01 janeiro, 2009

Elisa Ferreira: Porto é um grande desafio (entrevista ao JN)

Relançar o Porto é a promessa que Elisa Ferreira faz à cidade. Ser presidente da Câmara, garante, seria "a coisa mais importante" da sua vida e deixaria todo o trabalho que está a desenvolver. Se for eleita vereadora, abandonará o Parlamento Europeu? É um caso a pensar, diz a eurodeputada, que faz um apelo à união do PS nas próximas autárquicas.

Vai candidatar-se à Câmara do Porto nas eleições autárquicas?

Ainda não é o momento do anúncio. O trabalho está muitíssimo bem encaminhado, mas falta finalizá-lo. A finalização passa, por exemplo, por uma tomada de decisão e convite formal por parte do Partido Socialista (PS), sobretudo ao nível da Concelhia do Porto. Penso que o fará a curto prazo. Da minha parte, o processo tem vindo a construir-se num sentido positivo, mas não há pressa. O importante é que tudo suceda a seu tempo, amadurecendo naturalmente.

Então, está pronta para esta candidatura, mas o PS ainda não?

Não acho que seja isso. É um processo de convergência que, informalmente, tem gerado muitos aspectos positivos. Falta que a Concelhia conclua o trabalho que tem desenvolvido através da confirmação da decisão de um convite, de acordo com os estatutos.

É um processo do P S que envolverá outros independentes?

Sim. Será uma das componentes importantes do fecho do acordo, caso venha a concretizar-se. Sempre trabalhei politicamente, mas não sou uma política profissional. Sou uma professora universitária e uma cidadã com carreira própria, que sempre teve intervenção cívica e, a partir de certa altura, política. Então, trabalhei sempre com o PS. Entendemo-nos de forma equilibrada e nunca tivemos conflitos. Agora, neste processo, a convergência implica uma solidez de entendimento, mas também uma percepção de que há necessidade de um alargamento para uma candidatura vencedora. Muitos serão militantes, outros não. Uma candidatura, que poderá ser o que a cidade precisa, terá de ser abrangente com um núcleo central socialista, mas que se abra à sociedade civil, quer à Esquerda, quer à Direita. O Porto não se afirma separadamente da Área Metropolitana, do Norte e do país. A candidatura só terá sucesso se conseguir relançar o concelho.

Fez depender a candidatura de uma maior atenção do Governo à região, porque "ser voluntarista não chega". Já teve essa garantia?

Fiz essa proposta e penso que tem condições para ter uma resposta positiva. Isto passa por entendermos que o progresso do Porto é uma peça fundamental do progresso do país. O Norte sempre foi uma zona por excelência que trazia a Portugal uma abertura ao exterior e uma afirmação do país e da sua capacidade produtiva perante o mundo. E o Porto sempre foi a cabeça dessa dinâmica. Isso tem de ser relançado. Mas é preciso que, dos níveis regional e local, saiam propostas adequadas.

O que aconteceu? O poder central foi subjugando a região ou o poder local não se impôs?

Com a globalização, é muito perigoso anular as diferenças dos diversos espaços do país em função de uma leitura artificial. E perdeu-se a noção de que o essencial era relançar o Norte e o Centro como base produtiva de todo o território. Além disso, o Norte perdeu o protagonismo e o discurso claro sobre para onde queria ir.

Falta uma voz comum ao Norte?

Sim, o que não quer dizer que faltem actores. Há muitos protagonistas e instituições robustas. Faz falta uma região. Há muito que defendo a regionalização. E falta, sobretudo, uma rede que ponha todos num discurso de convergência, perceptível a nível central e que não se desagregue em pequenas vaidades ou rivalidades.

Que papel deve ter a Câmara do Porto nessa rede?

Deve ser fundamental. A situação é, hoje, de muita desagregação. Em Lisboa, não se ouve uma voz clara e harmónica da região. Ela tem muito potencial, mas é preciso refazer a rede e a Câmara é o actor que terá de o fazer.

A propósito do ciclo negativo que a região atravessa, disse que "o dinheiro não resolve, mas facilita".

Temos de evitar facilitismos de discutir tudo com dinheiro, porque dinheiro é aquilo que temos tido. É verdade que fizemos obras muito importantes com os fundos e, hoje, temos uma região razoavelmente infra-estruturada. Por vezes, diz-se que faltou dinheiro para a formação das pessoas. Faltou foi organização e vontade. Agora, temos de passar das pedras para as pessoas e fazer com que a nossa mão-de-obra seja, reconhecidamente, a mais competente.

Esta percepção fê-la avançar?

O Porto está muito fechado sobre ele e mantém a discussão em torno de meia dúzia de temas que já se debatiam há oito anos, como o Parque da Cidade, a Baixa, o Bolhão...Há um potencial muito grande que precisa de ser revitalizado. Toda a gente tem de dar o salto, senão corremos o risco da cidade se tornar irrelevante, como já aconteceu com outras.

A governação de Rui Rio afunilou o discurso político no Porto?

Não me interessa discutir as pessoas. Estarão a fazer o melhor que são capazes. Interessa-me saber se é possível fazer completamente diferente. Recuperar as imagens que temos do Porto, enquanto cidade da Liberdade, do trabalho, da competência, da independência. Será que ainda estamos à altura destes pergaminhos?

O Porto já não é só o território do concelho, mas é também Gaia, Matosinhos e Maia, o que significa que os problemas têm de ser resolvidos com os concelhos vizinhos...

É uma evidência. Mas também não podemos resolver os problemas de toda a área envolvente e esquecermo-nos de que há um coração e que o corpo não funciona sem ele estar activo. O Porto é esse coração. Temos uma Área Metropolitana dinâmica, cujo coração está um pouco esmorecido.

Qual será o envolvimento do PS neste projecto de relançar o Porto?

É importante que haja toda a liberdade para o partido discutir e questionar mas, o pacto comigo tem de ser feito de forma confiante e assumida, em torno de um programa claro e convergente.

O facto de ser candidata ao Parlamento Europeu leva os seus opositores a dizerem que procura uma garantia no caso de perder as autárquicas.

Não tenho essa leitura. No PE, desenvolvo um trabalho muito duro e útil para a região e para o país. Faz sentido, para poder protagonizar uma candidatura ao Porto, largar tudo o que tenho estado a fazer, independentemente daquilo que está em curso e mesmo quando tem clara importância para a região e para o país? Se vier para a Câmara, vou deixar o trabalho que estou a desenvolver porque o Porto é, para mim, mais importante.

Deixará o PE em prol da Câmara?

Se os portuenses confirmarem o seu interesse em que eu venha trabalhar pelo Porto, isso será talvez o ponto mais importante da minha vida profissional, apesar de tudo o que já fiz.

