Onde ficava Portucale?
O assunto é velho mas continua a ter actualidade: onde ficava Potucale, a civitas que deu origem ao Porto; na margem direita ou na margem esquerda do Douro?
Ou será que havia duas civitas com o mesmo nome, uma em cada lado do rio?
António Sousa Machado defende esta hipótese. Na sua obra "As origens da cidade do Porto - o problema de Portucale" refere que havia "os dois Cales, um de cada lado, que iam exercendo a missão de embarcadouros ou pontos de passagem..."
É pois mais que provável que tenha existido, na margem esquerda, uma povoação designada como "Portucale Castrum antiquum" e que os romanos, ao chegarem à margem do Douro, tenham uma fortificação, do lado direito do rio, que passou a ser conhecida por "Portucale Castrum Nuovo".
Esta segunda povoação é que viria a ser o embrião da grande metrópole que é hoje o Porto.
O investigador portuense Mendes Correia, é da opinião que Portucale nasceu de Cale "como uma derivação para as actividades da beira rio".
As origens do Porto tem sido um dos temas mais estudados entre nós. Não obstante e, apesar do muito que já se escreveu sobre este tema, conhece-se ainda muito pouco sobre Cale e Portucale. Mas do pouco que se sabe, tudo leva a crer que nas duas margens do Douro haveria, desde os tempos dos suevos, dois desembarcadouros, ou seja, duas Cales, designação a que os romanos acrescentaram a palavra portus com o significado de entrada, isto é, porto de entrada. Daí o aparecimento de Portucale ou Portuscale como, por vezes, também aparece escrito, como ponto de embarque e desembarque nas duas margens do rio Douro.
Ora, é a partir de um destes Portucale que surgirá a grande metrópole que é o Porto dos nossos dias e com uma certeza: a de que aos primitivos habitantes desse sítio nem lhes terá passado pela cabeça que seriam os fundadores de uma cidade cujo nome daria origem ao nome da própria nação.
Tudo leva a crer, de facto, que foi a partir do Portucale situado a Norte, ou seja na margem direita do Douro que nasceria o Porto. O que faz todo o sentido.
Todos sabemos que a cidade se fez, em grande parte, através do rio, isto é, que se desenvolveu economicamente graças ao intenso tráfego marítimo que desde recuados tempos se resgistou no Douro. Mesmo antes do rio ser navegável na maior parte do seu longo curso, de ser via de comunicação que permitisse o acesso às terras do interior onde havia produtos à espera de rápido e seguro escoamento, já era um porto relativamente seguro muito procurado por barcos de várias procedências que ali se refugiavam de tempestades e faziam aguada.
Os navios de longas distâncias que andavam no comércio e sulcavam as águas do Atlântico, junto da costa portuguesa, precisavam, por vezes, de se abrigarem, mormente durante a noite, em sítios seguros e o porto natural do rio Douro oferecia-lhes essa segurança, além de que ainda lhes dava a possibilidade de se abastecerem de água e de mantimentos e de fazerem os reparos que fossem necessários. Por tudo isso, o Douro representava para o Porto, não apenas a entrada na velha Galécia, mas também a única via de comunicação com o interior da riquíssima região de Riba Douro de onde vinham o estanho, o cobre e os apreciados vinhos que ali se produziam.
Durante o domínio romano o topónimo Portucale estaria localizado na zona ribeirinha, subjacente ao velho castro, junto da foz do rio da Vila, de onde partia a estrada para Braga. Um local muito importante se tivermos em conta que era por estes sítios que se cruzavam duas grandes e importantes vias de comunicação: a estrada terrestre, que ia praticamente de Lisboa até Braga e outras povoações do Norte; e a estrada fluvial, digamos assim, que ligava o interior da Península com o mar.
Normalmente aponta-se o sítio da Penaventosa, ao redor da catedral, como tendo sido aí que terá surgido o primitivo núcleo de onde evoluiu a cidade que hoje conhecemos. Mas essa teoria não está, nem cientifica nem documentalmente comprovada. A povoação que aí se constituiu, rodeada de altos muros defensivos, foi para servir de refúgio e de protecção à população ribeirinha, em caso de invasões inimigas.
O já citado Sousa Machado admite que o tal castro que os romanos ergueram, nas margens do Douro, para vigiar os povos da área " e que pudesse constituir a base para o assalto da região ao norte do Douro..." tenha sido erguido, como estratégia de defesa, nesta zona sobranceira ao rio.
Com a chegada dos bárbaros à Península, no século V, toda a organização romana foi desmantelada. A invasão dos suevos, vândalos e alanos, deu-se no ano 411. Não se pode dizer que fossem muitos mas foram os suficientes para desmantelar e substituir a civilização romana já então em franca decadência.
Os suevos formaram então um reino a que deram como capital a cidade de Braga, mas a encruzilhada do Porto continuou a ser importante para o desenvolvimento de toda a região. O domínio dos suevos nestas paragens terminou em 585 ano em que o reino suevo passou para o domínio visigodo.
Esta fase foi também muito importante para o Porto uma vez que vários reis visigodos chegaram a cunhar moeda no Porto.
Germano Silva/JN
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