08 janeiro, 2010

Regionalização em "strip"

Ainda no Grande Porto, sugiro a leitura de um artigo do economista Daniel Palhares sobre a Regionalização do qual entendo valer a pena reproduzir 2 alíneas [são 10 ao todo]:

Ponto V-Quem é contra
É sobretudo nas cúpulas das elites (políticas, económicas, financeiras, culturais e outras) que se concentram aqueles que,ainda hoje, combatem e atrasam a Regionalização. Isso entende-se. Essas cúpulas têm o Poder na mão, centralizado e próximo. Gostam dele e dele beneficiam. As suas carreiras e interesses estão vitalmente centrados em Lisboa, por onde passa tudo que é importante. Estas são as posições por mero interesse próprio. Outros há que combatem a R. invocando razões aceitáveis e sectorialmente válidas, no plano intelectual e dos afectos. Contudo, na maioria dos casos, é possível sentir, por trás da argumentação, que a situação pessoal convive confortavelmente com o centralismo vigente. Existem ainda - e merecem todo o respeito - posições contrárias à R. que não cabem nestas caricaturas simplificadas. Mas, infelizmente, elas (as caricaturas) representam o essencial do quadro que é contra. Parece-me ser evidente que a R. é do interesse da maioria dos portugueses, a norte, ao centro e a sul. Mas também parece evidente que não é do interesse das cúpulas dos poderes.
Ponto VI-De onde não pode nascer um bom figurino
Precisamente devido ao conteúdo da ideia precedente, não é provável que das cúpulas lisboetas possa vir a sair o figurino da R. de que o país precisa. Não seria impossível, mas seria excepcional. Porque é próprio da natureza humana que essas cúpulas estejam muito mais interessadas no status quo do que em transformações que em nada lhes interessam.
Nesta súmula de ideias sobre a Regionalização estão incluídas outras com as quais não estou muito de acordo, não obstante aconselhe a leitura total a quem adquirir o jornal. Mesmo os termos realistas dos pontos aqui reproduzidos parecem-me demasiado elitistas e contemporizadores.
Por exemplo: o autor escreve - e nós percebemos - que "é próprio da Natureza humana que as cúpulas estejam mais interessadas no status quo do que em transformações que em nada lhes interessam", mas não coloca uma questão que lhe está inevitavelmente subjacente que é explicar se é este tipo de cúpulas [ou elites] que ele pensa que os eleitores procuram quando vão votar...
É que, vamos lá a ver, se é da natureza humana, atingir "democraticamente" os mais altos cargos do Poder para governar mais para causas próprias do que para as do país, com egoísmo e desrespeito por quem lhes conferiu tal direito, será também próprio da natureza humana defender-se de quem a engana e lhe prejudica a vida mesmo que, em último instância, tenha de recorrer à força! Ou, já não será assim?
Com pragamatismos deste modelo, eu não pactuo e só por isso não deixei de ficar algo desconfiado com a autenticidade do artigo, de que até gostei.

5 comentários:

  1. Essa conversa não é novidade e alguns que defendem a regionalização é um sim, mas...há sempre qualquer coisa que não os leva a assumir com clareza, deixando sempre uma margem de manobra para o futuro. São os tais que ntêm medo de queimar os dedinhos...quanto muito queimam a ponta das unhas!

    Um abraço

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  2. Se por algum momento possa ser aceitável falar-se de elites em Democracia, esse momento deveria ser outorgado por maioria de razão aos governados e nunca aos governantes.

    O nosso modelo de democracia, faz precisamente o contrário e a comunicação social também.

    Um abraço

    8 de Janeiro de 2010 14:

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  3. Se o resto do país votasse como os pérfidos lisboetas já havia regionalização há décadas.
    Miguel Duarte

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  4. Estes regionalistas envergonhados,
    e porque não dúbios também. São os
    contra-pesos da balança da regionalização.

    O PORTO É GRANDE VIVA O PORTO.

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  5. Ainda não tive oportunidade de ler o artigo,mas a transcrição que o Rui Valente faz,mostra que há mais gente a pensar como eu,ou seja,que a regionalização não se fará porque aqueles que detêm o poder (basicamente localizados em Lisboa) não estão interessados em abrir mão dele. E quanto a isto,ponto final!
    Quanto a saber se os eleitores votam "neste tipo de elites" (as que possuem o poder) a verdade é que infelizmente a maioria dos votantes vota nos nomes que os partidos lhes poem à frente do nariz. Isto continuará a ser assim emquanto:
    a) não houver mais consciência cívica e política.
    b) não se criarem os círculos uninominais.
    O que,por outras palavras,quer dizer que esta situação de "iliteracia" vai continuar por
    muitos anos e bons.
    Finalmente a pergunta do Rui Valente se não será próprio da natureza humana as pessoas defenderem-se de quem as prejudica. Por um lado a resposta é sim,mas por outro lado a maioria das pessoas parece não ter ainda compreendido o quanto este sistema de governo ultra-centralista as prejudica,e neste caso a resposta é não. Por isso cada vez mais acredito que para que a regionalização possa vingar,é fundamental conscencializar as pessoas das reais vantagens que daí advirão. Sem isso,nada feito.Pessimismo meu? Penso que não,apenas realismo.

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Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...