Indiferença e ignorância
São dois factores que têm sido cuidadosamente preservados pelo poder central, na medida em que constituem poderosas armas (camufladas) na luta contra a regionalização. Foram fundamentais em 1998 e tornarão a sê-lo no próximo referendo.
O resultado negativo de 98 não foi devido, como nos quiseram fazer crer, ao mapa que então foi proposto. Houve causas mais profundas que explicam uma abstenção de 51,7% e os 63;6% dos votos no NÃO. Então como agora, a indiferença de muitos, potenciada pela falta de entusiasmo que grande parte dos portugueses sente pelos referendos, originou que mais de metade dos eleitores inscritos se tivesse alheado de votar. Quanto à derrota do SIM, ela foi mais uma derrota por ignorância do que por convicção, o que poderia ter sido ultrapassado se tivesse havido uma honesta campanha de esclarecimento. Permito-me recuperar parte do comentário que escrevi logo a seguir ao referendo.
Um dia a regionalização será apresentada não como uma luta entre partidos políticos, entre direita e esquerda, mas como um sistema mais eficiente e mais justo de organização político-administrativa.
Um dia os políticos que dizem patrocinar a regionalização vão querê-la realmente, e não fazer de conta que a querem, e então explicarão aos portugueses, com conceitos símples e exemplos concretos tirados do dia-a-dia, quais as vantagens daí resultantes, conduzindo uma campanha de comunicação bem idealizada, viva e convincente.
Um dia se discutirão várias hipóteses de mapas das regiões e, com referendo ou sem referendo, se fará uma escolha que, na impossibilidade satisfazer toda gente, terá o consenso de uma maioria.
Um dia os políticos que se dizem a favor da regionalização não puxarão dos seus galões para ordenar aos mais entusiastas que se deixem de "berrarias" e não limitarão os argumentos a utilizar, sob o pretexto de que não se pode "atacar" Lisboa.
Nesse dia, finalmente, a regionalização triunfará, a descentralização será um facto e a partilha de poder será irreversível.
Hoje, pasados dez anos, já não acredito que esteja próximo esse " um dia" em que a regionalização acontecerá. Até agora não se tem percebido nenhum esforço do governo no sentido de procurar esclarecer os portugueses, a fim de que possam votar em consciência. É verdade que o próximo referendo nem sequer está marcado, mas é tão patente a relutância dos políticos em relação à regionalização (declaradamente na liderança do PSD, disfarçadamente no PS) que infelizmente devemos estar preparados para que aí venha "mais do mesmo". Adicionalmente acontece que esta relutância do poder político não é única, na medida em que a comunicação social, seja por desinteresse seja por subserviência aos poderosos, tem mantido o silêncio sobre o tema, e tem-se abstido de fazer sondagens que permitiriam começar a lançar alguma luz quanto à disposição do eleitorado, sobre a qual há uma completa e prejudicial ignorância.
Conclusão
Na presença de tantos e tão formidáveis obstáculos, dos quais o maior é a falta de vontade e consequente oposição dos principais partidos políticos, a regionalização está em risco de não se materializar. Como regionalista convicto, espero fervorosamente estar enganado e desejo que factos novos, imprevisíveis neste momento, venham alterar profundamente este panorama negativo. Caso contrário, a capital continuará a drenar os recursos do país e a inchar ( até aos 5 milhões de habitantes que alguns recomendam e desejam?) enquanto o resto do território continuará a definhar e pouco a pouco as suas populações terão de escolher entre viver mal ou emigrar.
São dois factores que têm sido cuidadosamente preservados pelo poder central, na medida em que constituem poderosas armas (camufladas) na luta contra a regionalização. Foram fundamentais em 1998 e tornarão a sê-lo no próximo referendo.
