16 julho, 2009

Hermínio da Palma Inácio

No dealbar de uma manhã de 1969, não seriam ainda 8 horas, encontrava-me no centenário 'Piolho', cidade do Porto, quando chega o Fernando Moura, senta-se ao meu lado, inclina-se e sussurra-me.
-Acabei de ajudar a fugir o Palma Inácio!
Eu que, nos meus 20 anos andava a trabalhar nos preâmbulos do que viria a ser, dois anos depois, 'O Grito do Povo' e que tinha percebido que o princípio vital para lançar um movimento revolucionário anti-fascista era o do rigor absoluto nos cuidados conspirativos, achei a abordagem amalucada, senti os pés molhados com a presumida rega, e como o Fernando piscava tanto os olhos como efabulava revoluções, aquiesci generosamente e não lhe liguei mais patavina.
Podia lá ser, um tipo metido numa operação daquelas, vir dar à língua ao primeiro que encontrasse! Embora conhecesse a muita consideração que ele tinha por mim, se fosse verdade, não era possível pôr-se a badalar sem mais nem menos e ainda por cima no Piolho, lugar particularmente vigiado pelos esbirros da PIDE e outros quejandos!
A verdade é que a meio da manhã, na Faculdade de Letras, a coisa já corria célere e dada como certa. O Palma tinha-se pirado! Mesmo antes do julgamento que decorreria naquela tarde em S. João Novo. E quando a meio da tarde se soube dos 15 anos de prisão sentenciados para uma cadeira vazia, cruzando-me com o filho do juiz presidente do Tribunal Fantoche que era meu colega, não resisti em, injustamente, dizer-lhe das boas. Claro que ele não tinha culpa do pai que tinha e fui contra os meus próprios princípios anti-filonómicos. Mas, com tanta alegria e euforia, nao resisti.
Foi dos dias mais inolvidáveis e marcantes da minha vida, nesse ano de 1969 em que, digamos assim, começava a deixar de ser um puto...
Obrigado Hermínio, por teres nascido e vivido, por te poder ter ouvido contar os teus combates anti-fascistas, por ter podido abraçar há uns anos poucos, por te teres mantido um exemplo de humildade e coerência. E pureza!

(Pedro Baptista, do blogue Servir o Porto)
Pergunta inocente de RoP:
Restará alguma coisa (no PS, e fora dele), da combatividade, do idealismo, da valentia, do inconformismo, da honra, deste socialista que acabou há pouco de nos deixar? Com que olhos veria ele a militância política dos «socialistas» contemporâneos? Talvez daqui a algum tempo possamos sabê-lo.

3 comentários:

  1. Ainda existem alguns, mas agora, até os MRPP, são presidentes da Comissão Europeia!

    Um abraço

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  2. Pois,pois... poucos resistem ao vil metal.

    Abraço

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  3. Nos outros não sei. Mas no PS não existem, de certeza absoluta. Depois do "socialismo de rosto humano", foi o "socialismo de gaveta", e agora é o "socialismo moderno"!

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