18 junho, 2010

Esquecer formalismos e procurar novos caminhos

Se há alguém que não se tem preocupado em esconder o seu cepticismo com relação às virtudes da nossa democracia - desculpem-me a imodestia -, esse alguém sou eu. É só vasculhar aqui neste mesmo blogue e não faltarão  diversos posts a comprová-lo. De tal modo, que considero completamente patéticas as citações feitas na imprensa aos discursos do senhor Presidente da República sobre o estado da nação. É-me indiferente. É por isso que acho muita piada àquelas flechinhas dos jornais com o mais e o menos  do que foi dito de relevante por diversas personalidades a respeito de determinado assunto.

Se quiserem saber porquê, eu concretizo. É que, para dizer coisas, estou cá eu e um batalhão de bloguistas por esse imenso espaço que é a Internet, e não recebemos nada por isso. Não é que defenda a lei da rôlha às figuras com altas responsabilidades no país, não me interpretem mal. O que já não suporto e até acho obsceno, é que um Presidente da República se limite a dizer umas palavras de circunstância partindo do infantil pressuposto que por as dizer o Governo e os cidadãos as tomarão em boa conta. 

Dados os poderes ultra limitados constitucionalmente estabelecidos à figura do Presidente da República, o impacto dos seus discursos junto de uma opinião pública racional não resulta mais objectivo do que a inevitabilidade da constatação da perda de alguém que já partiu e que ainda podia estar entre nós. É a velha história da avozinha que morreu. Não entendo portanto a razão pela qual os jornais perdem tempo a escrever sobre os recados ao país [e ao Governo] do Presidente, principalmente se também levarem em consideração a sua personalidade. Cavaco não é um homem de Estado é um carreirista e dá-se bem nesse papel. Não é homem para promover situações que possam comprometer o seu estatuto. Ele, é Presidente da República, e quer continuar a sê-lo até que o prazo dos mandatos se esgote, ponto. Não o chateiem.

É assim, e como é assim, só muito raramente e muito superficialmente, o senhor Presidente se lembrará de falar da crise nortenha e das libertinas discriminações a que está a ser submetido, até porque sabe que foi ele mesmo um dos seus principais mentores. Portanto, poupem-nos por favor à tentativa de relevar o que o senhor Presidente diz, porque, de facto, é irrelevante.

Apesar disso, e do meu pessimismo com a partidocracia, defendo que, quando os partidos políticos não nos representam convenientemente, há que procurar outras formas de representatividade.  A Democracia é sobretudo isso, é a renovação de ideologias e de partidos. E não percebo aqueles que sendo do Norte, que reconhecem a discriminação negativa que nos é movida há longos anos, com as consequências dramáticas que se conhecem, apareçam agora a contestar com receios infundados a pertinência da constituição do Movimento Pró-Partido do Norte. Uns, dizem [surpreendentemente] que o Movimento só pode atrasar o processo de Regionalização como se esse processo estivesse na iminência de avançar e não tivesse sido [há muito tempo],  tácita e constitucionalmente bloqueado. Outros, talvez por absurdo espírito de contradição, alegam que seria suficiente um Movimento cívico, como se já não existissem dezenas deles com  os resultados inconsequentes que se conhecem. Não perceberam, talvez porque ainda não ouviram ou leram o Manifesto do Movimento, que a ideia é mesmo assustar o Poder com mais um Partido a disputá-lo e despertar os partidos da oposição do laxismo em que todos eles se deixaram cair no que concerne à Regionalização. 

Este, não será pois [espero] mais um Partido qualquer. Será um Partido que nasce do inconformismo voluntário, quase espontâneo de toda uma região que está a ser discriminada por uma sucessão de governos centralistas com tiques megalómanos e regionalmente racistas cuja pertinência não deve ser posta em causa por ninguém, muito menos por aqueles que até aqui diziam baixinho não aceitar a condição de portugueses de segunda categoria.  O tempo de espera  e de expectativa expirou.  É chegado o momento de decidirem de que lado querem estar.

   

3 comentários:

  1. Os partidos do arco do poder já estão a ficar com os nervos em franja, porque já receiam que o novo partido vá mexer com o eleitorado! "Os cães ladram e a caravana passa"!

    O que é lamentável é ver (no programa do Porto Canal "Serás") cidadãos do Porto colocar em dúvida, sem saber a génese do nascimento do Partido do Norte, a criação de novo Partido e que vai trazer problemas em vez de soluções para a Regionalização!!!

    Palavras para quê!!! São "artistas" portugueses que não querem que se "quebre" o statos-quo!

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  2. Renato,

    o programa a que está a referir-se chama-se "Será assim tão difícil?".

    É natural que se tenha enganado porque como é um nome comprido acaba por não ficar devidamente visível.

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  3. Totalmente de acordo consigo. Os poderes dados pela Constituição ao PR são do tipo "rainha de Inglaterra",mas o Cavaco é cá uma figurinha...!

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Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...