22 outubro, 2010

Canalha

Um dia, poucos mêses depois do 25 de Abril, ouvi um primo meu, homem corajoso, ex-oficial do exército e combatente medalhado das guerras coloniais, dizer ao meu pai: tio, vou pedir a minha passagem à reserva! O meu pai, pessoa profundamente avessa ao regime de Salazar [e de Cerejeira],  ainda debaixo  dos efeitos eufóricos da conquista da Liberdade, perguntou-lhe porquê. A resposta foi esta: porque não estou disposto a colaborar com canalha!

Nunca me hei-de esquecer do impacto negativo que estas palavras provocaram em mim. Tal como meu pai, estava de corpo e alma com a revolução, pelo que aquela frase curta e seca  me  pareceu excessiva e contra-a-corrente do momento histórico que então se vivia. Na altura não gostei mesmo nada de ouvir aquilo, e só o respeito que sentia pela brilhante carreira militar desse familiar atenuou o efeito daquela resposta.

Decorridos 36 anos de uma Liberdade discutível e de uma Democracia completamente corrompida, sou obrigado a dar a mão à palmatória: o meu primo estava cheio de razão e fez bem em sair do exército. Hoje, não dará a ninguém o pretexto de o misturar com a prole de oportunistas que por aí andam.

Canalha, é o termo perfeito para classificar os indivíduos, que de eleição em eleição, passaram o tempo a mentir aos portugueses, a prometer e não cumprir,  expondo sem escrúpulos e com exagerada arrogância as suas impressionantes incapacidades, sem terem nunca a dignidade de abdicar dos cargos.

No Brasil, pelo menos, sabem pôr a boca no trombone...

5 comentários:

  1. O artigo 6.º, por exemplo, garante que "o Estado respeita na sua organização e funcionamento os princípios da subsidiariedade, e da descentralização democrática da administração pública" o que é seguramente falso, enquanto o artigo 9.º assegura que o Estado deve "promover o desenvolvimento harmonioso de todo o território nacional"
    ________________


    Curiosos o teor destes artigos 6º e 9º da Constituição!!!!!!

    E claro descaradamente por cumprir.

    ResponderEliminar
  2. É por essa e muitas outras razões "constitucionalmente" similares, que considero "canalha" a expressão perfeita para definir esta gentinha. Têm o oportunismo estampado no rosto.

    ResponderEliminar
  3. Canalha, escória, corja, cambada e Azeiteirada se houver mais adjéctivos façam favor.

    O PORTO É GRANDE VIVA O PORTO

    ResponderEliminar
  4. Dragão Maronês24/10/10, 12:08

    Desculpar-me-à, sr. Rui Valente,mas canalha por canalha, sempre será mais suportável aquela canalha que embora nos roube, engane, vigarize e sei lá que mais, ao menos não nos impede que gritemos que nos roubam, enganam, vigarizam, etc.
    O facto de termos agora a canalha que temos, não torna boa a canalha que tivemos e que pelos vistos não incomodava muito esse seu familiar.
    Dir-se-ia que cada um escolhe a canalha que lhe convém. Refiro-me ao seu familiar, óbviamente.

    ResponderEliminar
  5. Caro Dragão Maronês,

    Esse familiar era um militar, e os militares, como sabe, têm um código código ético e disciplinar muito específico, diferente do código civil. Vão para o exército para servir e defender o país seja qual for o regime político. Se eles tivessem de levar em conta o regime político não havia militares. Isto é válido para os muitos civis [como eu] que prestaram serviço nas ex-colónias e não eram colonialistas, mas simplesmente porque nessa latura pensavam que estavam a cumprir um dever patriótico. Creio que aqui haverá poucos que terão fugido a esta "regra" e desses poucos que fugiram e desertaram por suposta consciência política, passados 36 anos de "Democracia" não se têm revelado muito diferentes da "outra" canalha [como você diz]... Antes pelo contrário. São mais hipócritas e desonestos, e valem-se dessa liberdade que você acha [erradamente] que lhe foi oferecida por eles, para poderem fazer o que lhes dana na gana.

    Antigamente, sabíamos o que tínhamos, era uma Ditatura e ponto. Hoje, não sabemos o que temos, porque numa democracia normal esta canalhada já teria prestado contas com a Justiça há muitos, muitos anos.

    Para terminar, e desculpe-me a frontalidade, eu tenho muito respeito e orgulho por esse meu parente,que você nem sequer conhece, mas eu conheço e muito bem. Não é, nem nunca será da estirpe deste grupo de mafiosos! Eu gosto do Teatro no Teatro, não na Política.

    Portanto não misture no mesmo copo quem não conhece. Eu conheço aqueles que nos desgovernam e você também devia conhecer, e não se contentar com esta liberdadezinha caridosa e inconsequente que lhe puseram no prato, se calhar, para o manter abúlico e civicamente pouco interventivo.

    ResponderEliminar

Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...