16 abril, 2009

Rematar bem na Europa, exige-se!

Ainda na ressaca [mal digerida] da eliminação do FCPorto do acesso às meias finais da mais prestigiada competição de futebol do Mundo, vou dedicar o post de hoje ao tema, procurando levantar algumas questões - que tenho como pertinentes -, um pouco fora [espero], do alinhamento habitual destes assuntos.

Se a minha intenção fosse meramente condicionada pela lógica das respectivas realidades dos clubes que ontem se defrontaram, pouco mais teria a acrescentar que os lugares comuns do costume, a começar pela tradicional diferença de orçamentos, e a terminar pela realidade económica entre Portugal e Inglaterra. Mas isso, já toda a gente está farta de saber.

Dito isto, é inútil continuarmos a bater na tecla [realista], de que quem tem mais dinheiro pode comprar os melhores jogadores, mas pode não ter a melhor equipa, etc. Esta conversa, está completamente gasta.

O que gostaria de questionar e partilhar com os muitos leitores que gostam de futebol - e do Futebol Clube do Porto, em particular -, é o seguinte:
  • analisadas as características de cada jogador do plantel do FCPorto, técnicas, físicas e intelectuais, não será possível elevar para patamares mais altos de qualidade as suas performances, mais do que, como espectadores, podemos avaliar?

  • fazendo a pergunta ao contrário, será líquido afirmar que a aparente mais valia das individualidades do plantel do Manchester United, é mais genética do que o resultado de um treino altamente exigente, trabalhado sector a sector?
O que se houve para aí dizer, é que nos métodos de treino do futebol já foi tudo inventado,que é apenas uma questão de estilo, da personalidade do próprio técnico, etc., mas pessoalmente, tenho alguma dificuldade em acreditar nessa argumentação.

Antipatias à parte - porque eu não simpatizo com o rapaz, nem sequer acho que seja melhor do que o Messi -, pelo que nos foi dado saber sobre o Ronaldo [o nosso carrasco de ontem], ele costuma(va) ficar sozinho no campo a treinar, já depois de terminado o tempo regular de treino, o que me leva a acreditar na tese maior exigência, melhor qualidade. Isto, também me parece consensual. Agora, já tenho dúvidas é se teremos prestado a devida atenção a este detalhe.

Vou só dar alguns exemplos, sem querer discriminar ou elogiar em particular nenhum jogador do Futebol Clube do Porto, nem tão pouco armar-me em treinador-blogger. A ideia é construtiva e a intenção também.

Ontem, como noutras ocasiões, foi possível vermos o seguinte: Lisandro Lopez, Mariano Gonzalez e Raul Meireles, falharam oportunidades de golo por manifesta falta de potência no remate. Lisandro é o mais perfeito destes três, mas mesmo assim não marcou, porque atirou fraco. Mariano, seguiu-lhe o exemplo, e o Raul Meireles falha mais vezes do que acerta. Não me interessa agora aqui dissecar sobre os golos já marcados [alguns espectaculares] por qualquer destes jogadores, mas apenas questionar se podiam ou não ser melhoradas as vertentes técnicas dos jogadores neste aspecto.

Vou-me fixar no Raul Meireles, que é um jogador com muito potencial, mas que é capaz do melhor e do pior no mesmo jogo. Na minha opinião, onde ele é melhor, é no passe longo, mas muito desconcentrado no curto, passando a bola muitas vezes ao adversário criando arrepiantes situações de perigo à sua equipa. Tem uma natural potencia de remate, mas com má direcção. Neste caso, o exemplo apenas serve para salientar os aspectos em que o nível individual do treino devia incidir, ou seja, aperfeiçoar o remate e os níveis de concentração no passe curto.

O Hulk, é outro caso que merece cuidados especiais. É novo, tem margem para progredir, mas há que atalhar caminho, porque apesar de possuir as tais qualidades natas [pujança física, alguma técnica, velocidade e potencia de remate], já podia ter assimilado melhor a importância do jogo colectivo, até como ponte para explorar mais rapidamente as suas qualidades individuais.

No jogo de ontem, a equipa até foi empenhada e digna, mas notou-se algum cansaço em relação ao de Manchester, o que fazia com que os jogadores chegassem quase sempre mais tarde à bola, quer a defender, como a atacar, pelo que não sei se a gestão dos tempos de repouso foram devidamente administrados, mas não é aí que eu quero chegar, porque se a facilidade e qualidade de chuto fosse genericamente mais apurada, talvez pudesse chegar e sobrar para marcar uns dois golos e passar a eliminatória!

