25 novembro, 2008

Falar demais é prejudicial à Justiça

De vez em quando, é bom sairmos dos problemas de âmbito local e procurar coordená-los com as questões «nacionais», que, como diria, ironicamente, o meu amigo Rui Farinas, pouco mais são do que assuntos, igualmente de carácter local, isto é, assuntos de Lisboa.
Estes crimes, roubos de igreja e pedofilia, com origem na capital do cosmopolitismo, por isso, isentos de formações de equipas especiais para a devida investigação, para nós portuenses, servem para fazermos a ponte, entre critérios analíticos com algumas semelhanças, consoante o estatuto ou local onde tenham ocorrido.
Ao ler a primeira página do Público de hoje, li com alguma estranheza, uma declaração do procurador responsável pelo processo Casa Pia que dizia isto sobre Carlos Cruz: "cometeu suicídio quando foi às televisões explicar-se". A minha estranheza nada tem a ver com a culpabilidade ou inocência do visado. Quanto a isso, tenho as minhas convicções pessoais e não me interessa agora pronunciar-me sobre elas. O que me ocorreu esmiuçar melhor, foi a frase do senhor procurador e questionar se a conclusão que ele extraiu do comportamento de Carlos Cruz, segundo a qual, a sua ida à televisão para dar explicações, serviu para acentuar a sua eventual culpabilidade.
Pela ordem de ideias do senhor Procurador, há uma lista interminável de gente graúda (é quase a esta, em exclusivo, que a TV se disponibiliza para "ouvir", quando recaem suspeitas sobre ela), que deveria estar sob a mira do senhor procurador com poucas chances de absolvição. Vejamos apenas os casos mais recentes:
  • Dias Loureiro
  • Victor Constâncio
  • Cavaco Silva

Depois, recuando uns tempos, lembramo-nos de:

  • Carlos Melancia
  • Vale e Azevedo
  • Paulo Pedroso

Para sintetizar, citei apenas estes seis casos, uns mais recentes e outros já com uns anitos, mas -se fosse essa a ideia -, podia facilmente aumentar o ménu dos que falaram à televisão sobre assuntos pouco nobres que de algum modo lhes dizia respeito. Ora, não é isso que objectivamente quero destacar, mas sim a declaração do senhor procurador que me parece um tanto mal explicada, ou infeliz.

De algum modo, até posso concordar com o senhor Procurador João Albéo, porque até já o escrevi várias vezes, que os programas de grande audiência onde participam figuras públicas e políticas, pouco mais servem do que para branquear maus desempenhos políticos ou casos de envolvência em processos de óbvia criminalidade. Mas, das duas uma, ou as minhas convicções são mais pragmáticas do que eu próprio imagino, e nesse caso há muita gente sob séria suspeita, ou então o senhor Procurador devia ter-se remetido a um eloquente silêncio. À partida, este senhor, está a fazer discriminação judicial pouco antes da decisão final do Tribunal, e isso, além de me parecer um tanto folclórico para alguém com o seu status, é cometer o mesmo erro do que aquele de que acusa Carlos Cruz, mas com objectivos opostos. A única diferença, é que não o cometeu na televisão.

1 comentário:

  1. Mas ó Rui, e tal como você, não julgando ninguém, eu pergunto: mas o procurador não fala que já havia factos de 1982? Então quer dizer: se O C.Cruz não vai à tv, mesmo que EVENTUALMENTE, estivesse metido no assunto, não tinha nenhum problema?
    Eu sinceramente, cada vez percebo menos de tudo isto. Mas devo ser eu que tenho raciocínio lento.
    Um abraço

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