17 abril, 2009

Porque não haverá regionalização ( III )

Indiferença e ignorância

São dois factores que têm sido cuidadosamente preservados pelo poder central, na medida em que constituem poderosas armas (camufladas) na luta contra a regionalização. Foram fundamentais em 1998 e tornarão a sê-lo no próximo referendo.

O resultado negativo de 98 não foi devido, como nos quiseram fazer crer, ao mapa que então foi proposto. Houve causas mais profundas que explicam uma abstenção de 51,7% e os 63;6% dos votos no NÃO. Então como agora, a indiferença de muitos, potenciada pela falta de entusiasmo que grande parte dos portugueses sente pelos referendos, originou que mais de metade dos eleitores inscritos se tivesse alheado de votar. Quanto à derrota do SIM, ela foi mais uma derrota por ignorância do que por convicção, o que poderia ter sido ultrapassado se tivesse havido uma honesta campanha de esclarecimento. Permito-me recuperar parte do comentário que escrevi logo a seguir ao referendo.

Um dia a regionalização será apresentada não como uma luta entre partidos políticos, entre direita e esquerda, mas como um sistema mais eficiente e mais justo de organização político-administrativa.

Um dia os políticos que dizem patrocinar a regionalização vão querê-la realmente, e não fazer de conta que a querem, e então explicarão aos portugueses, com conceitos símples e exemplos concretos tirados do dia-a-dia, quais as vantagens daí resultantes, conduzindo uma campanha de comunicação bem idealizada, viva e convincente.

Um dia se discutirão várias hipóteses de mapas das regiões e, com referendo ou sem referendo, se fará uma escolha que, na impossibilidade satisfazer toda gente, terá o consenso de uma maioria.

Um dia os políticos que se dizem a favor da regionalização não puxarão dos seus galões para ordenar aos mais entusiastas que se deixem de "berrarias" e não limitarão os argumentos a utilizar, sob o pretexto de que não se pode "atacar" Lisboa.

Nesse dia, finalmente, a regionalização triunfará, a descentralização será um facto e a partilha de poder será irreversível.


Hoje, pasados dez anos, já não acredito que esteja próximo esse " um dia" em que a regionalização acontecerá. Até agora não se tem percebido nenhum esforço do governo no sentido de procurar esclarecer os portugueses, a fim de que possam votar em consciência. É verdade que o próximo referendo nem sequer está marcado, mas é tão patente a relutância dos políticos em relação à regionalização (declaradamente na liderança do PSD, disfarçadamente no PS) que infelizmente devemos estar preparados para que aí venha "mais do mesmo". Adicionalmente acontece que esta relutância do poder político não é única, na medida em que a comunicação social, seja por desinteresse seja por subserviência aos poderosos, tem mantido o silêncio sobre o tema, e tem-se abstido de fazer sondagens que permitiriam começar a lançar alguma luz quanto à disposição do eleitorado, sobre a qual há uma completa e prejudicial ignorância.

Conclusão

Na presença de tantos e tão formidáveis obstáculos, dos quais o maior é a falta de vontade e consequente oposição dos principais partidos políticos, a regionalização está em risco de não se materializar. Como regionalista convicto, espero fervorosamente estar enganado e desejo que factos novos, imprevisíveis neste momento, venham alterar profundamente este panorama negativo. Caso contrário, a capital continuará a drenar os recursos do país e a inchar ( até aos 5 milhões de habitantes que alguns recomendam e desejam?) enquanto o resto do território continuará a definhar e pouco a pouco as suas populações terão de escolher entre viver mal ou emigrar.

4 comentários:

  1. Visão realista, caro Rui Farinas, que logo me sugere esta velhinha pergunta:

    a multifuncional «Democracia» resolve-nos o problema? Em termos práticos,que diferença faz da ditadura de Salazar?

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  2. Meu caro Farinas, a regionalização tem de fazer parte do programa eleitoral dos partidos de poder, que vão concorrer às eleições. Se não fizer, se não ficar expresso e como promessa para cumprir, então nós devemos tirar as consequências e virar-nos para outro lado.

    Um abraço

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  3. Mas meu caro Vila Pouca,de promessas eleitorais não cumpridas já todos estamos fartos. Concordo que devíamos virar-nos para outro lado,mas para onde? Se fossemos uma região unida,todos nos devíamos abster a todas as eleiçôes até a regionalização se concretizar,e isso teria um impacto tremendo. Tenciono fazer isso mesmo como gesto de protesto,mas o resultado prático...

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  4. Peço desculpa por ter esquecido de deixar um abraço. Aqui fica ele agora.

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