O resultado negativo de 98 não foi devido, como nos quiseram fazer crer, ao mapa que então foi proposto. Houve causas mais profundas que explicam uma abstenção de 51,7% e os 63;6% dos votos no NÃO. Então como agora, a indiferença de muitos, potenciada pela falta de entusiasmo que grande parte dos portugueses sente pelos referendos, originou que mais de metade dos eleitores inscritos se tivesse alheado de votar. Quanto à derrota do SIM, ela foi mais uma derrota por ignorância do que por convicção, o que poderia ter sido ultrapassado se tivesse havido uma honesta campanha de esclarecimento. Permito-me recuperar parte do comentário que escrevi logo a seguir ao referendo.
Um dia a regionalização será apresentada não como uma luta entre partidos políticos, entre direita e esquerda, mas como um sistema mais eficiente e mais justo de organização político-administrativa.
Um dia os políticos que dizem patrocinar a regionalização vão querê-la realmente, e não fazer de conta que a querem, e então explicarão aos portugueses, com conceitos símples e exemplos concretos tirados do dia-a-dia, quais as vantagens daí resultantes, conduzindo uma campanha de comunicação bem idealizada, viva e convincente.
Um dia se discutirão várias hipóteses de mapas das regiões e, com referendo ou sem referendo, se fará uma escolha que, na impossibilidade satisfazer toda gente, terá o consenso de uma maioria.
Um dia os políticos que se dizem a favor da regionalização não puxarão dos seus galões para ordenar aos mais entusiastas que se deixem de "berrarias" e não limitarão os argumentos a utilizar, sob o pretexto de que não se pode "atacar" Lisboa.
Nesse dia, finalmente, a regionalização triunfará, a descentralização será um facto e a partilha de poder será irreversível.
Hoje, pasados dez anos, já não acredito que esteja próximo esse " um dia" em que a regionalização acontecerá. Até agora não se tem percebido nenhum esforço do governo no sentido de procurar esclarecer os portugueses, a fim de que possam votar em consciência. É verdade que o próximo referendo nem sequer está marcado, mas é tão patente a relutância dos políticos em relação à regionalização (declaradamente na liderança do PSD, disfarçadamente no PS) que infelizmente devemos estar preparados para que aí venha "mais do mesmo". Adicionalmente acontece que esta relutância do poder político não é única, na medida em que a comunicação social, seja por desinteresse seja por subserviência aos poderosos, tem mantido o silêncio sobre o tema, e tem-se abstido de fazer sondagens que permitiriam começar a lançar alguma luz quanto à disposição do eleitorado, sobre a qual há uma completa e prejudicial ignorância.
Conclusão
Na presença de tantos e tão formidáveis obstáculos, dos quais o maior é a falta de vontade e consequente oposição dos principais partidos políticos, a regionalização está em risco de não se materializar. Como regionalista convicto, espero fervorosamente estar enganado e desejo que factos novos, imprevisíveis neste momento, venham alterar profundamente este panorama negativo. Caso contrário, a capital continuará a drenar os recursos do país e a inchar ( até aos 5 milhões de habitantes que alguns recomendam e desejam?) enquanto o resto do território continuará a definhar e pouco a pouco as suas populações terão de escolher entre viver mal ou emigrar.
Visão realista, caro Rui Farinas, que logo me sugere esta velhinha pergunta:
ResponderEliminara multifuncional «Democracia» resolve-nos o problema? Em termos práticos,que diferença faz da ditadura de Salazar?
Meu caro Farinas, a regionalização tem de fazer parte do programa eleitoral dos partidos de poder, que vão concorrer às eleições. Se não fizer, se não ficar expresso e como promessa para cumprir, então nós devemos tirar as consequências e virar-nos para outro lado.
ResponderEliminarUm abraço
Mas meu caro Vila Pouca,de promessas eleitorais não cumpridas já todos estamos fartos. Concordo que devíamos virar-nos para outro lado,mas para onde? Se fossemos uma região unida,todos nos devíamos abster a todas as eleiçôes até a regionalização se concretizar,e isso teria um impacto tremendo. Tenciono fazer isso mesmo como gesto de protesto,mas o resultado prático...
ResponderEliminarPeço desculpa por ter esquecido de deixar um abraço. Aqui fica ele agora.
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