O que está a dizer é que, até agora, não teve um cargo tão importante como o de ser presidente da Câmara?

Essa seria a coisa mais importante da minha vida profissional, sem dúvida, por muito estranho que isto pareça aos meus colegas estrangeiros, que dizem "nós começamos por presidente da Câmara para ir para ministro". Seria o desafio mais importante porque é a minha cidade. E não é o ser presidente, é relançar o Porto.

Uma pergunta que vários socialistas e a própria cidade colocam é se abandona o PE se for eleita.

Sim. Claramente.

E se perder, ficando apenas como vereadora, também deixa o PE?

É um assunto que veremos na altura. Oportunamente, veremos as condições exactas de uma eventual candidatura. Mas se viesse a ser eleita presidente, largava absolutamente tudo para estar aqui.

"O pior é perder tempo com questiúnculas"


Como tem encarado a evolução do projecto do Metro do Porto?

O Metro é um projecto que necessita de ser finalizado naquilo que é fundamental neste quadro comunitário. Quanto à mudança da maioria do capital, fico muito limitada em dizer que os municípios devem ser maioritários. Enquanto ministra do Ambiente, exigi ter uma maioria na Águas do Douro e Paiva por uma questão de eficácia. Tudo depende do entendimento entre o Governo e as câmaras. Creio que há esse entendimento e uma vontade política clara da Administração Central em avançar com o projecto.

O metro na Boavista tem gerado muita polémica. Qual é a sua opinião?

O metro tem que coser a cidade e não me parece que o traçado da Boavista seja o ideal. Pelo contrário, penso que toda a avenida está desconexa e é, hoje, uma marca muito negativa destes desentendimentos permanentes. Este assunto não tem sido tratado de uma forma normal, calma e na base de um entendimento. Eu sempre defendi que o metro ali não funcionava. Não era a melhor solução. A mais adequada seria o eléctrico. O traçado de metro necessita de agregar a cidade e servir as zonas mais populosas, como a linha do Campo Alegre.

Mostra-se optimista quanto ao entendimento entre autarcas e Governo à luz do novo modelo de governação. Mas desde então não tem havido convergência...

É preciso que essa convergência exista. Ninguém está de má fé. O pior que pode acontecer é perder tempo com o vaivém de notícias e de questiúnculas numa altura em que é necessário apressar os projectos, candidatá-los e receber dinheiro de Bruxelas o mais rapidamente possível. É de interesse nacional e dos cidadãos que se acertem traçados e se arranque com a expansão. Face ao estado da economia e à necessidade de não desperdiçar fundos estruturais, não deve perder-se tempo precioso a fazer números para os jornais. Isso é o mais importante.

Acha que essa rapidez é exequível com um calendário para a expansão do metro que vai até 2022?

Claro que é exequível. Um calendário de obras estruturais pode ser a médio e longo prazo. O importante é que a dinâmica de criação dos projectos não conduza a uma dilação temporal que ponha em risco os próprios fundos. Vamos discutir os traçados rapidamente. Este tipo de projectos, por depressa que arranquem, demoram sempre tempo. Era fundamental, portanto, lançar, desde já, um conjunto de outras dinâmicas com mais impacto imediato e sem um caderno de encargos tão exigente que obriguem a um calendário tão diferido.

Relação com Governo não é subserviente


Francisco Assis, vereador e eurodeputado, foi criticado, inclusive pela Concelhia do PS, pela sua ausência. Não receia ser acusada do mesmo?

Do mesmo modo que não sou membro do PS, porque nem sempre consigo ajustar o meu pensamento à normal regra partidária, também a forma como penso não é comparável com ninguém. Farei, na altura, a explicitação do meu contrato com o PS. A seguir, proporei um contrato à cidade.

Terá liberdade para escolher a equipa?

É uma das vertentes do tal entendimento global. A minha leitura é a de que terá de haver um voto de confiança na pessoa e encontrar-se um equilíbrio entre o peso político e a importância do partido e a perspectiva de alargamento.

Se não obtiver maioria absoluta, admite fazer uma coligação?

Daqui a algumas semanas, um mês ou dois, obviamente terei de explicitar tudo isto. O que posso dizer é que tem de ser uma candidatura abrangente em torno de um projecto de cidade.

Tem tido conversações com os partidos mais à esquerda do PS?

Não tenho conversado com partidos, mas com muitas pessoas.

Mas tem falado com responsáveis do PCP e do Bloco de Esquerda?

Sim, dou-me bem com eles . O essencial é termos vontades convergentes vindas de todo o espectro paretidário, de pessoas que querem dar algo à cidade e não apropriar-se de um projecto para irem buscar algo, aproveitando-se de pequenos espaços e poderes.

É fundamental o PS não ir dividido nestas eleições, factor apontado como causa para derrotas anteriores?

Isso é absolutamente fundamental. E, por isso, não considero que, eticamente, deva aceitar, como outras pessoas fizeram e várias vezes me foi sugerido, ser candidata independente. Não o quero fazer e não me ficava bem. Agora, a ser candidata, quero sê-lo do fundo da alma. Tem de ser uma candidatura em que se revejam os socialistas. E que eles sintam. Por esse motivo, não tenho feito chantagem ou pressão. O partido tem feito a sua maturação e eu tenho realizado muitos contactos. Tem sido um trabalho muito interessante. No final, quando me fizerem uma proposta, que os termos e a vontade sejam claros. E que seja uma vontade vencedora.

Apesar de já a ter escolhido e de ser consensual, o PS equacionou outros candidatos como Nuno Cardoso...

É evidente que o unanimismo também não é a solução, mas tem de haver uma clara força de vontade por parte do partido. E tenho tido todos os sinais nesse sentido.

Fernando Gomes seria uma boa solução para a Assembleia Municipal?

Sou muito amiga dele e tive muito gosto em ser sua assessora na Câmara. Foi o grande presidente da Câmara do Porto e será sempre uma grande referência. Ainda hoje olhamos para a cidade e vemos as marcas que deixou. Conto com ele e com o seu apoio. Se esse será o lugar mais adequado, é ainda um assunto extemporâneo.

A Distrital do PSD/Porto considera que "é a candidata ideal" para que Rui Rio possa repetir a maioria absoluta. E que é "sucessora" de Fernando Gomes e Nuno Cardoso porque nunca discordou do rumo seguido. Como lhe responde?

De facto, tenho muito orgulho em não me demarcar da política de cidade de Fernando Gomes. Nuno Cardoso teve um período muito curto e difícil.

Também foi convidada para Gaia. O líder da Concelhia defende, agora, que a candidatura seja apresentada em conjunto com a sua, num sinal de aproximação entre os dois municípios, contrário à relação conflituosa entre Rio e Menezes. Concorda?