Este, é um problema recorrente, principalmente nos jogadores portugueses. Já há muitos anos escrevi num jornal sobre o assunto, e ele ainda se mantém. O jogador português [e não vale lembrar-me que o golaço do MU, de ontem, foi marcado por um português], nunca se deu bem - e francamente, não percebo porquê -, a rematar forte, de primeira, e sem preparação. Se calhar, é por isso que os melhores marcadores do nosso campeonato são quase todos estrangeiros... E se calhar é por isso, que Roneys e Tevez não falharam as parcas oportunidades que tiveram em Manchester num jogo que o FCPorto dominou!

O que eu pretendo destacar é isto: será assim tão complicado aperfeiçoar os nossos jogadores naquilo que eles têm de melhor, e corrigir o que têm de pior, para competições europeias? Estaremos nós seguros que, sem fazermos "um pouco" mais do que os outros, incluindo os métodos de treino, poderemos repetir o sucesso de 2004, quando, a este nível, temos quase sempre de nos bater com os Golias do futebol Mundial?
É que, se não encontrarmos esses atalhos de evolução técnica e física, corremos o risco de continuarmos a sentir o sabor amargo do pouco. Como ontem.

4 comentários:

  1. Rui, ou se tem talento ou não e quando no F.C.Porto ou noutro clube português, aparece alguém com talento, os grandes da europa vêm aqui e levam-nos - exemplo: Anderson, Nani, C.Ronaldo, etc. E isso é que faz a diferença, a capacidade económica e financeira que esses clubes têm e os nossos não.

    Trabalhar o remate à baliza todos os treinadores fazem e muito - assisti a centenas de treinos, desde Pedroto até ao 1º ano do Mourinho, e todos trabalhavam essa área. Agora, alguns, por muito que treinem, nunca vão atingir os patamares das grandes vedetas. E isso faz parecer que nos Manchesters, se trabalha melhor, quando não é verdade.

    Veja bem: se o F.C.Porto pudesse manter o Bosingwa, R.Carvalho, Deco, Quaresma, Anderson, Pepe, Luís Fabiano e mais os que temos, tinha a melhor equipa da europa e já não se falava de certas coisas.

    São os grandes jogadores, que nos grandes jogos, fazem a diferença e nós quando os fabricamos, temos de os vender...que é o que nos vai permitindo fazer estas flores.

    Um abraço

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  2. Okey Vila Pouca, mas, não admite que o talento possa ser cultivado?
    Bem vistas as coisas, todos nós temos talentos escondidos e se calhar não sabemos, ou não temos quem os saiba explorar, não concorda?

    Também sei que os treinadores treinam o remate, mas a questão que eu levanto é esta: será que o fazem todos da mesma forma e durante o mesmo tempo? O treinador que mais me convenceu nessa aspecto (treino do remate), foi o Robson, porque fazia repetir uma data de vezes o mesmo exercício até os jogadores fazerem o que ele queria.
    Agora não sei. Mas que é um defeito antigo muito português, isso não há dúvidas.

    Você fala de grandes jogadores que perdemos, por não os podermos manter e por necessidade de gerar receitas - muito bem -, mas qualquer um dos que refere:

    «Veja bem: se o F.C.Porto pudesse manter o Bosingwa, R.Carvalho, Deco, Quaresma, Anderson, Pepe, Luís Fabiano e mais os que temos, tinha a melhor equipa da europa e já não se falava de certas coisas.»

    tinham essa facilidade, essa rotina, em rematar forte e sem preparar a bola?

    É a este aspecto concreto que me refiro, ou seja, ao treino individual em função das carências técnicas de cada jogador. Mais nada.

    Por outras palavras, haverá um único método de treino credível? A criatividade não terá lugar também para os treinadores de futebol?

    Acho essa realidade um tanto redutora, mas se calhar sou eu que sou um lírico...

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  3. Há talvez uma tecnica muito, muito usada no Basquetebol, que o futebol devia dar maior importancia: A REPETIÇÂO.

    Só é possivel no Basquetebol ter percentagens de lançamentos concretizados muito altas porque se treina o lançamento milhares de vezes.

    E o futebol ainda não faz bem isso!

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  4. Pois...

    se um dia aparecer um tipo com novos métodos de treino, com bons resultados, vão chamar-lhe o quê?

    The Special illuminee? The Magic Manager? Ou, apenas alguém que ousou fazer diferente?

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