08 junho, 2008

Precisa-se: Partido Regional com lider incluído

A propósito da eventual chegada de Barack Obama à Casa Branca, um antigo membro do governo americano, disse: " Nada de bom acontecerá em Washington a menos que o público americano se mobilize para o fazer acontecer". O contexto pode ser diferente mas automaticamente me veio à cabeça uma adaptação local: " Nada de bom acontecerá no Norte a menos que o público nortenho se mobilize para o fazer acontecer".

Não acredito que a grande massa do povo nortenho espontaneamente se mobilize para tomar o seu destino em suas próprias mãos. Será necessária a aparição de alguém que desperte entusiasmos, que congregue vontades, que acorde e conscencialize uma sociedade maioritariamente abúlica que mais não faz do que queixar-se, e que não teve ainda a lucidez necessária para identificar a origem dos seus problemas e para se empenhar activamente na procura das melhores soluções. A fraca adesão ao referendo de 1998 traduz precisamente uma apatia generalizada.

Onde estará o necessário lider? Nos políticos actuais, nem pensar. A grande maioria deles é a causa do descrédito generalizado da classe. Esta geração de políticos está "queimada" para todo o sempre. Eles sabem que ninguém os leva a sério, mas desde que se governem, querem lá saber...

Mas a política faz-se com políticos. Onde está então a nova geração capaz de limpar radicalmente esta desgraçada imagem da geração que está de serviço? As juventudes partidárias poderiam ser o alfobre dos novos políticos. Temo porém que desde pequeninos sejam "formatados" com o temor reverencial ao grande-chefe-que-distribui-as-benesses, numa espécie de novo reflexo de Pavlov: se não tocarem a sineta certa, perdem a sua vez de se servir do prato dos queijos, e bem podem então tratar de arranjar outro modo de ganhar a vida, provavelmente a trabalhar.

Há muito que acredito ser absolutamente necessária a criação de um partido regional. Um partido que provavelmente seguiria uma trajectória semelhante à do BNG galego. Apareceu de mansinho, quase clandestino, foi sendo capaz de passar a sua mensagem, convenceu os eleitores, e hoje, tendo batido os grandes partidos nacionais, governa a Galiza. O BNG é um partido que tem a sua lealdade focada nos compromissos com os seus eleitores, não com os maiorais que circulam nos gabinetes de Madrid, a maior parte dos quais, se calhar, nunca pôs os pés na Galiza.

Pois bem, acredito que a juventude que aderisse a esse partido regional, poderia constituir o embrião de uma nova classe de políticos. Primeiro, porque saberiam que num partido que não estava naturalmente vocacionado para o poder a nível nacional, a probabilidade de obterem benesses e sinecuras era baixa. Admito então que fizessem a sua adesão apenas com a vontade de serem úteis à sua região e ao seu povo. Em segundo lugar, porque acredito ser mais fácil criar laços afectivos com a nossa região do que com o chamado "nosso país" que é uma entidade que passou a ser abstracta desde que o centro de comando, localizado na capital, aboliu na prática o conceito de Nação através de políticas centralistas que dividiram a população em dois grupos distintos: os que se governam, ou colonizadores, que veem o seu nível de vida subir continuamente, e os outros, os colonizados, que veem a sua vida a andar para trás.

Será isto uma utopia, serei eu um sonhador? O futuro o dirá...

6 comentários:

  1. Caro Rui Farina.

    A criação de um Partido Regional (não sei se a constituição o deixa)tem de ser um imperativo para a cidade e respectiva área metropolitana do porto, de modo a que consiga fazer aquilo que os Partidos ditos nacionais jamais fizeram.

    Depois de emergir o Partido Regional (aceitam-se desde já sugestões para o seu nome), haverá uma maior dinâmica para a criação dos instrumentos tendentes a melhorar a nossa região e fazê-la sair do estado comatoso em que se encontra há muitos anos.

    Além disso teríamos o espaço ideal para discutirmos todos os temas que nos afligem actualmente, como a regionalização e através dele podermos reinvindicar aquilo a que temos direito.

    Acredito no Partido Regional, pela força que irá ter na região e no todo nacional, aliás como se pode observar pelos partidos regionais em Espanha.