A única cidade pela qual estaria disponível para equacionar uma candidatura era o Porto. Em segundo lugar, Porto e Gaia têm de ter uma relação muito estreita e completamente cúmplice. O rio tem de ser factor de união e não de separação. Tem de haver capacidade de discutir projectos.

Um dos pecados da governação de Rui Rio é a falta de articulação com Gaia?

Não há articulação suficiente. Devem ter estratégias convergentes. A requalificação ambiental permitiu a Gaia relançar-se muito e é importante que esses benefícios sejam partilhados pelas zonas ribeirinhas dos dois lados.

Em 2009, há três eleições. O facto do PS ser Governo pode afectar positiva ou negativamente a sua candidatura?

Não faço a mínima ideia de como as coisas vão ser lidas pelos cidadãos. Gostava que a necessidade de relançar o Porto e o Norte fosse o nosso objectivo fundamental. E não o queria ver prejudicado por lutas partidárias, rivalidades ou estratégias políticas. O meu desígnio é que o país se relance, que o Norte volte a ter protagonismo e o Porto seja a capital da região. Como as eleições vão jogar aí? Espero que não se prejudiquem mutuamente, porque pode haver convergências, até ao nível das eleições europeias. Poderei não concordar com todas as linhas seguidas por este Governo, mas fez uma mudança muito grande. Mexeu em corporações e em vícios enquistados.

Há um esforço para mostrar que, no essencial, não diverge de José Sócrates?

Tenho tido uma convergência total, em termos de linhas de fundo, com a política nacional. Considero-me livre de discordar e faço-o com a maior das frontalidades, para bem do país e da região. E penso que a nossa relação é muito saudável porque não é de subserviência, é de respeito mútuo e de solidariedade nas questões verdadeiramente importantes.

"Não vejo necessidade de hostilizar o FC Porto"


É reconhecidamente adepta do FC Porto.

Sou sócia...

E é sabido que as relações entre o actual presidente e o clube são desastrosas. O que mudará se for eleita?

Fui seis anos ministra, vivi oito anos em Lisboa e fui deputada no Parlamento nacional, mas nunca precisei de deixar de me afirmar como portuense nem como portista no exercício das minhas funções. Nunca precisei de passar por metamorfoses. E não vejo necessidade de hostilizar uma entidade como o FC Porto, que prestigia o país. Quer se queira quer não, ao nível desportivo é uma imagem de excelência associada à cidade. Assim como é o trabalho feito por Sobrinho Simões, Mário de Sousa e Quintanilha, ao nível da investigação na área da Saúde. Assim como é a Universidade do Porto, a Casa da Música ou a Fundação de Serralves. Acrescentaria, aqui, o Vinho do Porto. Em Bruxelas, foi tema da exposição que fiz, para dar à minha região e cidade o máximo de visibilidade dentro do Parlamento Europeu. São marcas de excelência e têm de ser respeitadas. Quanto ao futebol, se há problemas tratem-se no espaço certo. Se o Boavista estivesse a afirmar-se no espaço europeu, teria o maior gosto em defendê-lo, e o mesmo digo em relação ao Salgueiros. Tudo o que houver de excelência na cidade, vou dependurar em torno de uma imagem da cidade que tem de afirmar-se além-fronteiras.

Projecto do Rivoli traz dinâmica à cidade


É uma opção correcta colocar a reabilitação da Baixa sobretudo nas mãos dos privados?

A iniciativa privada é um factor fundamental para relançar toda a dinâmica, mas a sua acção tem de ser regulada. É preciso haver uma articulação entre Estado e mercado. Neste momento, também não queria discutir o processo de reabilitação. Há sociedades de reabilitação urbana em várias cidades. É um política muitíssimo interessante e julgo que há grandes margens de progresso para um instrumento com imenso potencial, mas que precisa de ser refinado.

A Maioria PSD/PP tem optado pela privatização de equipamentos municipais por considerar que o privado gere melhor. Concorda?

Confrange-me que o poder local dê essa imagem, até porque, na negociação com a Administração Central para a transferência de poderes, é importante que haja uma prova de que existe capacidade de gerir. A gestão pode ser feita internamente, partilhada ou concessionada. Depende do tipo de projectos. No caso do Mercado do Bolhão, faz-me confusão que a imagem seja de uma incapacidade de gerir: ou se transfere para os privados ou para a Administração Central. Isto fragiliza-nos. Não se dá uma imagem de competência. Parece-me complicado não ter um controlo razoável e competente do modo como se gerem de alguns equipamentos importantes para a cidade.

O mesmo sucedeu ao Rivoli...

Neste caso, interessa mais ver as contas, porque o projecto traz dinâmica à cidade. O problema é ele ser o único. Mas há duas questões que é preciso equacionar: quais são as outras componentes da política cultural que deve ser diversificada e ter muitos públicos. E quanto custa, quanto se ganha e quanto se perde? Isso tem que ser clarificado.

O Porto é hoje uma cidade com menos diversidade cultural?

A dimensão cultural do Porto é uma das componentes fundamentais de uma cidade que seja uma metrópole europeia capaz de dar qualidade de vida aos cidadãos. Para mim, a cultura deve ser um fenómeno muito diversificado. É preciso clarificar o que é cultura e o que é entertenimento, o que é comercialmente rentável e aquilo que uma cidade tem de fazer e que toca, não a parte propriamente rentável, mas o questionar das coisas. O que faz com que os cidadãos pensem. E temos a virtude de no Porto ter algo que não acontece em mais nenhuma parte do país: um mecenato absolutamente único e europeu.

Reuniu-se com o bispo do Porto?

Encontrei-me com muita gente da Igreja. Pedi que falassem comigo, as portas abriram-se, tive gestos fantásticos e senti uma força quase insuspeita. Independentemente da questão religiosa, reconheço à Igreja um trabalho cívico espantoso, ao lado de entidades e de gente que se entrega ao trabalho de solidariedade e se afirma por valores, que os partidos não foram capazes de incorporar.

Perfil
Elisa Ferreira foi ministra do Ambiente quatro anos, no tempo de Guterres, com a dura tarefa de impor a co-incineração, e foi ministra do Planeamento, tendo estruturado o terceiro quadro comunitário. O Douro Património Mundial e as aldeias históricas são outras das suas marcas. Além disso, esta professora universitária, doutorada em Economia, foi vice-presidente da Comissão de Coordenação da Região Norte e da bancada do PS.

