18 outubro, 2010

O morcón do Zé Povo


O homem vinha suspeitando que se estava a passar algo de anormal com a sua saúde, e decide ir ao médico. Após realizar vários exames, é-lhe diagnosticada uma determinada doença. Chegado a casa, comunica à família:

- Que bom que é, existirem médicos e hospitais!

A mulher, estranhando a euforia do marido, pergunta-lhe:

- Ó homem, tanta admiração só por isso? Já existem médicos e hospitais há muito tempo!

- Pois é mulher, mas agora já posso dizer com toda a segurança que estou doente!

- E o que é que tem isso de especial? O que interessa é começares a tratar da saúde.

O homem, aborrecido com a incompreensão da companheira, responde:

- Tratar da saúde, filha? Para quê? Para gastar dinheiro com a crise que por aí vai? Nem pensar!

- Ó filho, então tu foste ao médico, fizeste exames e agora não te queres curar?

- Para quê, filha? Os portugueses também sabem que o país está doente há mais de 36 anos e não se querem tratar!

- Que comparação, homem! A culpa do país estar como está, é dos políticos que não sabem tratar dele como deve de ser!

- Ai, é? Então por que é que continuam a votar neles? Por que não mudam de políticos?

- Porque os partidos e os políticos são todos iguais, homem!

- Ai sim? Então, por que é que o Povo não cria novos partidos?

- Porque os que já existem dizem que representam o Povo!

- Ó filha, e o Povo ainda acredita?

- Pelos vistos, sim...

- O Povo, é muito burro!

- Ao que parece...

- Então, por que é que o Povo se queixa nas caixas dos super-mercados, em vez de se revoltar ou criar novos partidos?

- Porque isso dá muito trabalho querido, e as telenovelas e os concursos televisivos têm mais piada...

- Ó mulher, então para que serve a Democracia?

- Olha filho, serve para o mesmo que a tua ida ao médico, ou seja: para nada!

- Ah, afinal estás-me a dar razão, não vale a pena tratar-me...

- A tua saúde é diferente, os remédios estão mais caros, há menos dinheiro, mas trata-se da tua saúde. E, ainda há médicos e hospitais...

- Também não deixas de ter razão... Mas, então por que é que eu não consigo ser feliz por ter a Liberdade de afirmar que os nossos governantes são uns incompetentes e uns oportunistas?

- É simples filho, porque essa Liberdade não te dá poder para decidires, só te permite constatares  factos,  observares e... desabafares [por enquanto].

- Estás a ver mulher, porque é que eu achava que devia ficar satisfeito por me limitar a conhecer a minha  doença?

- Estou filho, mas agora tens de ir comprar os medicamentos para ti. O país, esse, está morto, já não tem cura, nem "remédios" que o valham.

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