    Abraço

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  2. Caro Rui Farinas,

    Não me parece absolutamente nada utópico o que sugere neste post, é o único caminho a seguir, se os portuenses (portistas e não portistas) quiserem aceder a uma vida mais digna e a preservar a sua identidade.
    Disse portuenses (portistas e não portistas) de propósito para recordar que a política sendo um departamento distinto do futebol está - no nosso país - demasiado "colada" a ele e está na hora do "desmame" , de dividir as águas. Oportunamente tentarei explicar porque penso assim.

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  3. Embora esteja de acordo com a necessidade de um partido regional, ou pelo menos de um partido nacional com vocação mais regional (no caso da constituição não permitir o primeiro) não penso que daí resultasse no imediato um triunfo para as ideias de regionalização. Isto porque penso que a falta de interesse dos eleitores no referendo de 1998 se iria repetir pelo simples facto de que a linguagem usada para defender a regionalização, embora técnica e politicamente correcta, está afastada daquilo que são as preocupações do "povo".

    Ninguém quer saber quantos milhões são gastos a promover Lisboa ou que são desviados do Norte. Aquilo que deveria ser enfatizado é quanto é "tirado" a cada habitante do Norte (e o mesmo para outras regiões) para ser investido em Lisboa. Não quantos empregos, ou percentagem de empregos o Norte perdeu, mas quantas pessoas que eles conhecem ficaram sem emprego. Ou seja, a linguagem a adoptar deverá ser o mais pessoal e concreta possível, mostrando que as perdas não se fazem sentir só ao nível regional (importante mas ainda assim não o suficiente perto para levar à acção) mas também a nível local e, como já disse, pessoal.

    Enquanto não se adoptar uma linguagem de proximidade que faça ver aos portugueses o quanto cada um deles, e as pessoas que lhes são próximas, perde directamente com a centralização, dificilmente se conseguirá reunir o apoio popular necessário. Seria importante avançar o mais rapidamente possível porque encontramos-nos numa altura ideal para levantar consciências para esta questão.

    Cumprimentos

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  4. Caro Bruno,

    Não deixa de ter razão. As percentagens e os números pelos números são muito impessoais, não calam fundo na mente do cidadão comum. É sempre mais pelo lado emotivo que se consegue mobilizar as pessoas. Já para não falar dos "empatas" da regionalização. Se lhes apresentarmos 500 mil versões do Mapa das Regiões eles precisam de 501 mil...
    É complicado.

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  5. Pode haver partidos regionais? A resposta é "não" e é "sim". O nº 4 do artigo 51 da Constituição diz: "Não podem constituir-se partidos que, pela sua designação ou pelos seus objectivos programáticos, tenham índole ou âmbito regional". Um site da Comissão Nacional de Eleições (CNE) afirma textualmente que aquela proibição "não impede a existência de partidos com uma base de apoio centrada essencialmente em regiões". A necessária clarificação prática deste aparente antagonismo é assunto para advogados. A mim, leigo, parece-me no entanto que, com as necessárias precauções, é possível criar um partido regionalista.

    Tenho ideia de haver também uma disposição legal que determina qual o âmbito territorial mínimo dos partidos políticos, mas não consegui encontrar nada na rápida pesquisa que fiz.

    Verifiquei que neste momento há cinco movimentos cívicos que se preparam para pedir a sua passagem a partidos políticos.Deixo aqui registados os seus nomes:
    - Partido Liberdade (PL)
    - Movimento Mérito e Sociedade (MMS)
    - Movimento Liberal Social (MLS)
    - Partido Respública(sic) e Cidadania (PRC)
    - Movimento Esperança Portugal (MEP)

    Pareceu-me que nenhum deles tem preocupações regionalistas, pelo que não correspondem aquilo que desejaríamos.

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  6. Caro Rui Farinas.

    Não será nosso objectivo procurar nestes movimentos civicos que se querem transformar em partidos politicos. Porque todos eles se movimentam em redor da capital do império.

    Acredito ser possível criar um Partido de ambito regional, embora "mascarado" de nacional, com origem na cidade do Porto.

    Todos nós já nos convencemos que teremos que ser nós a olhar pelos interesses que nos rodeiam, nomeadamente a regionalização.

    Precisa-se de um jurista capaz de saber fazer a interpretação da lei e de como criar um partido com raizes regionais.

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