6 comentários:

  1. Excelente entrevista e grande candidata, mas era preciso união de pessoas e partidos para retirar o "pastor" de lá.

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  2. "Há meio País a fazer força para que o FC Porto não seja campeão"


    Uma mensagem de confiança absoluta. Na conversa que teve com O JOGO, em jeito de introdução a 2008, o treinador bicampeão fala dos jogadores, do campeonato e até da Champions com um optimismo inabalável, talvez até surpreendente, mas coloca o foco sobre a compreensão que entende ainda faltar a respeito do que realmente é o FC Porto neste momento: uma equipa em perpétua formação.


    Entre o balanço do ano que acabou e a projecção do ano que começa, Jesualdo Ferreira prefere o futuro, até porque não tem o hábito de "olhar para trás" embora seja aí que normalmente encontra os adversários. E, negando o pessimismo generalizado, o treinador do FC Porto olha com confiança para 2009. É lá que espera terminar a construção da sua equipa, depois de já ter ganho os jogadores que precisava para as fundações. De resto, também é lá que espera festejar a Taça, a Taça da Liga e o seu terceiro campeonato consecutivo, apesar da resistência que sente no ar à ideia de um tetracampeão azul-e-branco. Uma entrevista tranquila e desassombrada, dada no coração do Porto entre dois cafés servidos no bar do renovado Vitalis Park, antigo Campo da Constituição, onde o entusiasmo dos miúdos da formação do FC Porto dão razão ao optimismo de Jesualdo Ferreira no futuro.



    Já tem saudades de 2008, ou está ansioso por 2009?

    Não tenho por hábito olhar para trás, portanto, o que me interessa agora é olhar com confiança para 2009 que é quando vamos retomar o nosso percurso nas quatro frentes em que estamos envolvidos. Temos consciência de que somos candidatos às quatro provas que existem no nosso calendário: Liga dos Campeões, Liga, Taça da Liga e Taça de Portugal. Somos o único clube em Portugal nessas condições e, portanto, o que está para trás já é passado e aquilo que nos interessa neste momento são os cinco meses de 2009 que nos faltam para terminar uma época que, para já, nos proporcionou a possibilidade de atingirmos um dos nossos objectivos que era chegar aos oitavos-de-final da Liga dos Campeões. De resto, estamos posicionados em todas as competições de maneira a podermos discutir as vitórias finais. Mas foi um trajecto difícil até aqui chegarmos. Pelo menos, aquele que percorremos durante a primeira parte desta nova temporada. De Janeiro até Maio de 2008, em contrapartida, tivemos apenas dois percalços: um foi a derrota justa na final da Taça de Portugal e a saída injusta nos oitavos-de-final da Champions frente ao Schalke 04. De resto, vencer a Liga com 20 pontos de vantagem foi uma demonstração de poderio e de pujança que não deu margem para dúvidas.



    Esta temporada, em contrapartida tem sido bem mais complicada, nomeadamente com a necessidade de reconstruir a equipa...

    Sim, iniciámos a construção de uma nova equipa com a entrada de vários jogadores que projectam o FC Porto como um clube que tem uma filosofia clara: é um clube formador. E é um clube formador porque tem jogadores nas áreas de projecção e formação, mas também é um clube formador na equipa principal. Termos a humildade de reconhecê-lo é a única forma de podermos evoluir. No mercado actual quem não tiver capacidade para formar e tirar partido dessa formação quer a nível desportivo, quer financeiro, não tem futuro.



    Mas não preferia ter a possibilidade de ter jogadores completamente formados?

    Não e por vários motivos. Porque nenhum jogador formado teria facilidades para chegar ao FC Porto e jogar de imediato, assumindo a filosofia, o processo e os princípios de jogo do FC Porto. Acho que é mais fácil fornecermos esses dados a jogadores novos, com potencial e com qualidade. Por outro lado, os atletas completamente formados com qualidade e capacidade para se imporem de imediato, esses estão muito para além das capacidades financeiras do FC Porto. Que fique claro, então, que o FC Porto é um clube formador, como demonstra a aproximação do plantel principal à equipa de Sub-19 e a criação por nossa iniciativa da Liga Intercalar. Aliás, atendendo à dimensão do nosso mercado, não vejo muito bem que outra forma o FC Porto tenha de competir com as grandes potências mundiais com as quais se confronta na Liga dos Campeões.



    Neste momento, já se percebe uma forma definida no onze e a equipa até já igualou alguns recordes do passado recente. O FC Porto já amadureceu ou está a meio do processo?

    Acredito que esta equipa ainda está à procura de uma identidade. Se é verdade que se percebe que já há aqui uma equipa na linha das que a antecederam, também se percebe que está diferente. Não necessariamente para melhor ou para pior, mas está diferente.



    Em quê?

    É uma equipa que perdeu alguma profundidade ao nível do jogo exterior, perdeu também alguma capacidade para gerir o jogo em relação ao ano anterior, mas em compensação é uma equipa com muito mais potência do que a anterior. É uma equipa que não defende tão bem como a anterior, e não me estou a referir apenas à defesa, mas a toda a equipa. Mas esta equipa não está a defender tão bem como a outra por questões que têm a ver com a adaptação de alguns jogadores e com o enquandramento dos equilíbrios defensivos, que ainda não estão perfeitamente alcançados. É uma equipa que, pela sua potência e capacidade de aceleração do jogo, quando conseguirmos que ela toda o faça em uníssono, acredito que será tão ou mais eficaz do que a equipa do ano passado.



    Disse que já há quem tenha medo que o FC Porto ganhe outro título. A quem se referia? Aos adversários ou aos críticos?

    É preciso esclarecer isso. Alguém disse que eu endureci o meu discurso e que apontava baterias a quem me criticava. Não é nada disso. Ou eu me calo e não respondo às perguntas que me fazem, ou se responder, tenho de ser sério, não posso estar com meias palavras. E assim, ao fim destes quase três anos de FC Porto, percebo que é mais difícil recolher críticas positivas aqui do que noutros clubes. Também percebo que, aqui, para ter reconhecimento e merecer críticas positivas, temos de ganhar muitas vezes seguidas, demonstrando a nossa capacidade para lá de qualquer dúvida razoável ou, às vezes, nada razoável. Em caso de dúvida, o FC Porto, o seu treinador e os seus jogadores são criticados. Apenas quando a qualidade é demasiado evidente, quando os resultados não deixam margem para dúvidas, apenas nessa altura é que pronto, vá lá, com algum esforço, se reconhece qualidade e mérito a esta equipa. E não me digam que não sei do que falo e que não conheço quem são as pessoas que estão na comunicação social. Somos gente que se conhece.



    Sente que a crítica prefere os maus momentos do FC Porto aos bons momentos?

    Sem dúvida e vou mais longe: numa determinada altura desta temporada, o facto de o FC Porto estar mal deu muito jeito e serviu para esconder outras coisas. Quando a equipa começou a ficar melhor, começou a ser um pouco mais aborrecida e eu passei a ser um treinador agressivo. Porque quando perco, até sou um tipo simpático.



