de 5 para 21%.
    Um abraço

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