    Sente que há uma pressão especial este ano na corrida pelo título pelo facto de haver só uma vaga para a Liga dos Campeões?

    É evidente que anda meio País a fazer força para que o FC Porto não seja campeão. Não sei se é cansaço pelos três títulos do FC Porto, não sei se é por haver só um lugar na Champions, não sei se é porque se fizeram investimentos demasiado ambiciosos ou se é porque algumas pessoas novas têm qualquer coisa para provar, mas sei que há aquilo que posso descrever como uma grande preocupação com a necessidade de alternância democrática no primeiro lugar.



    Disse que o FC Porto está em todas as frentes, mas há responsabilidades diferentes em frentes diferentes, não é assim?

    Claro que sim. Sabemos exactamente quais os objectivos que devemos atingir em cada uma delas. O campeonato, como sempre, é a nossa meta mais importante. Foi sempre importante sermos campeões nos últimos três anos e isso não mudou...



    E o FC Porto é favorito ao título?

    É pelo menos tão favorito como os outros e tem um trunfo importante nas mãos: depende apenas de si próprio para o conseguir. Serão as nossas competências a ditar o campeão e isso dá-nos alguma tranquilidade porque confiamos muito no nosso trabalho.



    Tinha dito que queria terminar 2008 na frente do campeonato, mas não o conseguiu. Qual é o novo prazo?

    Acredito que 24 de Maio, salvo erro. É nessa altura, no final do campeonato, que queremos ser primeiros.





    "FC Porto está sempre no mercado"


    Quanto ao mercado que está quase a abrir...

    Não vou comentar as dezenas de rumores que enchem os jornais todos os dias.



    Mas pode, pelo menos, adiantar se alguns desses problemas na equipa de que falou podem ser resolvidos com recurso ao mercado de Inverno?

    O mercado está aberto e o FC Porto está no mercado. O FC Porto procura sempre melhorar as suas equipas. O que tem é uma política definida em relação a isso. Todos percebemos que o mercado de Inverno não é um mercado rico. Entendemos que, escolher bem, escolhe-se em Junho e Julho. É nessa altura que se formam as equipas e também não concordo que se possam reforçar muito em Janeiro. Desde que os jogadores chegam até que comecem a render, estamos no final da temporada. É um momento em que se podem queimar mais jogadores do que no início da época. A única vantagem é a possibilidade de proceder a contratações cirúrgicas depois de se perceber onde escasseiam as soluções. Mas, para isso, é preciso que haja um trabalho de observação muito cuidado, que haja matéria-prima para o fazer e que haja capacidade financeira para o fazer. Para fazer coisas que não cumprem estes requisitos, mais vale não fazer e resolver os problemas com os recursos que já temos no plantel.



    E também há os problemas das saídas...

    Entradas e saídas são questões complementares e são tão importantes umas como as outras. As saídas podem permitir entradas e permitem evitar a perda definitiva de jogadores que, por uma questão ou outra, não puderam dar o melhor de si.

    O que significa que jogadores como Stepanov ou Bolatti, que são apontados como possíveis dispensas, não são casos perdidos para o treinador do FC Porto?

    Exactamente. Para mim, falhar significa ter oportunidades e não as conseguir agarrar. Não posso dizer que o Stepanov ou o Bolatti falharam ou que não têm capacidade suficiente para jogar no FC Porto porque não tiveram oportunidades suficientes para o demonstrar. Bolatti não falhou. Na última época, o Bolatti não jogou por culpa do Paulo Assunção e este ano, quando entendíamos que o Bolatti poderia jogar, surgiu o Fernando que lhe retirou novamente essa possibilidade. O Stepanov passou por um processo semelhante. Agora, jogadores com as qualidades que ambos têm, precisam é de jogar o que podem fazer com mais frequência noutras equipas. Não são, por isso, jogadores que damos por perdidos.



    Há um problema no lado esquerdo da defesa do FC Porto. É assim tão complicado encontrar um bom lateral-esquerdo?

    É muito complicado encontrar bons laterais, para a esquerda, mas também para a direita. Basta olhar para a Selecção Nacional para o percebermos. Aliás, olhando de relance para os três grandes, percebe-se a dificuldade que existe para conseguir jogadores ao nível das exigências de um lateral. Ora, para mim, como o nome indica, um defesa-lateral é, antes de mais, um defesa. A sua primeira função é defender bem. A maior parte das pessoas, costuma avaliá-los pela sua capacidade para atacar, mas eu não faço isso. Na minha concepção de jogo ofensivo, é importante que os laterais também consigam ser jogadores com capacidades ofensivas. Ora, defender bem e atacar bem não é fácil para jogador nenhum. Depois há mercados, como o Brasil e a Argentina, que potenciam um determinado tipo de lateral que só sabe atacar. E esses não me servem. É verdade que somos mais sensibilizados por alguém que ataca bem, até porque defender é muito aborrecido, mas a verdade é que há defesas que não gostam de defender e isso não pode ser. Aliás, para uma equipa atingir a maturidade precisa de perceber que só consegue atacar bem defendendo bem. Considerando tudo isto, e considerando a especificidade da função do lateral, que tem de defender e de atacar muito bem, é natural que sejam jogadores muito difíceis de encontrar.



    O Benítez preenche algum desses requisitos?

    O Benítez ataca bem, tem noções ofensivas boas, mas que não tinha, sob o ponto de vista defensivo, a estruturação táctica que os defesas na Europa têm de ter. E por isso mesmo sentiu dificuldades na adaptação a essas exigências. Como de resto teve também o Fucile, apesar de já ninguém se lembrar disso. Ele também chegou com 21 anos e não conseguiu fazer de imediato aquilo que é capaz de fazer agora. O Bosingwa também não, também ele levou muitos anos para se fixar a lateral e preencher os requisitos da função.



    E o Sapunaru pode ser um lateral assim?

    O Sapunaru tem condições físicas óptimas, apesar de não ser muito rápido. Não é um jogador de explosão, mas é um jogador de ritmo elevado. Tem ainda algumas dificuldades no posicionamento defensivo e é um jogador que, sob o ponto de vista emocional, se desestabilizou em determinada altura. Mas tem todas as condições para vir a ser um grande lateral. No entanto, o Sapunaru está resguardado, porque tinha de ser protegido. Como outros estão resguardados para poderem escapar às críticas e análises negativas que se fazem permanentemente aos jogadores que entram no FC Porto e não conseguem imediatamente comer a bola.



    Edson, tem estado a jogar como lateral-esquerdo na Académica. Há alguma influência do FC Porto nisso, estão criar uma solução à medida numa barriga de aluguer?

    Não, de todo. O Edson tem 20 anos, é da mesma geração do Fernando e jogou na selecção brasileira a central. Tem excelentes condições físicas para poder vir a ser um bom jogador no futuro e está na Académica ao serviço do seu treinador para evoluir no espaço que lhe for concedido.



    Sem influência do FC Porto?

    Absolutamente nenhuma.



    "Ainda bem que o Hulk é individualista"



    Entre os tais jogadores ganhos, é inevitável falar de Hulk. Há quem diga que o Hulk é quase tanto uma solução como um problema. Sente o mesmo?

    Não, para mim é apenas um solução e uma solução óptima. E digo mais: ainda bem que é individualista. Agora, é preciso perceber que há uma diferença entre ser individualista e ser egoísta e o Hulk não é egoísta. Aliás, nenhum jogador do FC Porto é egoísta e isso é uma vantagem grande da nossa equipa. O Hulk veio para o FC Porto porque revelou ter três qualidades importantes: é potente, é corajoso, capaz de assumir o jogo, e finalmente generoso. Chegou cá a chutar de 30 metros de distância, e 30 metros aqui e no Japão são iguais, a bola é igual, a baliza também tem o mesmo tamanho e os metros que ele percorre em xis segundos também são os mesmos. Essas são as condições que ele trazia com ele. Agora, é verdade que tinha sobre o jogo táctico um conceito diferente do nosso e por isso foi necessário integrá-lo, ensiná-lo a ele a jogar para a equipa e à equipa a jogar para ele, mas sem nunca o fazer perder as suas características individuais. Era uma perfeita idiotice pedir ao Hulk para não correr com a bola, para não chutar, para não enfrentar os adversários, para não correr 30 metros com a bola. Seria uma perfeita idiotice pedir-lhe isso, mas também seria uma idiotice não o integrar nos nossos métodos.



    O Hulk é uma obra inacabada?

    Está muito longe de ser um jogador definitivo e nem sequer é muito fácil prever o que vai ser. Agora, tem todas as condições para se tornar num fenómeno, num verdadeiro fora-de-série. Vamos ver como as coisas vão correr.



    E faz sentido desenhar uma equipa à volta do Hulk?

    Não, não creio. Nem sequer ele tem características para já para ser um líder. Tem condições fantásticas para que a equipa se aproveite dele e para trazer para a equipa situações novas, capazes de criar desequilíbrios importantes. Mas ainda não é um jogador capaz de liderar uma equipa como o FC Porto. E isto não é menosprezá-lo, é defini-lo como aquilo que é de forma clara.



    E, por causa do Hulk, foi difícil convencer o Lisandro a deixar o centro do ataque depois da última temporada?

    O Lisandro é um jogador único. Ele fez uma evolução como avançado - e eu prefiro chamar-lhe avançado a chamar-lhe ponta-de-lança - fantástica nos últimos anos. Se as pessoas pudessem comparar o Lisandro de agora com o Lisandro que chegou ao FC Porto perceberiam as diferenças. É um jogador ímpar, que por tudo o que adquiriu em termos de competências técnicas e tácticas, não pode ser referenciado como um simples ponta-de-lança, é um jogador global. Tem condições excelentes para ser um avançado em qualquer posição do ataque e nem sequer é como ponta-de-lança que se torna mais importante. Ele é importante jogando e jogando sempre. Aquilo que espero dele neste momento não é o mesmo que lhe pedi no primeiro ano, em que jogava encostado à ala. Neste momento, com tudo o que aprendeu na última época, ele conhece todas as acções ofensivas naqueles 68 metros de largura por 50 de profundidade que tem o ataque. E é útil em cada um desses metros.



    Continuando no ataque, o sector parece fixar-se em três jogadores: Hulk, Lisandro e Rodríguez. Este último foi um dos principais alvos de críticas no início da temporada. Acha que neste momento ele já é tudo o que pode ser no FC Porto?

    O Cristian está muito longe do jogador que pode vir a ser. Até porque na própria cabeça dele está algo indefinido o jogador que poderá ser. Há quem diga que ele é forte por fora, há quem diga que ele é mais forte por dentro, há quem diga que ele podia ser um médio interior-esquerdo muito bom. Eu não partilho de nenhuma dessas visões em particular. Acho que tem um potencial enorme, que transmite uma agressividade e uma profundidade ao jogo muito grande, não é um organizador, nem um jogador de passe. É um jogador à procura de identidade que deixa a equipa ainda um pouco na expectativa sobre qual a melhor forma de explorar as suas qualidades. Numa primeira fase começou mais adiantado, agora joga mais atrás. Joga dentro da linha de médios para poder ganhar vantagem nos confrontos individuais, jogando para a frente. Mas continua à procura da sua identidade



    Mas acha-o vítima de alguma forma de ansiedade? Parece demasiado ansioso por provar que vale o que custou...

    Não me parece. É um jogador em fase de afirmação, insisto. É um excelente batedor de livres, como se viu no Estrela. Nem ele sabia disso e vai começar a percebê-lo agora. Já era forte nas bolas paradas e no jogo aéreo e penso que pode ser mais ainda. É um jogador à procura do seu espaço e ele é que vai dar os indicadores de tudo o que pode ser porque, convém lembrar, só tem 23 anos.




    "Sinto-me muito confortável no FC Porto"

    A meio do seu terceiro ano como treinador principal do FC Porto, Jesualdo Ferreira ainda não teve muito tempo para pensar numa quarta temporada, que seria inédita na história de um clube cujas ligações com os respectivos treinadores nunca foram para além de três épocas. "Sinto-me muito cómodo aqui e muito confortável naquilo que estou a fazer", garante Jesualdo para quem a prioridade são os objectivos da equipa a mais curto prazo. "A minha atenção e concentração está virada para os jogos que temos em Janeiro e não tenho tempo para pensar em mais nada. Não tenho nenhuma obsessão. Para fazer o trabalho até ao final do ano, estou muito cómodo aqui, porque gosto de estar no FC Porto. O que vem a seguir, não sei", explicou o técnico.




    "Queremos a Taça de Portugal"


    A Taça de Portugal é uma das prioridades da agenda do FC Porto?

    Sim, e com uma importância acrescida pelo importante prémio monetário que envolve agora. Até que enfim, a prova dita rainha do futebol português é tratada com a dignidade que merece e, como é natural, o FC Porto quer ganhar esse título. A Taça da Liga, sem lhe retirar nenhum do prestígio que já atingiu, ainda é uma competição em fase de afirmação. Será a forma como conseguir evoluir que vai determinar a sua importância a prazo, embora seja nosso objectivo também vencer nessa frente.




    Voltando à Taça, tem sido um objectivo que tem escapado ao FC Porto por entre os dedos nos últimos anos...

    Não só a Taça, as Taças todas, as provas com essas características. Não tenho uma explicação para esse fenómeno. Ou melhor, tenho para a derrota na Taça de Portugal do ano passado. Quando chegámos à final, grande parte da motivação, do espírito colectivo, da capacidade física e da concentração já lá não estava. O Sporting brigou até à última jornada para garantir o segundo lugar, nós fomos campeões a cinco jornadas do fim e isso fez a diferença naquele jogo.




    Sem outros grandes na Taça, as responsabilidades são maiores?

    As responsabilidades são exactamente as mesmas. Até porque temos pela frente o Leixões. E o Leixões é a grande sensação do campeonato. Foi líder com todo o mérito, foi uma equipa que se conseguiu montar em torno do esforço de um director desportivo experiente como é o Vítor Oliveira e que, com o José Mota, formou uma equipa equilibrada, forte e muito competitiva. Tem uma massa associativa muito especial dentro do panorama do futebol português. E depois conseguiu uma coisa notável que foi ganhar cinco jogos fora consecutivos, uma marca que não está ao alcance de qualquer um. No FC Porto, desde que cá estou, fizemos algumas séries de quatro vitórias fora consecutivas, mas nunca conseguimos a quinta. É uma equipa respeitável, vamos defrontá-los num jogo só e teremos de dar o nosso melhor para podermos pensar em seguir em frente.




    Admitindo que não falará de vingança, espera que o mês de Janeiro possa deixar o Leixões mais fraco? Há jogadores do Leixões muito cobiçados...

    O Leixões poderá viver aquilo que todas as equipas médias vivem quando atravessam um período de alguma exaltação. Já começou a passar por isso e vai passar ainda mais. Já começou a ser uma equipa mais observada, mais pressionada e a capacidade para lidar com isso será determinante para a equipa. Como acontece em diversas situações da vida, o mais complicado não é atingir o topo, mas conseguir ficar por lá. Será um teste importante para o Leixões, perceber como vai lidar com a pressão do mercado em Janeiro e até que ponto consegue manter a competitividade para lá do início do ano. O certo é que até agora foi um concorrente importante e uma equipa que nos merece o mais profundo respeito.



    "Quaresma não é melhor jogador no Inter"

    A novela Quaresma complicou-lhe a vida no início da temporada? E acha que ele já se arrependeu de ter ido para Itália?

    Se ele se arrependeu, não sei porque nunca mais falei com ele e não li nenhuma declaração dele nesse sentido ou no sentido oposto. Pessoalmente, foi uma situação que nenhum treinador gosta. Ter um jogador nas condições psicológicas em que ele estava, perante a eventualidade de sair ou não sair por questões que não tinham nada a vez com o treinador, mas com o que são as leis do mercado .




    E atrasou-lhe de alguma forma a preparação da equipa?

    Não, porque, para mim era muito claro: enquanto ele não definisse a sua situação claramente, não era opção e não jogava. Não fazia sentido estar a contar com um jogador e estar à espera de um rendimento que eu sabia que ele não era capaz de dar. Mais do que isso, não iria estar a tapar outros jogadores, limitando-lhes a evolução e a consolidação da própria equipa para gastar energias com um jogador que estava desmotivado e de saída.




    Acredita que Itália foi uma boa escolha para ele, mesmo com José Mourinho na equação?

    O que foi dito por toda a gente é que ele iria para Itália para ser melhor jogador do que alguma vez tinha sido no FC Porto. Espero que venha a ser, mas até agora parece-me claramente que não é esse o caso. Mas quero desejar-lhe a maior sorte do Mundo até porque não vou esquecer nunca importância vital que teve para a conquista dos meus dois primeiros títulos de campeão no FC Porto.



    "Não vou tirar o Lucho só para agradar à crítica"


    Lucho está no centro de algumas críticas e tem sido mais discreto do que é habitual. Disse que ele mudou de funções. Quais?

    No ano passado o Lucho jogava por trás de uma linha de três avançados e, a dada altura da época, em Novembro, passou a ser um jogador de entrelinha, entre o meio-campo e o ataque. Como é um jogador muito inteligente, que percebe o jogo muito bem e que faz tudo o que lhe pedem - e não conheci muitos jogadores deste nível com essa humildade - ganhou uma série de rotinas que a própria equipa lhe permitiu ter. Ora, este ano, o Lucho nunca teve uma equipa estável e essa intranquilidade da equipa transmitiu-se a ele, sendo acentuada depois pela necessidade de uma reorganização táctica. E ele passou a jogar mais como médio interior, com um futebol muito vertical, mais parecido com o que tinha feito no meu primeiro ano de FC Porto. Uma readaptação que lhe custou e que ainda se ressentiu dos maus momentos da equipa, porque ele é um jogador muito sério, que não gosta de perder e que se fortalece com os bons momentos da equipa e enfraquece com os maus. Admito que com o crescimento da equipa registado nos últimos tempos, ele volte ao seu melhor rendimento.




    Há uma crítica recorrente ao facto do professor Jesualdo Ferreira nunca tirar o Lucho de campo...

    Não, não o tiro. Ou melhor, não tenho tirado e não vou tirar apenas porque as pessoas acham que o devo fazer ou para agradar a alguém. A responsabilidade é minha e a decisão também tem de ser minha e como sou eu que decido, enquanto eu entender que o Lucho, mesmo com um rendimento menor, é mais importante para a equipa do que outro jogador, vou mantê-lo a ele em campo.




    O Helton precisava de parar aqueles três ou quatro jogos para voltar ao seu melhor nível?

    Não se tratou disso. Foi um momento menos bom que, infelizmente, coincidiu com um momento menos bom da equipa. Às vezes ficar resguardado algum tempo é bom para todos. E foi bom para o Helton e para a própria equipa. No ano passado, o trajecto da equipa não valorizou muito os jogadores individualmente porque foi tão forte que apagou algumas individualidades. Este ano aconteceu o contrário, e os erros individuais de alguns jogadores tornaram-se mais evidentes especialmente no caso daqueles que no ano anterior tiveram um bom rendimento, como foi o caso do Helton.



    "2009 é um excelente ano para ir longe na Champions"


    Na hierarquia das competições, qual é o lugar ocupado pela Liga dos Campeões?

    Vem logo a seguir ao campeonato na importância que tem para o FC Porto, nomeadamente ao nível do que é o prestígio internacional do clube. Acrescente-se a isso as questões de natureza financeira, que são fundamentais para o clube, e o facto de até para os jogadores ser uma prova importante. Sendo mais curta e muito mediatizada, é uma prova na qual os jogadores apostam muito e onde vão sempre um pouco mais além em termos de entrega.




    Atlético de Madrid parece uma equipa desequilibrada, boa do meio-campo para a frente, mas frágil atrás. Concorda com essa análise?

    Aquilo que tenho visto do Atlético de Madrid tem sido na perspectiva do adepto de futebol, e por isso mesmo tem sido uma observação pouco meticulosa. A partir de agora, terei oportunidade de observá-los de uma forma mais meticulosa, mas aquilo que me parece é que o Atlético tem uma equipa boa com excelentes jogadores. O Atlético de Madrid é uma grande equipa, apesar de viver um pouco na sombra do Real. Mas tem um grande currículo e uma história riquíssima.




    Mas 2009 é um bom ano para o FC Porto ir além dos oitavos-de-final?

    É um excelente ano para tentar ir mais longe, sim. Não me parece que a filosofia do Atlético seja a mesma do FC Porto. Eles investiram muito forte na equipa enquanto nós temos uma filosofia de formação, como já referi. Eles jogam muito no campeonato, mas dificilmente o ganharão, pelo que parte da sua aposta para esta temporada passa por uma boa carreira na Liga dos Campeões onde não é certo que possam jogar na próxima época. Mas o FC Porto tem condições para discutir a eliminatória, até porque venceu o seu grupo.




    Os oitavos-de-final são uma barreira psicológica ou desportiva?

    Creio que o FC Porto só duas vezes conseguiu passar para lá dos oitavos-de-final e numa delas foi campeão europeu. Creio que a frequência com que o FC Porto chega aos oitavos-de-final da Champions integrando o grupo das melhores 16 equipas europeias prova o estofo, o trabalho e a qualidade deste clube. O facto de lhe ser tão difícil ir mais além, prova o enorme fosso que existe entre a capacidade das oito melhores equipas europeias e as restantes onde se integra o FC Porto.



    "Equipa? Para já ganhei alguns jogadores"


    Houve uma fase da temporada em que o FC Porto foi uma equipa muito criticada. Já houve alguma crítica que o tivesse tirado do sério?

    Este ano as críticas foram de facto muitas, foram muito fortes e não pouparam ninguém. Atingiram os jogadores que já cá estavam, os que chegaram de novo e, como é costume, também atingiram o treinador. Quem perceber o que é o FC Porto, e é importante que pelo menos os adeptos do FC Porto percebam isso, porque os críticos têm as suas próprias agendas, mas a família, a nação portista deve perceber o que é o FC Porto e que o FC Porto é isto, é a formação constante. Quando os assobios e a instabilidade se manifestam devem ter uma base pedagógica diferente, porque são jogadores novos que se querem afirmar e que precisam de ambiente para o fazer. O ambiente de exigência competitiva neste clube já é alto, se lhe juntarmos um ambiente hostil social e emocionalmente, não vamos conseguir ter jogadores. E a nação portista precisa de perceber isso.




    Mas ainda assim conseguiu ganhar uma equipa...

    Ainda não. Para já ganhei alguns jogadores. A equipa estamos a construí-la com esses jogadores, capazes de jogar a qualquer momento.




    Entre esses jogadores ganhos, diria que Fernando foi a sua obra-prima?

    Não diria isso, mas tenho de sorrir quando recordo o que diziam do Fernando no início da temporada. Aliás, a dada altura, os críticos disseram que levei muito tempo a escolher o trinco, a perceber que o Fernando era o trinco. Curiosamente o Fernando jogou na Luz na segunda jornada do campeonato, num jogo de grande carga emocional. Jogou ele e o Rolando e o Tomás Costa e o Guarín na segunda parte. Foram corajosos eles e fomos corajosos nós, mas é nesses momentos que se ganham e perdem batalhas e nós ganhámos logo aí o Fernando e o Rolando. E o Fernando só falhou a primeira jornada, com o Belenenses, porque estava castigado. É só um detalhe, mas é revelador da leveza com que é feita alguma crítica. E aquilo que é preocupante para mim é a forma como os adeptos do FC Porto ouvem essas críticas e as tomam como suas.




    Mas houve outros jogadores ganhos desde o início do ano, para além do Fernando e do Rolando...

    Neste momento acho que o FC Porto tem um conjunto de 20 a 22 jogadores que podem entrar a qualquer momento e ser opção em qualquer das quatro competições que vão preencher o nosso calendário.



    ojogo.pt
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    Importante e esclarecedora entrevista do Prof.JF, a merecer divulgação.

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  3. Como já o referi por várias vezes, Elísa Ferreira é a minha candidata e nesta entrevista, ela aborda, de forma clara, o seu pensamento sobre a cidade e o que preconiza para tirar o Porto do marasmo em que "Rio" o colocou.
    Se houvesse qualquer tipo de dúvidas, elas ficaram hoje totalmente dissipadas.
    Um abraço

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  4. Caro Vila Pouca,

    O meu "cepticismo" não é com Elisa Ferreira, é com o partido. Os dirigentes partidários castram muitas das boas intenções de alguns dos seus melhores elementos.

    Receio que com Elisa Ferreira aconteça o mesmo. Convém não esquecer que é o PS quem está no Governo que não tem primado por descentralizar o Poder mais que o PSD ...

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  5. Dentro do limitado leque de escolhas para candidatos à presidência da CMP, Elisa Ferreira parece uma boa escolha. Pessoalmente não fiquei super entusiasmado com a entrevista. Tem trechos em que parece candidata a lider da região Norte e não à presidência da câmara. Aliás até penso que estaria mais talhada para a primeira daquelas funções, dada a visão larga do seu raciocínio, mais adaptado à dimensão de uma região do que espartilhado nos limites de uma cidade. Refere-se aos problemas do Bolhão ou do Parque da Cidade com um certo desprezo, como se fossem causas menores. Acha a região suficientemente infra-estruturada e quer dedicar-se à educação, como se um município pudesse ter capacidade para contrariar o desastre educativo com epicentro nos "técnicos" incrustrados no ministério em Lisboa. Parece aprovar as decisões do governo quanto ao andamento e cronograma do Metro do Porto.
    Mas não me interpretem mal. Elisa Ferreira seria a candidata, nas circunstâncias actuais, em que eu votaria se ainda votasse no Porto.
    Um último ponto, para dar razão ao comentário do Rui Valente. A distrital do PS ainda não deu o seu amen a Elisa Ferreira e tenho a certeza que não verá com bons olhos uma candidata que não possam manejar como se fosse uma marioneta. Se começarem a pôr muitos condicionalismos para a aceitarem, Elisa Ferreira é mulher para bater com a porta e continuar calmamente no PE. Azar para o Porto que veria aumentar as probabilidades de ter mais um mandato de pesadelo com o actual presidente.

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  6. Elisa,não era a candidata ideal?
    Provavelmente.

    Mas que representava umagrande mudança isso representava.

    Força Elisa.

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